Ficção de Betse de Paula - 1988 - 18 min
França tem Bardot e o Brasil tem Brunet!
Nos anos 80, jornalistas encararam emocionante desafio: entrevistar a musa da Playboy. Só que ficam presos no elevador! Quem poderá salvá-los?
Link directo para o filme aqui.
30 julho 2011
Inesgotável
Falar de amor
é inesgotável:
sabes a maresia
e o teu cheiro é sal;
as palavras podem ser
o que nós quisermos.
Eu quero que as palavras
cheirem a ti
e que o teu sabor de maresia
se eleve no horizonte;
para tanto bastando
- no poente -
um doce murmúrio.
Poesia de Paula Raposo
«Adult XXX Superstars»
Já comprei estas bonecas, nos Estados Unidos da América, há alguns anos.
Como estive em arrumações, levei-as a passear até ao jardim e fotografei-as. Elas adoraram.
Como estive em arrumações, levei-as a passear até ao jardim e fotografei-as. Elas adoraram.
29 julho 2011
A piroca pergunta
Será normal eu, pila, de vez em quando ter ciúmes da boca do coiso agarrado a mim? E será legítimo algum receio de um dia me ver substituída por ela na minha função principal?
A prostituta azul (XIV) - Reino da Hipotermia
Ainda bem que Ele me deu dedos frios. Quanto mais frios os meus dedos, mais prazer me dá tocar o calor do Mundo, e mais consigo tocar-lhe o frio, percorrê-lo e conhecê-lo lentamente sem que a dor gelada me faça retirar a mão.
Ainda bem que a minha pele é fria, fria, tão fria que posso abraçar o homem de gelo; fria, tão fria, que, se abraço o homem de gelo, ele se julga quente; fria, tão fria que o homem de gelo se pode sentir capaz de me aquecer. Ainda bem que Ele entregou o meu corpo ao Reino da hipotermia; todos os dias, o meu despertar é um arrefecimento, o frio sente-nos iguais e não me sabe ferir, o calor vem beijar a minha pele que não tem poros, que não sabe respirar e não sabe deixá-lo entrar. Ainda bem que Ele me deu dedos frios, cada ténue raio de Sol, cada pequeno grau no âmago do gelo, me pode confortar.
Ainda bem que a minha pele é fria, fria, tão fria que posso abraçar o homem de gelo; fria, tão fria, que, se abraço o homem de gelo, ele se julga quente; fria, tão fria que o homem de gelo se pode sentir capaz de me aquecer. Ainda bem que Ele entregou o meu corpo ao Reino da hipotermia; todos os dias, o meu despertar é um arrefecimento, o frio sente-nos iguais e não me sabe ferir, o calor vem beijar a minha pele que não tem poros, que não sabe respirar e não sabe deixá-lo entrar. Ainda bem que Ele me deu dedos frios, cada ténue raio de Sol, cada pequeno grau no âmago do gelo, me pode confortar.
28 julho 2011
E os homens também.
Sentado na esplanada, B. vê A. caminhando com ar perdido e acena-lhe para o chamar. A. retribui o aceno com aparente dificuldade e caminha lentamente na direcção do amigo. Sem falar, puxa uma cadeira, deixa-se cair como se tivesse sido baleado naquele momento e fica aparvalhado a olhar para o horizonte, no caso a fachada em ruínas de um prédio do outro lado da rua. B. que lhe conhece os exagerados gestos teatrais a pedirem tortuosas explicações, bebe metade da imperial, agarra meia dúzia de tremoços para ir debulhando como pipocas no cinema e pergunta sem preâmbulos:
– Então, o que foi agora?
A., suspira ruidosamente recuperando vitalidade (mas pouca), estica o braço para colher uma mão cheia de sementes amarelas demolhadas em água e sal, ergue um dedo a pedir uma imperial, ergue outro a pedido de B., espera que o empregado lhe veja os dois dedos no ar e, quando isso acontece, aponta para o copo quase vazio de B.
– Ó pá... – A. interrompe-se para descascar e comer um tremoço, numa sucessão perfeita de movimentos mínimos mas absolutamente eficazes, e, depois de deglutida a semente cozida, continua com ar sofrido: – Não me digas nada... não me digas nada.
B. bebe o resto da cerveja, pensa como era bom se isso resultasse e murmura:
– Se eu não disser nada tu também não dizes?
– O quê?! Estás a rezar ou quê?
– Não. Estava a pensar numa coisa.
– Ah... Quem me dera ser assim, a poder pensar noutras coisas, a poder estar sentado como tu, despreocupadamente, numa esplanada a beber cervejas e a comer tremoços...
– Pois é... – B. mantém-se sério. – Ás vezes, as pessoas nem percebem a sorte que têm em poder estar assim, sentados, numa esplanada a beber cervejas e a comer tremoços... Aliás,...
A. concorda movendo a cabeça em câmara-lenta, com o ar cómico de quem vai desfalecer se continuar a concordar com tanto empenho.
B. olha-o, percebe que A. não o ouve e só espera que ele se cale para desfiar as suas últimas e insuperáveis tragédias, e conclui:
– Aliás, parece-me que há pessoas que mesmo quando estão sentadas numa esplanada a beber cervejas e a comer tremoços não sabem que aí estão e que, se depois lhes perguntarem, negam ou então dizem que só lá estiveram por absoluto altruísmo para acompanhar um amigo, só por isso, e só beberam uma imperial e comeram um tremoço por solidariedade e com muito esforço.
– Pois é... – A cabeça de A. continua a pender e a subir e a pender e a subir como se tivesse ganho autonomia. – Ó pá mas tu nem sabes o que me aconteceu...
– Mas vou saber.
– As gajas são todas iguais. Não há uma que se aproveite.
– Essa é que é uma grande verdade – intromete-se o empregado, que pousa as duas imperiais e, agarrando no copo vazio, declara enfático, antes de se afastar: – Leiam os meus lábios: Ne-nhu-ma! Nem uma, amigos!
B. não comenta, agarra no copo cheio e dá dois goles. A. agarra no seu copo e acompanha-o, depois, a cabeça, logo que a boca se vê livre do copo, volta por motu próprio ao anterior movimento pendular e, por fim, diz:
– É que quando querem alguma coisa de um gajo – "Mas alguém quer alguma coisa de ti?" admira-se o amigo –, não o largam, andam atrás, não descolam, e isto e aquilo, e que torna e que deixa e ronhonhó...
– E re-béu-béu pardais ao ninho...
– Pois é – anui A., pondo na boca todos os tremoços que tem na mão, sem os descascar, uns sete ou oito, que come de boca aberta ante o olhar espantado de B., e, ainda com a boca cheia e a cuspir pedaços amarelos, continua: – Depois de terem o que querem, deixam de nos ligar e um gajo que se lixe!
A. espera que B. concorde mas este, hipnotizado pelo espectáculo amarelo, branco e cor-de-rosa que se desenvolve na boca de A. e arredores, demora a perceber e só depois de um "Não achas?" sibilino e amarelecido de A., replica, sem saber do que está a falar:
– Podes crer.
Satisfeito, A. bebe o resto da sua imperial para empurrar a massa de tremoços e cascas que não tinham sido engolidas ou expelidas como projécteis e conclui:
– É que são todas. As mulheres são todas iguais!
– Mas há umas que são mais iguais do que outras – replica B.
– É, lá isso é – concorda A. imediatamente, sem ouvir, mais preocupado em ser visto pelo empregado e garantir a pronta reposição de cerveja na mesa do que com o rumo da conversa. – Queres outra? É que hoje estão a escorregar que é uma maravilha!
B. diz que sim, que quer, que sim, que estão, e sorri satisfeito, mas com uma ponta de remorso, certo da inevitabilidade de ter de ouvir o que aconteceu a A. mas seguro de que isso só acontecerá quando ele próprio já estiver alcoolicamente preparado para tal.
No teu abraço
27 julho 2011
Está (porno)gráfico o bastante ou é preciso fazer um desenho?
A pornografia, essa sexipédia do adolescente comum, sempre teve um estatuto marginal que, de resto, parece cobrir-lhe bem as partes de fruto proibido e por isso ainda mais apetecível para quem está sedento de aprendizagem de matérias que não se ensinam nas escolas.
Desde a puberdade nós gajos desenvolvemos essa arte da clandestinidade, da ocultação de pecados, e o estimulante exercício mental de improvisar o melhor esconderijo secreto para as Gina ou Weekend Sex acabou por preparar muitos para a idade adulta e respectivas contingências.
Esse é apenas um dos argumentos favoráveis à existência da pornografia que gerações de falsos puritanos têm tentado, sem sucesso, banir dos hábitos de consumo da mesma rapaziada.
Acaba por ser fácil desmantelar a retórica puritana, bastando um nível sofrível de inteligência, um valor residual de bom senso e uma pitada de humor.
Por exemplo: um dos clássicos da argumentação dos contras é o facto de a pornografia fomentar a frustração por recriar proezas fora do alcance do cidadão comum. Pois, pois…
Só faz bem a estes jovens moinantes serem ambiciosos ao ponto de tentarem igualar as tais proezas, de renegarem a preguiça e irem à luta com o máximo de fervor.
Não conseguem imitar o John Holmes no comprimento? Dêem o litro na duração. E se não conseguirem, pelo menos estiveram entretidos a tentar.
Se alguns, coitadinhos deles, ficam frustrados por não darem três minutos quanto mais três seguidas em vez de se motivarem para fazerem melhor na próxima é porque são mesmo assim e a pornografia não passa de mais um filtro para distinguir os incapazes. A vida está cheia disso, coisas muito mais feias e traumatizantes, e a ala conservadora não as tenta erradicar…
Outro clássico do discurso careta é o papão da exploração da sexualidade feminina, reduzindo as actrizes porno a vítimas do sistema, a desgraçadas a quem a vida apanhou literalmente nas curvas e andam ali com enorme sacrifício pessoal e sob coacção.
Mentira, claro está. E quem dera aos cofres do nosso Estado a receita fiscal inerente ao rendimento médio dos profissionais do palco alcova.
Por outro lado, e pegando pelo cliché da exploração do corpo da mulher, blábláblá, esse é tão rebuscado quanto irrelevado pela própria opção de muitas mulheres em evidenciarem precisamente o corpo enquanto instrumento de sedução, seja pelo vestuário ou pela atitude. E ainda temos essa “aversão” estampada na publicidade que reflecte os interesses dos consumidores. Ficamos conversados nesta também.
À falta de argumentos sérios, quem não gosta e preferia que os outros não pudessem ter (pois só come quem quer) tenta em desespero de causa pegar pela estética da coisa ou mesmo pela qualidade dos guiões.
Ah e tal, aquilo acaba sempre da mesma maneira. Pois acaba. E qual seria a alternativa? Começar por aí?
Ah e tal, aquilo acaba sempre da mesma maneira e é uma maneira nojenta. Poizé. Mas em matéria de nojos cada um/a fala por si. Ou o mundo mudou assim tanto e ninguém me avisou?
E no fundo o que está em causa é que toda a gente fala mal de algo que supostamente nunca viu e há imensa dor de cotovelo, tanto entre aqueles que comparam as suas pilitas com os bacamartes dos filmes como entre aquelas que vêem as outras a aviarem quatro ou mesmo cinco (não me peçam para entrar em pormenores ou eu entro mesmo) penises em simultâneo (e não, as mãos não entram nas contas) e elas mal aviam um, sobretudo quando ele bate à porta das traseiras.
Está em causa a hipocrisia do costume, dos que preferem brincar às escondidas do que serem apanhados a gostarem da paródia.
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