09 junho 2012

08 junho 2012

New World - «o dia seguinte»

Sorriso com sardas

As palavras queimavam-lhe a garganta, tal como as lágrimas lhe faziam arder os olhos. Calou-se. Primeiro engoliu tudo o que tinha para lhe dizer e calou-se. Depois, secou as lágrimas com as costas das mãos. Enfrentou a dor e a vergonha de tanto lhe doer e cerrou os dentes e os lábios. Engoliu em seco. Tornou a engolir em seco. Mordeu o lábio inferior e suspirou profundamente. A infelicidade de ser quem era naquele momento infiltrava-se por todos os poros e contaminava-lhe corpo e alma. Doía-lhe. Doía-lhe fisicamente. Sentia arrepios de frio e tremores por todo o corpo. Sorriu. Fez um esforço e sorriu. Enfrentou a pena que sentia de si, o seu corpo que vacilava e parecia quer desmoronar-se e o seu ser mais profundo que queria abandonar-se à dor, à inacção, ao desalento e sorriu. Um sorriso forçado, que não passava dos lábios, mas um sorriso.
– Sabe, bem – disse ela, com o sotaque meloso que o derretia desde o primeiro momento em que a conhecera, mostrando-lhe um sorriso complacente, quase maternal, que lhe iluminava o rosto, os olhos, as sardas. – As coisas quando não acontecem é porque não têm de acontecer.
Ele, o bem, esqueceu-se do sorriso, que desapareceu sem deixar rasto, e mostrou em todo o seu esplendor o desgosto que o dominava.
– Eu não acredito no destino – declarou António, que dissera chamar-se Luís. – O destino somos nós que o fazemos, Luísa.
– Heloísa – emendou a mulher, ainda com sotaque mas já sem mel. Não costumava enganar-se nos clientes que abordava mas, naquele caso, parecia-lhe, enganara-se redondamente e perdera vinte minutos como figurante numa encenação manhosa de uma peça muito vista.
– E podemos ser felizes, Heloísa – insistiu Luís enquanto António. – De certeza que podemos chegar a um entendimento, afinal estamos a falar de vinte euros de diferença. Podemos rachar…
– Você assim não racha nada, cara.
– Eu subo dez e você baixa dez e…
– Somos felizes? – A mulher levantou-se.
– Sim – disse o António que falava pelo Luís. – Adoro o teu sorriso com sardas, já te disse?
– Eu só sou feliz quando me pagam o meu preço e sim, já me tinhas dito, há vinte minutos atrás.
Tanto o Luís como o António ficaram embasbacados a olhar para a mulher que, de repente, em pé, perdera o sotaque e seguira sem um adeus embrenhando-se na pequena multidão de homens e mulheres que deambulavam pela sala, eles com cervejas ou copos de whisky na mão, caçadores prestes a ser caçados, e elas com sorrisos e gestos encantadores ou sexualmente explícitos dando ar de presas submissas ou rebeldes, mas todas com ar de quem tem mais do que fazer do que andar por ali a patinhar.

Nenhum dos dois





Meninas WTF

07 junho 2012

As mulheres nunca se esquecem de uma data importante para elas!

«Do meu ponto de picha» - Patife

Confesso que não sou grande fã de mulheres atléticas. Para tonificado já basta o Pacheco. Curvas com a dose certa de flacidez e uma barriguinha ligeiramente proeminente fazem as delícias dos meus sentidos. Além de que a apoteose da essência feminina não anda de mãos dadas com músculos vigorosos e qualidades técnicas superiores em desportos colectivos. Nada de mais turn off que uma mulher que sabe jogar à bola, por exemplo. Foi por isso que alguma dose de enfado quando soube que aquela ganda mamalhuda que me apresentaram na festa era jogadora da bola. Estávamos a conversar amenamente quando, sem pré-aviso, disse de peito cheio, para quem a quisesse ouvir, que era jogadora de futebol. Estremeci mas consegui conter-me. O pior foi quando ela disse que era atacante. Aí não consegui conter-me. É pena… se fosses defesa central, eu estaria sempre à mama. Ela riu-se num ronco meio grunho, pouco sedutor. Bebi de um trago o conhaque que tinha na mão e apressei-me a meter outro na mão. A conversa continuou, não que eu estivesse a prestar grande atenção, até porque estava completamente concentrado naquele par de chuchas a imaginar o Pacheco a mergulhar naquele vasto mamaçal. Mas o facto de ser jogadora de futebol estava a travar-me o ímpeto da fodilhenguice. Do meu ponto de vista talvez fosse mais sensato estar quieto. Mas da minha ponta de picha já não havia volta a dar. Havia apenas foda a dar.

Patife
Blog «fode, fode, patife»

Fruta 87 - Galão claro ou escuro?

Ser gato



06 junho 2012

Companhia da Lapada - «Mainha Painho»

"Ele já me comeu eu vou morar com ele"
"Êta, caralho!"

«coisas que fascinam (142)» - bagaço amarelo

acumulação

Hoje acordei de manhã para lavar a louça acumulada há dias no balcão da cozinha, aspirar o pêlo dos gatos acumulado nos cantos da casa, passar a esfregona sobre a sujidade acumulada nos chão cerâmico da cozinha e da casa de banho e, por fim, passar a ferro a roupa acumulada no quarto. Os dias acumulam-se uns sobre os outros, em prazer e dor. O prazer de não fazer nada e a dor de saber que se terá que fazer tudo duma vez, um dia qualquer.
Já fui diferente, isto é, já fui daqueles que não deixam acumular nada e têm sempre a vida vestida a rigor. Lavava a louça logo a seguir ao almoço ou ao jantar, não tinha gatos e aspirava a casa duas ou três vezes por semana e, por fim, passava a roupa a ferro mal a tirava da corda. Não acumulava nada nos meus dias, nem sequer um Amor que fosse.
Há uma certa paixão na desordem da vida que não quero voltar a perder, porque ela é um pilar essencial da minha capacidade de me apaixonar. Hoje mesmo, sorri ao lavar o fundo duma série de copos que ainda cheiravam a vinho, porque recordei os bons momentos em que os bebi ao jantar com uma amiga. Recordei também Cabo Verde, ao procurar a cidade do Mindelo no mapa da t-shirt que a Raquel me ofereceu durante as férias que lá fizemos. Depois escolhi uma banda sonora para passar a roupa a ferro: Buraka Som Sistema para as t-shirts, Cesária Évora para as calças e para as toalhas, Mayra Andrade para roupa interior.
Com o tempo apercebi-me que os dias que se acumulam sobre a minha casa são apenas a minha vida. Deixo-a acumular-se devagar, percebendo-lhe cada hora, cada minuto, cada segundo. E nela, nessa acumulação, percebo que nada do que ali se amontoou foi em vão. Nada é para ser esfregado logo a seguir à sua existência. Limpei hoje, para que nos próximos dias possa renovar essa lenta acumulação de quem está apaixonado, prolongando-a.


bagaço amarelo
Blog «Não compreendo as mulheres»

Hardcore 1º escalão


Mais uma obra, mais uma história.

A long  time ago in a galaxy far, far away...

Há muito tempo atrás eu fazia parte de uma juventude artística da Figueira da Foz e era regularmente convidado para exposições colectivas. Num desses eventos o tema era o cinema e coincidia com o "falecido" Festival de Cinema" apresentado no Casino. A ideia era homenagear o cinema EM TODAS AS SUAS VERTENTES. foi este o desafio proposto aos participantes da respectiva exposição. O Mário Silva foi ao seu largo espólio e logo descobriu uma obra que se identificava com o proposto. O Zé Penicheiro, fez um novo quadro. E eu, irreverente e provocador (era muito novo na altura... andava pelos vinte e picos...) resolvi que a minha homenagem seria dedicada ao cinema Hardcore do qual eu era fã incondicional. Daí o aparecimento desta magnifica obra, que foi tão notada pelo funcionário responsável pela montagem da exposição que mereceu como prémio o sitio mais recôndito da sala. Só faltou estar coberta por um lençol. A mim deu-me um gozo enorme fazê-la e também de ver as tentativas do pessoal da organização, do desvio das pessoas no dia da inauguração para que não a vissem. Bom ela aqui está. e já deu origem a outra um bocadito maior e a cores...

Digam vocês de vossa justiça.

Acorda, Mario!

E mais uma vez, a história se repete…




Poxa Mario, abra o olho

Capinaremos.com