Só o que vem do coração
amadurece e até pode transformar-se
sem nunca envelhecer
como nós
porque fomos nós
e depois fomos amálgamas de palavras anémicas
pálidas, caídas
a tristeza veste-se de medo,
enverga o mais lívido pano da solidão
que torna ainda mais frio
o colchão duro e estreito de uma cama de solteiro
à volta do teu quarto
paredes infinitamente brancas, infinitas
e as palavras minhas são lâminas já rombas
não cederam ao infinito
não pararam de tentar
e o amor apenas se transformou
numa outra coisa, sim, que nomeio Bonita
calou-se tanto que nos emudeceu
até abrirmos a gaiola da aorta
ao último pássaro azul
já não havia árvore, nem céu, ou ninho
só grades da mais feia teimosia
mas inventei-lhe um diálogo, entre páginas vazias
de nós que não parei de numerar
todos os números mudam e ainda sabem aumentar.
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