03 agosto 2011

Alma

Chamo-me Alma.
Moro no banco do jardim.
Sou vagabunda.
O teu corpo era a minha casa.

Ponto Quê



No côncavo e no convexo
Não há limite para amar
Há frases que enlouquecem
Na bissetriz do olhar
E se a boca pede mais
Quando o corpo sabe a tanto
A conjunção dum só ponto
Será o teu “quê” de espanto
Não fales, não digas nada
Abafa-te num só grito
Se a vida é uma incógnita
O teu mundo é infinito

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O OrCa é que não pode ver nada que ode logo:

"Estou curioso... Mas como não tive ainda acesso à obra...

e eu cá tão longe, ao sol,
deste «Quê» de se querer tanto
areado qual rissol
tanto «Quê» dá-me quebranto

já nem se me dá o porquê
de tanto sol, tanto mar,
tanto «Quê» que a gente vê
- qual o quê, falta-me o ar....

o «Quê» que em palavra pesa
o «Quê» que passa oscilante
o «Quê» de uma alma acesa
o «Quê» tão perto e distante...

ai o «Quê» assim a medo
titilado com afinco
ai o quê, foi com o dedo?
ora essa, assim não brinco...!"

Uma lição de educação...

... transmitida pelos nossos amigos das Vozes da Rádio (que me chamaram recentemente "compicha de há muitos ânus"): "Vozes da Rádio - em prol de uma educação de excelência!"

02 agosto 2011

Feérico

«Sou um lugar tremendo, um bosque de incertezas alado ao cemitério onde jazem por toda a parte alegrias e tristezas.
Do meu coração, esse pobre amante, roubo-lhe o crânio e o seio palpitante, para que em mim possa revelar nuas afeições femenis, pétala a pétala»


Luisa Demétrio Raposo

Postalinho recebido da Grécia

Por estes dias, há quem se esteja a divertir enquanto nós trabalhamos.

Eloquente

Eloquente é o cheiro
que paira no contorno de mim;
diz, calando,
tudo o que do nada
se adivinha,
como soltando a voz
na maré vazia.
Voltaremos a nós, um dia,
se os beijos se lembrarem
do regresso tardio.

Poesia de Paula Raposo

Quase gémeos das Caldas da Rainha

Comprei estes quase gémeos numa feira de velharias em Buarcos.
O senhor que me vendeu estas pi... peças disse-me: "leva aí dois bonecos que o senhor que os fez, das Caldas da Rainha, já não volta a fazer, porque morreu". Eros e Tanatos, sempre a par...
Agora, pedem meças na minha colecção.

01 agosto 2011

A todo o tempo


Sou de um tempo em que o amor se dizia, mais do que se escrevia, olhos nos olhos da emoção que tanto intimidava na enorme luta que travava com o medo da rejeição.
Sou de um tempo em que a amizade se vivia, mais do que se prometia, mão na mão da força que tanto consolidava a confiança que se depositava sem temer a traição.
Também sou de um tempo em que a paixão acontecia, mais do que se fingia, lábios nos lábios da atracção poderosa que tanto nos acelerava a pedalada do coração.
Sou de um tempo que passava com vontade de avançar vida fora até ao tempo que é agora sem desistir de sonhar.
E por isso também sou de um tempo que ainda está por chegar.

Quem precisa que lhe lavem o carro?

Ele, Aquele, o Tal

E tu surgirás como um eu
dentro de mim
depois subir-me-ás à boca
e eu cantarei
Dentro de mim
desenhar-me -ás um corpo novo
pelos teus dedos
e o entregarás às tuas mãos
depois serás capaz de descer
ao meu ventre
e as chamas hão-de subir
e morar na toca dos meus olhos
Depois afastarás as minhas pernas
pelo lado de dentro
julgando que me vais entrar
pelo lado de fora
e eu dançarei
E tu surgirás como um eu
dentro de mim

A mulher dos seus sonhos

Pena que ela não existe.





Mulheres seminuas esbeltas jogando WoW e bagunceiras? Acorde, amigo.

Capinaremos.com

31 julho 2011

«Salve, V!» - campanha da Summer's Eve



Esta campanha gerou muita polémica.

A Rapariga Vulgar (VII)

(A beleza da meia luz entorpece a banalização das colunas, nunca deveriam existir colunas aqui, onde o estrondo do rosa agudo se faz sentir no verde desmaiado, dois estabelecimentos lado a lado sem qualquer consideração pela harmonia, os seus néons magoam os sentidos de quem passa; magoa-me que tratem as calçadas, a meia luz, as colunas, os semblantes de quem passa, assim. Mais acima, os CTT são um eco vermelho do estrondo de mil garrafas em queda num contentor; roubam-nos a estética, a beleza, o silêncio, também ninguém os quer, somos todos muito feios. "Precariedade não é futuro", assegura-nos o branco sujo, desconfortável, do cartaz; quando se tornou o desconforto assegurador? O castanho baço do cabelo de uma rapariga, no que se assemelha a uma bicicleta sem rodas, confirma: não é futuro, não é futuro, não é futuro! Não há tom mais tom do futuro que o castanho baço. O futuro é o feio, o feio que entra pelos olhos enquanto um homem feio grita pelo feio cão. O feio corta a toda a volta; à noite, todas as noites, das linhas do passeio, varre-se o presente.)


Magoa-me, magoa-me, magoa-me, magoo-me, sim, sou eu. Ontem, queimei-me, acidentalmente, o borrão aceso do cigarro caiu-me numa perna e fiquei a ver aquela dor incandescente, tão mais bonita, tão atroz, tão perfeita e forte e viva e nítida que me apaixonei por ela e esqueci-me das outras. Mas depois foi-se, acabou-se, a beleza é beleza pela sua brevidade atroz, toda a dor que é beleza lhe copia a atrocidade e exige alimento ou esvai-se. Talvez se aquela rapariga, aquela que vejo no passeio, aquela que anda em círculos sem se aperceber - todas as pessoas marcadas pela dor que deixam entrar pelos olhos andam em círculos - talvez se aquela rapariga me magoar, talvez consiga acordar mais um pouco dessa dor de ontem em mim, mais um pouco dessa dor que apaga a outra. Ela entende do que lhe falo, ela entende, eu sei, ela entende porque tem lágrimas de gelo; as lágrimas de gelo são as lágrimas últimas, as que nos cortam para nos avisar que vamos ficar sem lágrimas, para nos avisar que os olhos vão ficar cheios dos restos mortais do coração; são, nos seus impiedosos golpes, o último aviso, a última esperança de redenção; a cara vai ficando marcada desses sulcos cortados pelo gelo; depois de secos, os sulcos, são como fossas na terra, muito feias, onde a água já não passa, fantasmas de rios, lembranças do abandono das carícias suaves de um leito azul. Ela sabe do que falo, a rapariga vulgar, e já a tenho cativa, mostrei-lhe a sua dor nos meus bolsos, estendeu as mãos para receber mais um pouco do que lhe dói, do que lhe dói tanto quando tem como quando lhe falta, abri a porta do carro e deixei-a entrar, temos muita dor para oferecer um ao outro.