Sempre tive jeito para os homens. Das outras.
Não me perguntem porquê. Seja como for, esta faceta da minha personalidade é algo que escandaliza as minhas amigas casadas e causa admiração nas solteiras. Sinto-me bem neste papel – não falo do empréstimo da casa, do arranjo do automóvel, do custo da escolinha do Afonso. Em vez disso, falo de experimentar o novo restaurante Japonês ou de sítios a visitar durante a minha próxima viagem de trabalho.
Mas nem tudo são rosas nesta minha vida. Os jantares em locais remotos ou, quando à vista de toda a gente, sob pretensão de jantar de negócios ou amigos, sem aquele roçar indiscreto de perna na coxa; acabando depois com um adeus prematuro para ele não se enfiar despropositadamente tarde entre os lençóis da Legítima. Às vezes canso-me destas peripécias e tenho vontade de ter algo diferente – mas apenas temporariamente.
Há pouco tempo aconteceu-me uma incrível – conheci alguém, quase por acaso, e a conversa animou-se imediatamente. Em dois dedos, parecia que nos conhecíamos há dois anos. Ele convidou-me para jantar e eu aceitei antes sequer que ele tivesse acabado de formular o convite. Durante o jantar, a conversa fluiu como o vinho, enquanto a comida permanecia quase intocada. Depois disso uma saída, um pé de dança, mais conversa, mais bebidas, uns beijos trocados. Quando o táxi me deixou à porta de casa, “Convidas-me para subir?”, “hoje não, bebi demasiado e já não estou própria para consumo, fica para a próxima”.
A próxima foi poucos dias depois. Convidei-o eu para jantar na minha casa. Jantamos na varanda do meu 3º andar, virada para o mar e o luar numa noite quente. Mais uma vez, o vinho e a conversa fluíram enquanto a comida ficou nos pratos. Falamos de tudo e mais alguma coisa, quando ele diz “por falar em adultério (…)” sem pensar duas vezes, levantei-me e empurrei-o da varanda, atirando também a cadeira onde ele estava sentado, as duas garrafas de vinho vazias, o frapê e os pratos ainda com a comida, enquanto gritava com toda a minha força “não voltes a fazer uma coisa destas!”
Não, não foi assim. Mas por meio segundo foi o que me apeteceu fazer. No entanto, contive-me e disse-lhe “óptimo. Assim não me dás dores de cabeça."