Dona de um par de olhos amendoados, doces como mel, e de uma silhueta escultural no viço da juventude, a Telma morava na Rua da Guiné. Quedava-se longo tempo na varanda do 1º andar da sua casa, apoiada nos cotovelos, as mãos no rosto bonito, ligeiramente inclinada para a frente, olhando a rua.
Deixava antever uma nesga do colo alvo, meio encoberto pela blusa de tecido fino, sedoso, que lhe protegia as duas perfeitas colinas dos seus seios, plantadas na planície ondulada do corpo elegante.
Por entre as frinchas retorcidas dos prumos de ferro forjado da varanda, entreviam-se até aos joelhos, as pernas firmes, que algum artista divino devia ter esculpido e burilado em momento de excepcional inspiração, aconchegadas pela saia que um golpe de vento de vez em quando destapava.
Retribuía com um sorriso disfarçado, os olhares gulosos dos jovens que por ali passavam para a ver.
O João, era de todos o mais afoito. Não resistia aos encantos da Telma e já não conseguia disfarçar a atracção fatal que ela exercia sobre ele. Amiúde circulava por ali, tocando a campainha da bicicleta para lhe chamar a atenção, sorrindo-lhe e acenando um adeus enquanto acelerava rua abaixo.
Numa dessas vezes, sem nunca desviar o olhar da sua amada, montado na veloz bicicleta, galgou o passeio e foi embater fragorosamente no poste de iluminação que ficava em frente à casa dela. Combalido, o João levantou-se, tentou endireitar a roda da frente feita num oito e foi-se afastando a coxear.
Envergonhado, ainda ouviu a Telma dizer-lhe, lá de cima, a rir:
- Já és o terceiro, hoje, que se estampa nesse poste! Mas os outros dois vinham a pé...
Rui Felício
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