19 julho 2011

SECRETOS [eu escrevo-te, Jota]



A noite escorre sangue e tempo, ardendo em amor ou simplesmente TU [alguém] me queima o corpo...
Um girassol serve de lareira, à procura de luxúria. Isso eu sei, porque em ti me quero. Aparece a dança, foi à tua dança que eu me perdi, aberta no meio...
Campos silvestres, campos celestes, levantados e loucos na noite que, entretanto, se faz dia. Vociferante, traz a tua cabeça ao cimo dum monte. A tua mão cresce depressa. Posição. Nela cresce a minha, ansiosa pressa, a turbulência íntima que me chama. A unir. O acaso se desmata, onde se enrola a pedra redonda. Em mim, submissa. Que procura o centro. Meu!...
O ar se debruça na atmosfera terna, calma, secreta espelha à boca do tempo e transforma-se.
Sangue ingénuo sobre as lajes, o amor queima. Maldito, que desce para te dar a beber.
Relâmpago!
É preciso ser Sexo para entender as palavras em transe e só aço deve transpirar através delas, infinitamente. Na obscura pele compacta. Exaltadas. Na espuma que pára para me inundar numa torrente inteligente (por aí dentro). Exigente. De mais. Quente. Faminta. Sobre o cru, vale!...
O nu lugar desaparece. Sei que devo escrever aqui todos os aa do acto, as ferragens da roupa que bate contra o texto, numa escrita em vapores, suores, ecos e pancadas de um, no outro, no lugar do outro. Nu tesão lacrado.
Em mente a tua zona. A minha boca escuta. As distorções das leituras, do teu rosto limite além das minhas neblinas, do meu gosto de ser. Expelida nas funduras do precipício ígnio. Génio. Mastro!
Agora sei o que quero saber, sei o que os teus dedos violinos dizem, quando falam, quando me tocam nas loucas costas, no meu cabelo em fogo. Olhando-te. Sorvendo-te. Empurrando-te. Num poder difundido. Na absorção irredutível.
O nosso amor é um caminho de fomes, embrionárias, e todo ele se enrola pelo lado de dentro. Todo ele se consome com o que em ti cresce pelo lado de fora. Dentro e fora. O nosso tempo é um relevo alto. Uma escrita louca, enquanto a minha voz abdicar do silêncio para aqui viver, escrever cada frase é um mundo, mudo aos olhos de quem me lê.
Para ti é sangue concentrado numa metáfora, a centelha. Paixão. Equilibrio. Rapto.
Os sonhos são estúdios severos, laços ateados, expelindo palavras, na minha e na mente de quem em mim se fecha...

Luisa Demétrio Raposo

*15 de Janeiro/2011

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