Ainda bem que Ele me deu dedos frios. Quanto mais frios os meus dedos, mais prazer me dá tocar o calor do Mundo, e mais consigo tocar-lhe o frio, percorrê-lo e conhecê-lo lentamente sem que a dor gelada me faça retirar a mão.
Ainda bem que a minha pele é fria, fria, tão fria que posso abraçar o homem de gelo; fria, tão fria, que, se abraço o homem de gelo, ele se julga quente; fria, tão fria que o homem de gelo se pode sentir capaz de me aquecer. Ainda bem que Ele entregou o meu corpo ao Reino da hipotermia; todos os dias, o meu despertar é um arrefecimento, o frio sente-nos iguais e não me sabe ferir, o calor vem beijar a minha pele que não tem poros, que não sabe respirar e não sabe deixá-lo entrar. Ainda bem que Ele me deu dedos frios, cada ténue raio de Sol, cada pequeno grau no âmago do gelo, me pode confortar.
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Uma por dia tira a azia