21 julho 2011

«Flipbook» - de Mark Squires

Com Paz de la Huerta, Elisa Sednaoui, Poppy Delevingne e Anouck Lepère.

FLIP from Mark Squires on Vimeo.

Labirinto


Conheço bem o teu corpo
percorro-o de lés a lés
perdida nos teus recantos
à espera das marés.
Desaguas nos meu lábios
sorvo-te o sal e o mel
borboleta sonhadora
abro em flor na tua pele.
Digo baixinho ao ouvido
colhe-me as pétalas, sim
desatina no enleio
nunca te partas de mim.
Esta paixão que arrebata
e que a razão não entende
às vezes penso que mata
outras vezes que me prende.
E se o limite não cabe
na palma da minha mão
Ama-me assim esta noite
sem disfarce e com tesão!

Anselmo besa a Antonia

Ou isso!

20 julho 2011

O Primaverão puxado a vento


Em mais um belo dia de praia para os padrões do Outono dinamarquês, o mês de Julho continua a exibir um desvio colossal relativamente às expectativas criadas.
Existem rumores (de fontes anónimas, as melhores para o efeito) acerca de um boicote das andorinhas já para o próximo ano, pela reincidência deste logro estival que no ano passado também enviou o Verão propriamente dito para meados de Outubro.
Entretanto, a protecção civil (eu não sou militar) recomenda aos senhores que enfiem os chapéus pelas orelhas abaixo e às senhoras mais optimistas e arrojadas que decidam usar saia neste dia chama-se a atenção para a janela de oportunidade para o uso do melhor underware disponível.

Tradução do amor passado

Só o que vem do coração
amadurece e até pode transformar-se
sem nunca envelhecer
como nós
porque fomos nós
e depois fomos amálgamas de palavras anémicas
pálidas, caídas
a tristeza veste-se de medo,
enverga o mais lívido pano da solidão
que torna ainda mais frio
o colchão duro e estreito de uma cama de solteiro
à volta do teu quarto
paredes infinitamente brancas, infinitas
e as palavras minhas são lâminas já rombas
não cederam ao infinito
não pararam de tentar
e o amor apenas se transformou
numa outra coisa, sim, que nomeio Bonita
calou-se tanto que nos emudeceu
até abrirmos a gaiola da aorta
ao último pássaro azul
já não havia árvore, nem céu, ou ninho
só grades da mais feia teimosia
mas inventei-lhe um diálogo, entre páginas vazias
de nós que não parei de numerar
todos os números mudam e ainda sabem aumentar.

Amor em Saturno

Anoiteceu... Estou enroscada no teu corpo enquanto respiras sobre o meu ouvido. Lá fora posso ver as luzes da cidade e o eterno piscar verde e vermelho dos trilhos... Ao fundo desenha-se o imenso Saturno enquanto rolamos lentamente na sua órbita. A tua mão acaricia-me a barriga e encontra o meu peito, beijas-me atrás da orelha... aninho-me em ti. Procuras-me inspirando o meu pescoço e apertando-me, forte, contra ti. As minhas ancas encontram-te desenhando círculos na tua pele nua e tu estendes-te para mim... Queremos movimentar-nos à velocidade da sombra, refreamo-nos. A tua boca e a minha encontram-se no nada e as nossas línguas dançam ao sabor do desejo. Ficamos assim, perdidos no paladar do nosso amor, encontrados nos aromas quentes da nossa paixão, fundindo-nos derretidos no desejo que nos provoca. Tocas-me a pele nua e percorres as paisagens que sabes de cor até aportares no cais húmido e quente que te recebe e te molha... A minha língua percorre agora a tua orelha, enquanto respiro pesado, indiferente aos meus sons, fixa nos teus. A minha boca desce o teu pescoço, a língua percorre o teu peito e encontro-me com o teu desejo que engulo e exploro à medida que te entregas aos prazeres do porto ao qual chegaste, agora, com a língua... A velocidade da sombra há muito que foi ultrapassada, procurando-nos, impacientes, inconformados de não conseguirmos verdadeiramente fundir-nos, unir-nos... Unimo-nos então no nosso querer, abraço-te, dentro e fora, deslizas-me em ti em velocidade de cruzeiro e deixo-me ir ... levando ondas ao teu navio, fazendo-o baloiçar... Mas continuas a navegar, procurando mais ondas para te embalarem na tua viagem... E enquanto me apertas pela cintura contra ti e te entregas ao momento em que o navio é uma nave e passa para lá de Andrómeda, abraço-te olhando-me lá fora nos anéis de Saturno... como eu sou agora o teu anel que em movimentos quânticos te aperta enquanto te esgotas em mim...

Ana Castella

Vovó Bel canta (?!) «Escravo da Maldade»



Era alta madrugada
E eu cansada da putada,
eu voltava pro meu lar...

Quando apareceu no escuro,
Um criolo com o pau duro,
Que queria me estuprar...

Com um negocio bem grosso,
Era um puta de um colosso,
Ele me mandou pegar...

E me disse que queria,
Que eu chupasse que eu mordia,
Até seu pau levantar...

E eu que nunca tinha dado,
Era um negocio apertado,
Implorei para o negão...

Que parecia um jumento,
Que queria empurrar pra dentro,
Ai meu Deus, que judiação...

Mais o nego sem piedade,
Um escravo da maldade,
Começou a me devorar...

Só para ver se eu tinha medo,
Cutucou meu cu com o dedo,
Deu vontade de peidar...

Nesta hora agente grita,
Peida, chora e vomita,
Tudo aquilo que comeu...

Com as calças arribadas,
Perguntei com voz cansada,
"quem será que me fodeu?"...

Já estava amanhecendo,
Meu cu estava ardendo,
Quando entrei no hospital...

Todo doutor que eu via,
Eu implorava, eu dizia,
Que meu cu estava mal...

Viram meu cu de passagem,
Vai ter que fazer lavagem,
Me fizeram gozação...

Mais que ninguém costurava,
Era meu cu que latejava,
Na sala de operação...
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O OrCa teve tanto dó que odeu:

"coitada da vovó Bel
que esperava um pincel
veio brocha p'ra caiar

caiou-lhe a casa à maneira
pelas frente, p'la traseira
pintou até se fartar

e o negócio funcionou
quando seu cu cutucou
batendo à porta p'ra entrar...

bem, e por aqui fora, que isto nem dá para acabar..."

19 julho 2011

SECRETOS [eu escrevo-te, Jota]



A noite escorre sangue e tempo, ardendo em amor ou simplesmente TU [alguém] me queima o corpo...
Um girassol serve de lareira, à procura de luxúria. Isso eu sei, porque em ti me quero. Aparece a dança, foi à tua dança que eu me perdi, aberta no meio...
Campos silvestres, campos celestes, levantados e loucos na noite que, entretanto, se faz dia. Vociferante, traz a tua cabeça ao cimo dum monte. A tua mão cresce depressa. Posição. Nela cresce a minha, ansiosa pressa, a turbulência íntima que me chama. A unir. O acaso se desmata, onde se enrola a pedra redonda. Em mim, submissa. Que procura o centro. Meu!...
O ar se debruça na atmosfera terna, calma, secreta espelha à boca do tempo e transforma-se.
Sangue ingénuo sobre as lajes, o amor queima. Maldito, que desce para te dar a beber.
Relâmpago!
É preciso ser Sexo para entender as palavras em transe e só aço deve transpirar através delas, infinitamente. Na obscura pele compacta. Exaltadas. Na espuma que pára para me inundar numa torrente inteligente (por aí dentro). Exigente. De mais. Quente. Faminta. Sobre o cru, vale!...
O nu lugar desaparece. Sei que devo escrever aqui todos os aa do acto, as ferragens da roupa que bate contra o texto, numa escrita em vapores, suores, ecos e pancadas de um, no outro, no lugar do outro. Nu tesão lacrado.
Em mente a tua zona. A minha boca escuta. As distorções das leituras, do teu rosto limite além das minhas neblinas, do meu gosto de ser. Expelida nas funduras do precipício ígnio. Génio. Mastro!
Agora sei o que quero saber, sei o que os teus dedos violinos dizem, quando falam, quando me tocam nas loucas costas, no meu cabelo em fogo. Olhando-te. Sorvendo-te. Empurrando-te. Num poder difundido. Na absorção irredutível.
O nosso amor é um caminho de fomes, embrionárias, e todo ele se enrola pelo lado de dentro. Todo ele se consome com o que em ti cresce pelo lado de fora. Dentro e fora. O nosso tempo é um relevo alto. Uma escrita louca, enquanto a minha voz abdicar do silêncio para aqui viver, escrever cada frase é um mundo, mudo aos olhos de quem me lê.
Para ti é sangue concentrado numa metáfora, a centelha. Paixão. Equilibrio. Rapto.
Os sonhos são estúdios severos, laços ateados, expelindo palavras, na minha e na mente de quem em mim se fecha...

Luisa Demétrio Raposo

*15 de Janeiro/2011

Na São valente

(gentil oferta de Paulo Vinhal)

Tentadora

Tentadora.
A oportunidade.
A proposta.
Tentas-me e deslumbras-me
no ruído impessoal
da cidade.
Tentadora a ideia
de te possuir de novo;
a saudade que nos vai
diluindo a vontade
ao longo dos dias.
Tentas-me e partes,
sem que as margens
se beijem loucas e húmidas.
E tentas-me, sempre,
nas palavras sem pudor
que me soletras.

Poesia de Paula Raposo