HenriCartoon
10 junho 2012
Dom mágico
Ricardo - Vida e obra de mim mesmo
(crica na imagem para abrir aumentada numa nova janela)
09 junho 2012
«respostas a perguntas inexistentes (201)» - bagaço amarelo
Uma vez sentei-me contigo num banco de jardim e o mundo fechou-se. Deixou de se fazer ouvir e até de se fazer ver. Lembro-me que, muito de vez em quando, uma leve brisa fazia mexer as folhas das árvores, que nesse movimento agitavam a já fraca luz do Sol. Era o vento a segredar-me que ainda havia vida para além de nós. E eu sorria-lhe a pensar que não.
Talvez tenha sido a primeira vez que me senti apaixonado por ti, porque foi de certeza a primeira que o meu corpo começou a desobedecer à vontade de abraçar alguém. Eu queria abraçar-te mesmo, mas o meu braço nunca me obedeceu. Com a vida, aprendi que é assim que o Amor se faz notar, com o corpo a estancar de forma violenta toda a vontade de quem Ama.
Eu e tu nunca falámos de Amor. Nem do nosso, que não chegou a sê-lo, nem do de qualquer outra pessoa. Falámos, muito provavelmente, de todos os temas possíveis menos desse, o que não terá sido uma coincidência. Assim como, aliás, nunca foi uma coincidência passarmo-nos a sentar um ao lado do outro todos os fins de tarde a partir desse dia. Só hoje, com quarenta anos, é que percebo isso.
De todos os temas abordados entre nós, perdi a conta às vezes que te menti, sempre para te impressionar. Uma vez perguntaste-me se eu já tinha andado de avião e eu contei-te todas as viagens que consegui imaginar. À Noruega, ao Brasil, à Itália e ao Canadá. Contei-te histórias que não eram minhas, mas que tinha ouvido algures em conversas de outros. Acho que acreditaste sempre. Não sei...
Sei que houve uma tarde em que adormeceste no meu ombro e eu petrifiquei durante mais de duas horas, tanto para não te acordar como para prolongar essa rara sensação de te ter para além do verbo. Fechaste o olhos e eu fiquei a ouvir-te respirar. Só isso.
Já não te vejo há mais de vinte anos, nem sequer sei se te lembras de mim. Sei que hoje à tarde, entre a multidão agitada na estação de comboios, pareceu-me ver-te a passar por mim, depois de saíres exactamente do mesmo comboio que eu ia apanhar. Parei por uns breves momentos e virei-me para trás, esbracejei entre uma interminável maré de pessoas para conseguir chegar até ti e, quando finalmente te alcancei, vi que não eras tu.
Foi assim que fiquei a saber que gostava de te ver de novo.
bagaço amarelo
Blog «Não compreendo as mulheres»
Ratos de computador
Par de ratos de computador com mulheres em lingerie vermelha cujos seios são os botões do rato. Um dos ratos tem uma camisola amarela em tecido, amovível, com a bandeira e a palavra Brasil.
08 junho 2012
Sorriso com sardas
As palavras
queimavam-lhe a garganta, tal como as lágrimas lhe faziam arder os olhos.
Calou-se. Primeiro engoliu tudo o que tinha para lhe dizer e calou-se. Depois,
secou as lágrimas com as costas das mãos. Enfrentou a dor e a vergonha de tanto
lhe doer e cerrou os dentes e os lábios. Engoliu em seco. Tornou a engolir em
seco. Mordeu o lábio inferior e suspirou profundamente. A infelicidade de ser
quem era naquele momento infiltrava-se por todos os poros e contaminava-lhe
corpo e alma. Doía-lhe. Doía-lhe fisicamente. Sentia arrepios de frio e
tremores por todo o corpo. Sorriu. Fez um esforço e sorriu. Enfrentou a pena
que sentia de si, o seu corpo que vacilava e parecia quer desmoronar-se e o seu
ser mais profundo que queria abandonar-se à dor, à inacção, ao desalento e
sorriu. Um sorriso forçado, que não passava dos lábios, mas um sorriso.
– Sabe, bem – disse
ela, com o sotaque meloso que o derretia desde o primeiro momento em que a
conhecera, mostrando-lhe um sorriso complacente, quase maternal, que lhe
iluminava o rosto, os olhos, as sardas. – As coisas quando não acontecem é
porque não têm de acontecer.
Ele, o bem,
esqueceu-se do sorriso, que desapareceu sem deixar rasto, e mostrou em todo o
seu esplendor o desgosto que o dominava.
– Eu não acredito no
destino – declarou António, que dissera chamar-se Luís. – O destino somos nós que
o fazemos, Luísa.
– Heloísa – emendou
a mulher, ainda com sotaque mas já sem mel. Não costumava enganar-se nos
clientes que abordava mas, naquele caso, parecia-lhe, enganara-se redondamente
e perdera vinte minutos como figurante numa encenação manhosa de uma peça muito
vista.
– E podemos ser
felizes, Heloísa – insistiu Luís enquanto António. – De certeza que podemos
chegar a um entendimento, afinal estamos a falar de vinte euros de diferença.
Podemos rachar…
– Você assim não
racha nada, cara.
– Eu subo dez e você
baixa dez e…
– Somos felizes? – A
mulher levantou-se.
– Sim – disse o António
que falava pelo Luís. – Adoro o teu sorriso com sardas, já te disse?
– Eu só sou feliz
quando me pagam o meu preço e sim, já me tinhas dito, há vinte minutos atrás.
Tanto o Luís como o
António ficaram embasbacados a olhar para a mulher que, de repente, em pé, perdera
o sotaque e seguira sem um adeus embrenhando-se na pequena multidão de homens e
mulheres que deambulavam pela sala, eles com cervejas ou copos de whisky na mão,
caçadores prestes a ser caçados, e elas com sorrisos e gestos encantadores ou
sexualmente explícitos dando ar de presas submissas ou rebeldes, mas todas com
ar de quem tem mais do que fazer do que andar por ali a patinhar.
07 junho 2012
«Do meu ponto de picha» - Patife
Patife
Blog «fode, fode, patife»
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