Infografia da revista «Visão» de 17 de Maio de 2012
18 junho 2012
17 junho 2012
Pedro Laranjeira fala de Naturismo
Pedro Laranjeira no programa "Dispo-me em público", de Fátima Lopes, na SIC, em 2009 (mas sempre actual)
A omissão
Não importam os copos de plásticos a bordejarem-nos os pés para atapetar o Bairro porque a malta está mesmo ali para descontrair à força de vapores etílicos e dar aso ao instinto de comer outro ou outra da mesma espécie conforme o gosto.
Pelo canto do olho o gajo já tinha galado os cus de todas as gajas do grupo e entre mil e uma piadas sobre a faculdade e a falta de trabalho estava agora na inspecção demorada dos parapeitos com mais ou menos carne à mostra consoante fossem adeptas da ticharte a recortar cada centímetro das formas e a mostrar a cor das alças do sutiã ou das túnicas linha império a alçarem as mamas para um enorme decote que as descobre.
Com mais uma cerveja ele começou a gorgolejar ridente que procurava a mulher da sua vida e a mexer nos cabelos da fauna presente até se deter em mim a repetir se já me tinha dito que era gira, muita gira num rebolar das sílabas como marcação de deixa. O gajo era um pão alto e magro com um rabiosque direitinho e escorreito e tão intensamente moreno que até lembrava o Matthew Fox que ninguém em seu perfeito juízo se recusaria a papar não fosse ter interiorizado dos meus paizinhos a tendência para ponderar que ali ao vivo numa farra não lhe lia os erros ortográficos nem as sms com abreviaturas e capas.
Mas como para dar uma voltinha mais não podia exigir puxei-lhe as orelhas para junto da minha boca e perguntei ao meu para não haver equívocos nem omissões se queria cá vir para despejar o vergalho ou se era mais alguma coisinha.
Pelo canto do olho o gajo já tinha galado os cus de todas as gajas do grupo e entre mil e uma piadas sobre a faculdade e a falta de trabalho estava agora na inspecção demorada dos parapeitos com mais ou menos carne à mostra consoante fossem adeptas da ticharte a recortar cada centímetro das formas e a mostrar a cor das alças do sutiã ou das túnicas linha império a alçarem as mamas para um enorme decote que as descobre.
Com mais uma cerveja ele começou a gorgolejar ridente que procurava a mulher da sua vida e a mexer nos cabelos da fauna presente até se deter em mim a repetir se já me tinha dito que era gira, muita gira num rebolar das sílabas como marcação de deixa. O gajo era um pão alto e magro com um rabiosque direitinho e escorreito e tão intensamente moreno que até lembrava o Matthew Fox que ninguém em seu perfeito juízo se recusaria a papar não fosse ter interiorizado dos meus paizinhos a tendência para ponderar que ali ao vivo numa farra não lhe lia os erros ortográficos nem as sms com abreviaturas e capas.
Mas como para dar uma voltinha mais não podia exigir puxei-lhe as orelhas para junto da minha boca e perguntei ao meu para não haver equívocos nem omissões se queria cá vir para despejar o vergalho ou se era mais alguma coisinha.
[Foto © Marta Ferreira, 2007, Unidos pelo sentimento]
«Geometria variável» - por Rui Felício
Sempre foi muito namoradeiro...
Já assim era no Porto onde nascera e vivera até à adolescência, e de igual modo continuou em Coimbra para onde foi morar por ordem do pai que o queria afastar da noite e da borga portuense. Na esperança de o ver assentar e dedicar-se aos estudos. Não era com certeza por acaso que Coimbra era conhecida como a cidade dos estudantes. A cidade onde se estuda…
Hospedou-se no Bairro, lugar pacato de gente humilde e trabalhadora.
Mas o Carlos já trazia a escola tripeira das noites da Foz e da Ribeira, entranhada na alma e no corpo, e rapidamente descobriu que, embora mais pequena, a cidade estava inundada de garotas giras, de espírito livre, que a sua visão de lince ia descobrindo, registando, frechando-as com golpes certeiros do seu olhar romântico e sorriso cativante.
Ao fim de pouco tempo já namorava uma colega do Alexandre Herculano, paredes meias com o São Pedro para onde ele carregava os livros diariamente. Era a Clara, linda rapariga a quem uma imperceptível cicatriz no queixo dava uma beleza invulgar, exótica, sensual.
No fim das aulas, o Carlos acompanhava-a até à Av. Dias da Silva onde ela morava e depois descia os Loios a correr até ao Calhabé.
Não tardou muito que começasse também a namorar a Ângela, que se perdeu de amores por ele num baile do Futebol Clube do Calhabé. Como ela morava na Casa Branca e estudava no Liceu Infanta D. Maria, perto do Estádio, o Carlos conseguia, sem grande risco, repartir-se pelas duas namoradas, dado que elas frequentavam zonas diferentes da cidade.
Alguns amigos avisavam-no que era melhor não manter aquela situação dúplice porque era perigosa e ele podia vir a dar-se mal com isso.
O Carlos era muito senhor do seu nariz e, quando o tentavam aconselhar, respondia com alguma rispidez e sarcasmo:
- Oh pá! Elas são como as rectas paralelas! Por mais que se prolonguem nunca se encontram! Pelo menos é isso que nos ensinam nas aulas de Geometria, não é?…
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Certa noite, abriu com grande pompa uma discoteca nova, moderna, a primeira digna desse nome na cidade de Coimbra. Ficava ali ao fundo das escadas monumentais e encheu-se de estudantes na sua inauguração. O Carlos não podia faltar e lá foi, mais uns amigos do Bairro, beber um copo, ver o ambiente e fumar uma cigarrada.
De súbito, viu a Clara dirigir-se a ele, a abrir caminho por entre a multidão, acotovelando aqui, empurrando acolá. Sorriu-lhe, deu-lhe um beijo, pegou-lhe na mão e explicou:
- Tinha-te dito que não vinha cá, mas o meu irmão insistiu tanto que vim com ele. Tão bom estarmos juntos!
O Carlos afivelou o seu sorriso de galã, mas que se desvaneceu pouco depois tornando-se progressivamente num riso amarelo.
Do fundo da sala, a Ângela acenava-lhe. Veio a correr até junto dele, dizendo-lhe que sabia que ele viria e quis fazer-lhe uma surpresa, vindo com mais umas colegas à inauguração.
- Estás feliz por me veres?
Foi então que a Clara e a Ângela se fitaram e perceberam tudo. Ambas desapareceram, furiosas, cada uma para seu lado, remoendo entre dentes ameaças e vinganças contra ele.
O Carlos recuperou-se a custo, acalmou e afirmou imperturbável para os amigos que o rodeavam:
- Aquilo que nos ensinam nas aulas de geometria está completamente errado! Ao contrário do que nos dizem, as rectas paralelas podem encontrar-se sim! Aliás, consta nos manuais que se encontram no infinito!
- E o nome desta discoteca, como vocês sabem, é esse mesmo: Infinito.
Rui Felício
Blog Encontro de Gerações
16 junho 2012
«coisas que fascinam (143)» - bagaço amarelo
- Vi-o a dormir e sei que costuma sair aqui! - disse.
Agradeci-lhe, atarantado, e saí. Já me tinham acordado várias vezes em paragens terminais, mas nunca numa a meio do trajecto. É fascinante.
bagaço amarelo
Blog «Não compreendo as mulheres»
Filme de uma ilustração de livro francês de humor
Desenho de Gürsel para o livro «Les blagues coquines».
Este é o filme (em acetato) para impressão.
Este é o filme (em acetato) para impressão.
15 junho 2012
Mundo
Ele viu-a a caminhar lentamente como se tivesse esquecido para onde ia e
ficou logo impressionado. Gostou do que viu e do que sentiu. Sorriu.
Parou e ficou a vê-la seguir num passo lento mas certo, sem hesitações,
nem paragens, como se caminhasse no seu próprio mundo. Enquanto a viu,
ela caminhou sem olhar para onde quer que fosse e a cadência lenta com
que o fazia fê-lo pensar em alguém que mais do que procurar o caminho se
procura a si própria. Reforçou o sorriso pois já tinha bebido e achou
graça à ideia de ver uma mulher caminhar uns segundos e achar que ela ia
no seu mundo e, ao mesmo tempo, estava à procura de si (si ela, não
ele, esclareceu, ainda que tivesse mais graça, pensou, se ela andasse de
facto à sua procura, dele, não dela).
Também pode ir ter com alguém, conjecturou quando a viu desaparecer duas
esquinas mais à frente, mas se for não está como muita vontade. Mais
valia vir ter comigo. Riram-se (ele e o álcool).
Na dúvida se não a devia ter abordado, seguiu, ele sim perdido mas não
de si, do sítio para onde ir, e tornou a cruzar-se com ela. Andamos
perdidos nos mesmos caminhos, eu sabendo-o mas sem os saber, tu
sabendo-os mas sem o saber. Deixou-se de trocadilhos etílicos e
concentrou-se na esperança que ela fosse para o mesmo sítio que ele.
Forçava pensamentos positivos e seguia-a como se pudesse encaminha-la
para onde ia, ainda que não soubesse como lá chegar. Riu-se baixinho da
figura de idiota que estava a fazer e perdeu-a, enquanto se censurava
por não lhe pedir ajuda. Ela conhecia as ruas e ajudava-o a encontrar.
Ele queria conhece-la e ajudá-la a encontrar-se mas, quando se decidiu,
já não a via. Disse palavrões e entrou num bar, saiu. Não era ali.
Ligou o telemóvel e perguntou o nome do bar. Disse onde estava e seguiu
as instruções que lhe iam dando. Cruzou-se com ela e sorriu-lhe mas
seguiu as instruções que recebia e continuou. As ruas estreitas do
bairro histórico não estavam vazias e, além deles, havia mais gente em
trânsito. Achou que ela não o viu. Que ela nunca o viu.
Chegou. O bar estava cheio e a festa animada mas ficou na rua. Esperava
tornar a vê-la e decidira falar-lhe. Impreterivelmente. Bebeu e não
bebeu mais. Conversou e, por fim, entrou mas mesmo quando estava lá
dentro estava lá fora a palmilhar as ruas, a seguir uma gabardina
comprida, uns saltos altos vermelhos e uma estranha peruca berrante que
ela levava.
Nunca mais a tornou a ver mas gostava. Muito. Gostava de a ver e de lhe falar. De tornar a sentir o que sentiu quando a viu e de poder conhecer o seu mundo.
Nunca mais a tornou a ver mas gostava. Muito. Gostava de a ver e de lhe falar. De tornar a sentir o que sentiu quando a viu e de poder conhecer o seu mundo.
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