Ficámos
sem assunto mas não nos calámos.
Ficámos
sem assunto mas continuámos a falar.
Ficámos
sem assunto, apavorados com o silêncio que nos podia afastar. Separar.
Ficámos
sem assunto mas não queríamos ter de tocar nesse assunto.
A
falta de assunto é um assunto melindroso. Uma mina a crescer debaixo dos nossos
pés, a alastrar para todo o lado, a tomar conta de tudo. A imobilizar-nos totalmente.
A
falta de assunto é uma espécie de doença contagiosa, pensamos, que nos agarra e
não nos larga. Sem cura. Que nos marca e, depois, nos define. A falta de
assunto torna-nos desinteressantes. Silenciosos e transparentes, em risco de
desaparecimento. A comunicação esvai-se e não se retoma. E, no entanto, é no
silêncio que melhor comunicamos, que nos encontramos quando o assunto somos nós.
Quando nós somos um assunto. Um assunto sério.
Se
ficamos sem assunto e lutamos contra isso como se lutássemos pelo ar que
respiramos podemos seguir em frente.
Quando
duas pessoas precisam de assunto para comunicar, não há assunto que lhes valha.