28 abril 2012

«Zé Fogaça» - por Rui Felício


O Mário do Vale da Azenha, enviuvara já há uns anos.
Vivia só com a Mariana, sua filha, que era a rapariga mais bonita da aldeia. Fez tudo para que ela não casasse com o Zé Fogaça. Mesmo no dia da boda, já ela estava vestida de noiva, foi ao seu quarto e fez a derradeira tentativa para evitar o casamento. O Zé Fogaça era um mulherengo, já tinha tido um ror de namoros. Andava com elas uns tempos e depois abandonava-as.
Mas o amor dela era muito forte e casou com ele. Já lá iam dois anos e ele sempre a encheu de carinhos. A fama do Zé Fogaça não era mais do que fruto da maledicência da aldeia…
Mas, naquele sábado, ansiosa, lembrou-se das palavras do pai no dia do casamento. Lembrou-se dos mexericos que passavam de boca em boca.
Deu pelo toque das avé-marias na torre da igreja e o Zé Fogaça ainda não aparecera em casa.
Ainda de madrugada, ele saíra de casa. Tinha ido à caça como era costume aos sábados mas, ao contrário do habitual, não regressara pela hora do almoço.
Só quando aquele sol de verão a prumo já não dardejava sobre a aldeia, só quando os seus tons alaranjados prenunciavam a noite é que ela ouviu o velho cão Mondego latir a correr e esgadanhar na porta. Atrás lá vinha o marido com três láparos e uma perdiz à cintura.
Suspirou de alívio, e foi a correr pôr a mesa.
Durante os dois meses seguintes, a chegada tardia a casa do marido, tornou-se um hábito. Calada, a Mariana sofria, chorava, o coração apertado...
O marido regressava sempre só ao fim do dia e as pessoas da aldeia já comentavam que a caça dele era outra! Constava que andava metido com a Carmen, cigana das Carvalhosas de quem se dizia que já tinha estragado alguns casamentos.
Certo sábado, logo que o marido saiu, entrou-lhe pela porta do quarto dentro o Mário do Vale da Azenha, esbaforido, de caçadeira debaixo do braço.
- O teu homem?
- Foi à caça, meu pai. Você sabe que ele sempre vai aos sábados.
- Pois hoje também eu vou à caça!- disse-lhe o pai.
- E que caça!, acrescentou por entre dentes.
- Não me quiseste dar ouvidos quando te casaste com ele. Agora tenho que ir defender a tua honra e a minha que na aldeia o falatório já é insuportável. Até o Senhor Prior na missa já aludiu ao assunto!
Logo que o pai saiu porta fora, a Mariana caiu de bruços na cama e chorou convulsivamente. Não sabia o que mais a afligia. Se o que o pai ia fazer ou se confirmar que o marido a andava a enganar.
Ao crespúsculo, lavada em lágrimas, por trás da cortina da sala, viu finalmente o Mondego a abanar o rabo e a ladrar em louca correria pela quelha acima que vinha do rio.
Logo atrás, o pai e o marido, lado a lado.
Pareciam vir em amena cavaqueira, rindo muito. Afinal, os seus receios eram infundados!
Veio à porta esperá-los, abraçou-os e encheu o marido de beijos.
O Zé Fogaça disse-lhe:
- Vai te preparando! Vais ter uma madrasta! O teu pai vai-se casar com a Carmen! Há meses que ela anda apaixonada por ele e me pede para eu o convencer a casar-se com ela.
E virando-se para o sogro:
- É ou não é verdade, Sr. Mário?
- Sim, é verdade. E além de minha mulher, não te esqueças que ela vai ser tua sogra! E que, pelas leis da Santa Madre Igreja, será como se fosse tua mãe!

Rui Felício
Blog Encontro de Gerações

Um sábado qualquer... - «Rancores»




Um sábado qualquer...

27 abril 2012

A anorexia é uma doença e não deve ser um padrão

A «PLUS Model Magazine» é uma revista de moda para mulheres... mais redondinhas, lidando com as questões do corpo, normas e ditames de beleza impostos sobre as modelos e sobre todas as mulheres e que põem em risco a sua saúde, tanto física como psicológica.
Em Janeiro a revista foi lançada com uma campanha contra os actuais padrões da moda. Deixo-vos as fotos:


"Muitas modelos de moda têm um Índice de Massa Corporal correspondente à anorexia"

"Há 20 anos, uma modelo de moda pesava em média 8% menos do que a média das mulheres e, hoje, as modelos pesam 23% abaixo"

«O que há de errado com os nossos corpos, afinal?!»

"O Shunga japonês" ou "As imagens da Primavera”

Quando há uns anos atrás descobri o Shunga fiquei fascinada. Por essa altura andava eu a recolher imagens de desenhos e pinturas eróticas, sobretudo anteriores ao século XX, com o intuito de fazer um estudo a respeito da representação de conteúdos sexuais e da relação com a sexualidade no dito “Ocidente Civilizado”. Logo me surpreenderam as primeiras imagens de Shunga que encontrei: era qualquer coisa de inteiramente novo. Completamente diferente de tudo o que já tinha visto…

O Shunga, em japonês, “imagem da Primavera”, é uma forma de arte erótica ou, se quisermos, de pornografia, muito difundida no Japão entre os séculos XVII a XX. Supõe-se que tenha tido início no século XI, mas só com a invenção da xilografia alcançou o seu pleno desenvolvimento, na generalidade de forma clandestina, para mais tarde se extinguir com a invenção e difusão da fotografia. Continuo a ler sobre isto, e em busca de artigos que versem a perspectiva que mais me interessa: a dos conteúdos sexuais propriamente.

Pelo menos até ao final do século XIX, o Shunga é “amoral”. Apenas uma forma de arte onde se reúne a estética e a educação sexual num tom de alegria pelo prazer da união dos sexos. Os órgãos sexuais são representados com intenção expressiva e a uma escala desproporcionada, o que, curiosamente, em nada perturba a delicadeza e naturalidade predominantes nas cenas. Mas o que mais me impressionou nestas imagens por relação às da nossa cultura, foi a equidade da preocupação com o prazer sexual do homem e da mulher e a representação de um claro envolvimento emocional do casal, algo que ainda hoje raramente encontro no Ocidente. Porta sim, porta sim, surgem massagens ao ponto G, por vezes detalhadas, e é frequente encontrar-se um homem a foder uma mulher enquanto lhe massaja o clitóris. Na cópula parece um pouco indiferente que seja o homem ou a mulher a estar em cima ou em baixo, quando não, estão de lado ou em posições exóticas, mas as caras voltam-se com frequência uma para a outra, trocando beijos, olhares, expressões… Um aspecto curioso é que no Shunga ainda não encontrei mamadas. Não estou a dizer que não existam… mas a existirem hão-de ser um fenómeno muito raro. Mais frequentes, ainda que não abundantes, são os minetes. Como é evidente, eu não tenho nada contra as mamadas (muito pelo contrário), mas o que é interessante aqui, é o facto de, quaisquer que sejam os conteúdos sexuais, não se transmitir uma ideia de instrumentalização da mulher ou de bestialização do sexo. Algo que ainda hoje é um lugar-comum na nossa cultura: a mulher servida a frio como objecto de prazer num sexo de essência animalesca que amiúde não aparenta ser mais que um embrulho de “carnes” destituídas de “alma” aos tombos pelas valetas da indiferença, da usura, da violência, e da perversidade extrema. Consequência, por certo, de uma mentalidade muito perturbada pela “moralização do sexo”…

… tenho-me perguntado que impacto efectivo na vida sexual dos japoneses terá tido a invenção da fotografia e a globalização da pornografia… por curiosidade, quando tiver tempo tentarei obter uma resposta…

Para quem tiver interesse, está a nascer aqui ao lado... Shunga Virtual Collection

[blog Libélula Purpurina]

Será mesmo um Super Mário?



Tentamos escapar ou fazemos sexo?


Crica para veres toda a história
Mobília


3 páginas (cricar em "next page")

oglaf.com

26 abril 2012

A hora do Conão!


Um programa de entretenimento infantil genialmente concebido no seu alinhamento. Primeiro os miminhos gulosos e só depois a hora do Conão! Faz sentido, não faz?

«respostas a perguntas inexistentes (197)» - bagaço amarelo

uma pedra

Faz cinco anos andava eu a dar pontapés na minha solidão, desses que se dão a tentar enxotar qualquer coisa. Uma pedra da rua, o cadáver duma bola de criança ou uma mola de pendurar a roupa que caiu duma varanda. A solidão, como esses objectos inertes, nunca se afasta o suficiente. Apenas alguns metros. À medida que continuamos a caminhar tornamos a encontrá-los e a pontapeá-los de novo. Sempre para o mais longe possível, que é sempre demasiado perto. É assim a solidão. É assim uma pedra da rua.
Nunca consegui pedir desculpa à Elsa pelo pontapé que lhe dei. Às vezes ainda a imagino caída numa berma qualquer do passeio, à espera doutro solitário à deriva que passe por ali aos pontapés às coisas. E às pessoas. Estávamos num restaurante a beber cerveja importada e ela era bonita. Era também o único ombro de mulher que eu tinha acessível naquela noite. Pousei-lhe a minha cabeça, e depois o corpo. Brandamente, acho eu. O corpo vai sempre atrás de uma de duas coisas: a cabeça ou o coração. Se eu lhe pedisse desculpa agora, dizia-lhe que lamento nunca a ter Amado, mas a sério que tentei. Não consegui.
Despedi-me dela com um "até qualquer dia", que é mesmíssima coisa que dizer "até nunca". Um homem não se despede assim de quem Ama. "Até qualquer dia" é só mais um pontapé certeiro em alguém, até um dia em que talvez surja de novo. Se não surgir, paciência.Um homem que Ama quer sempre levar o número de telefone, uma data em concreto, um olhar certeiro com um beijo daqueles que se prolongam um pouco para além da despedida. Eu não levei nada. Sorri-lhe e virei costas. Até qualquer dia.
Por mais que tente, não consigo perceber porque é que nunca me apaixonei por ela. As mulheres às vezes têm essa capacidade estranha de me afastar. São tão boas que se tornam automaticamente inacessíveis. Como se estivessem num pedestal, ligado a um alarme contra solitários, e se fossem quebrar ao primeiro toque. Dão medo. É isso. Dão medo. Depois penso para mim mesmo que são demasiado frias e afogo a distância num lanche quente duma pastelaria de bairro. Um galão e uma mista, por favor.
Faz cinco anos andava eu a ser pontapeado. Pela Elsa também. Acho que fui o único homem disponível naquela noite e ela lá fez o favor de aceitar. O ombro dela recebeu-me, depois o corpo também. Quando se levantou pegou nas peças de roupa espalhas pelo chão, uma a uma, sempre disfarçando a sua nudez com a pequena toalha de hotel que trouxera para a cama, e foi-se vestir para a casa de banho. Nenhuma mulher apaixonada se vai vestir para a casa de banho. Deixei-me estar. Depois despedi-me com um "até qualquer dia" e ela virou costas sem me beijar. Tenho a certeza que não olhou para trás. Eu também não.
Há bocado fui ver o mar. Às vezes faço isso: vou ver o mar e cumprimento-o da mesma forma que cumprimento o guarda-nocturno do prédio onde vivo. Estão sempre ali no mesmo sítio, ele e o mar, à espera que eu passe por lá. Digo "boa noite" a um e "bom dia" a outro. Bom dia, disse-lhe. Pontapeei uma pedra que foi engolida por uma onda. Talvez seja isso. Talvez o Amor nos vá dando pontapés até simplesmente deixar de o fazer. De um dia para o outro. Assim, sem mais nem menos. Uma pedra.


bagaço amarelo
Blog «Não compreendo as mulheres»

Fruta 81 - Pêssego careca ou não

Encaixe

25 abril 2012

Postalinho de Vila Franca de Xira, com direito a poema e a enquadramento geográfico e histórico

"Para a minha querida São Rosas, a foto mais erótica deste meu fim de semana por terras de Vila Franca de Xira.


'Desliza o poema
por entre água
numa fenda
entreaberta
pela natureza:
cheguei e vi-te.
Poderia sucumbir?'


Paula Raposo"

O Alexandre Carvalho esclarece:
"Secullo XVII, data da construção desta abertura que jorra encosta abaixo, emprenhando as margens da ribeira de Santa Sofia, onde há mais de 3.000 estava estabelecida uma comunidade Fenícia, até se abraçar de prazer nas aguas do velho Tagus."

«Diário de Coimbra» de 2012-04-24 - Arte erótica no Recordatório Rainha Santa Isabel


«Em Abril pachachas mil» - Patife

Desde pequeno que ouço esta expressão e desde que comecei a pinar descobri que é a uma verdade insofismável. Há quem diga que a época mais propensa ao pinanço é o Verão e as suas feromonas em brasa, mas na verdade, o mês de Abril é que mete as chonas aos saltos encarpados. Ou isso ou sou eu que atinjo um pico de sensualidade neste mês que faz o Pacheco atrair pachachas com o mesmo magnetismo que o olhar hipnotizante da cobra atrai as suas presas. Mais uma vez, este ano comprova a minha teoria. Estava eu sentado, entretido comigo mesmo, a ler num café, ainda a descansar das sete horas de grandioso chavascal em chona nortenha, quando levanto o olhar e reparo que não uma mas duas gajas me estavam a observar com ar de devassa-que-já-levava-na-chona-lassa. Uma do lado esquerdo, a outra do lado direito. Como sou um cavalheiro ia respondendo ao olhar de uma e de outra indiscriminadamente, pelo menos até decidir qual é que iria afiambrar. Ainda pensei em ficar com as duas a preço de saldo mas elas estavam nitidamente a disputar-me e havia chamas quando os olhares das duas se cruzavam. Queria olhar para ambas para as comparar mas já estava quase a ficar estrábico. Tive inveja do camaleão. Pudesse eu esquinar as duas ao mesmo tempo sem estarem lado a lado. A da esquerda tinha ar de majestosa cavaleira, sábia dominadora na arte de me cavalgar no bacamarte. A da direita mandava ares de cabra brocheira, com uns lábios muito mais proeminentes do que lhe seria exigido pelas leis do abocanhamento da corneta. Analisei os índices de fodenguice, o glamour ao enrolar o cabelo, a forma como bebiam café, a forma de cruzar e descruzar as pernas, o sorriso e o Pacheco a sete e não me conseguia decidir. Na dúvida, fiz o que qualquer homem de sensibilidade e bom-senso faria: Escolhi a que tinha as mamas maiores.

Patife
Blog «fode, fode, patife»