14 julho 2012

Homens, aprendam a alisar roupa amarrotada

«conversa 1898» - bagaço amarelo

(ao telefone)

Ela - Não me devias ter telefonado agora.
Eu - Porquê?
Ela - Estou a fazer uma coisa que ninguém pode fazer por mim.
Eu - Estás na casa de banho?
Ela - Não. Estou a dizer mal das amigas todas do meu marido.
Eu - A quem?
Ela - Ao meu marido, claro. Nunca diria mal das amigas dele a mais ninguém. Não tenho mau carácter.
Eu - Estás mesmo?
Ela - Só de algumas, pronto.
Eu - E dizes mal de mim?
Ela - Tu és meu amigo. Ele é que me diz mal de ti, de vez em quando.
Eu - Quando é que te posso ligar, então?
Ela - Daqui a uma horinha, pode ser?
Eu - Uma hora?!
Ela - Sim. Sempre que nos pomos a dizer mal dos amigos do outro, precisamos de pelo menos uma hora.
Eu - E fazem isso regularmente?
Ela - De vez em quando. É uma forma de fortalecer a relação.
Eu - E o teu marido está aí a ouvir a nossa conversa?
Ela - Sim, e já está a dizer que és um chato.


bagaço amarelo
Blog «Não compreendo as mulheres»

Placa metálica com soldado a apalpar o peito de uma mulher numa guarita

Com este soldado assim distraído, a minha colecção não fica bem vigiada. Valha-nos Eros...



Um sábado qualquer... - «Mudanças»





Um sábado qualquer...

13 julho 2012

«Poliamor» por Zé Agripino


Poliamor from Zé Agripino on Vimeo.

Sem assunto

Ficámos sem assunto.

Ficámos sem assunto mas não nos calámos.
Ficámos sem assunto mas continuámos a falar.
Ficámos sem assunto, apavorados com o silêncio que nos podia afastar. Separar.
Ficámos sem assunto mas não queríamos ter de tocar nesse assunto.
A falta de assunto é um assunto melindroso. Uma mina a crescer debaixo dos nossos pés, a alastrar para todo o lado, a tomar conta de tudo. A imobilizar-nos totalmente.
A falta de assunto é uma espécie de doença contagiosa, pensamos, que nos agarra e não nos larga. Sem cura. Que nos marca e, depois, nos define. A falta de assunto torna-nos desinteressantes. Silenciosos e transparentes, em risco de desaparecimento. A comunicação esvai-se e não se retoma. E, no entanto, é no silêncio que melhor comunicamos, que nos encontramos quando o assunto somos nós. Quando nós somos um assunto. Um assunto sério.
Se ficamos sem assunto e lutamos contra isso como se lutássemos pelo ar que respiramos podemos seguir em frente.
Quando duas pessoas precisam de assunto para comunicar, não há assunto que lhes valha.

Fruta 92 - Pescocinho sensível

A primeira menstruação





Meninas WTF

12 julho 2012

Tem teste que é cego!...

«Trinta cadelas ao meu osso» - Patife

Há uns anos decidi meter-me numa coisa (e não, desta vez não estou a falar de uma pachacha) que estava muito na voga. Era a época dourada dos chats. Nessa altura toda uma comunidade de gajas boas frequentava os chats amiúde e a procura de sexo não era boçal como agora. Havia um certo nível. Mas nessa altura, tal como agora, os chats eram uma espécie de terra de cegos e quem escrevia sem dar erros ortográficos era facilmente rei. Juntavam-se uns jogos linguísticos e umas palavras que escapam ao âmbito comum e era um ver se as avio. Sem necessidade de grande esforço ou inspiração, eram logo trinta cadelas ao meu osso. Claro que, como Patife com nome na praça pública, era necessário ter algumas cautelas, por isso inventava nomes, profissões e alter-egos. E elas pareciam burras a olhar para uma falácia. Certo dia conheci uma que tinha a pancada de sair à hora do almoço do trabalho para dar uma pinada no carro. Como não tinha nada de mais interessante para fazer nesse dia acedi ao desejo da moça. Fomos ter ao ponto de encontro, entro no carro e ela conduz dali para fora apressadamente. Era um Citroen AX dos antigos, um carro exíguo que facilmente se transformaria num cabriolet se eu tivesse uma erecção. Assim que estaciona a viatura nas ruas semi-desertas das vivendas de Belém salta-me à boca como se precisasse de respiração assistida. Ora eu queria era que a boca dela me saltasse ao nabo como se eu precisasse de uma mamada assistida, antes de a malhar com o meu ferro quente. É que aqui o meu badalo, quem o quiser há-de mamá-lo.

Patife
Blog «fode, fode, patife»

Os segredos do caralho

Mote

Os segredos do caralho
Ninguém os pode entender;
Alegre quando tem fome,
Triste depois de comer!

Glosa

De pedreiro oficial
Contratou um casamento,
E guardava (oh! que portento!)
Um estado virginal.
Em a véspera nupcial
Acabou o seu trabalho,
E, à sombra de um carvalho,
Disse, vendo a terna irmã:
– Eu vou saber amanhã
Os segredos do caralho.

Passando a noite ditosa
Desse prazer tão completo,
Que, para o tal arquiteto,
Tinha sido deleitosa,
Deixa um pouco a terna esposa,
Vai da irmã à casa ter;
E, ao vi-lo receber,
Diz-lhe ele baixo à orelha:
– Mana, segredos d'abelha
Ninguém os pode entender.

– É verdade, lhe replica
A irmã, que a foder é destra;
Nem com ser abelha-mestra
Sei os segredos da pica...
Não viste tu como fica
Antes e depois que come?
É uma cousa sem nome!...
Nota bem que não gracejo;
É só o bicho que vejo
Alegre, quando tem fome!

– Reparei, irmã querida,
E fez-me grande impressão
Vir-lhe aquela indigestão
Logo depois da comida!
Cansado da dura lida
Parece que vai morrer;
Embalde tenta se erguer
Porque a fraqueza o tolhe,
E entre os colhões se recolhe,
Triste depois de comer!

Laurindo Rabelo (1826-1864)

Eric Gill (1882-1940), Most Precious Ornament, 1937


blog A Pérola

Allegro


11 julho 2012

«Bipolaridades» - livro de poesia da Vera Sousa Silva

Estou a deliciar-me com a minha mais recente aquisição: o livro de poesia «Bipolaridades» de Vera Sousa Silva (editora Lua de Marfim), que se vai juntar, depois de lido, aos outros 213 livros de poesia da minha colecção de arte erótica.
Deixo-vos aqui um dos poemas, «Memórias de ti»:

"No silêncio dos teus lábios
ecoa o meu medo
e sombras perseguem-me
gritando-me do teu desdém.
Rios descem dos meus olhos
naufragando em vestes
de versos quentes
que te sussurrei
num leito d’ âmbar.
Sufoca-me o tempo,
medida da saudade
do teu corpo.
Asfixia-me a demora
em ter teu beijo,
único alimento
da minh’alma.
Estremeço ausente,
mergulho no sonho
e morro nas memórias de Ti!"

Este poema pode ser ouvido aqui, lido pela voz d'ouro do Luís Gaspar, que também nos lê o poema «Saltos altos».