20 agosto 2012

«respostas a perguntas inexistentes (209)» - bagaço amarelo

Paralisia "distancial"

O meu Amor pela Raquel sofre de Paralisia "distancial". O que é isso? À medida que a distância entre nós aumenta, eu vou-me sentido mais limitado nos movimentos. Por exemplo, estou em casa e dou por mim com a cabeça aninhada entre as mãos, sem vontade sequer de pegar no copo de uísque à minha frente que já enchi há mais de vinte minutos. Ao lado do copo tenho o telefone mas, apesar da vontade, não lhe telefono mais. Já o fiz hoje umas dez vezes, sempre para lhe dizer o mesmo. Que a Amo.
Se eu me visse assim, sozinho em casa sem vontade de nada, dava-me um pancadinha nas costas e convidava-me para sair, beber um copo por aí e dar dois dedos de conversa comigo mesmo. É o que faço às vezes. Foi o que fiz ontem. No princípio as pernas pareciam com pouca vontade de andar, mas depois lá acabaram por ceder.
Acabei num café dos subúrbios com um televisor bêbado aos gritos para mim e mais três homens também sozinhos, cada um na sua mesa, cada um com a sua bebida. Eu a beber Bushmills, outro a beber cerveja de garrafa, outro cerveja de pressão e outro um licor qualquer. Todos me pareceram homens exageradamente sós. Eu também, apesar de saber que não o sou.
A minha Paralisia "distancial" acabou aí, nesse preciso momento, pouco antes da empregada começar a varrer o chão e nos expulsar delicadamente a todos. Levantei-me com energia, paguei os dois uísques sem gelo e fui dar uma volta a pé pela cidade de Aveiro, já quase deserta de vida. É bom sentirmo-nos sós sabendo que não o estamos, pensei. É bom perceber que por trás de cada história de solidão há sempre uma mulher.


bagaço amarelo
Blog «Não compreendo as mulheres»

Pessoas sem coração

Deixam buracos quando passam.



Pelo menos deixam nosso coração.

Capinaremos.com

19 agosto 2012

Campanha contra a pornografia infantil

PREC



De joelhos e mãos no colchão, com os mamilos debruçados quase a roçar o lençol, abanei as ancas antes da corrida e lancei-me sobre a presa já nimbada de aguadilha. Os caracóis aloirados faziam-me cócegas no nariz mas aquelas almôndegas fofas apelavam a umas lambidelas vagarosas antes de escalar o tronco em arremessos de língua e piscadelas cúmplices de pálpebras semicerradas.

Ao começar a engoli-lo abriram-se-me as válvulas palpitantes que o outro, o moreno giraço, se empenhava em transformar num escorrega em assertivos gestos de língua e dedos. E enquanto enfunava a vela daquele belo exemplar louro em chupões cadenciados e amassos de dedos nas bases redondas o garanhão moreno puxou-me pela cintura e resvalou para dentro de mim o seu metrónomo equilibrando-se com as mãos alapadas nas minhas nádegas.

E assim, solidariamente partilhada por um louro e um moreno, todos irmanados no mesmo ritmo, senti que finalmente marchava num processo revolucionário em curso.



Eri Johnson



Ricardo - Vida e obra de mim mesmo
(crica na imagem para abrir aumentada numa nova janela)

18 agosto 2012

Homens, aprendam a evitar que o espelho da casa de banho embacie

«conversa 1906» - bagaço amarelo

Ela - O meu marido ainda me pergunta, no fim de cada vez que fazemos sexo, se eu o acho bom na cama.
Eu - Há quanto tempo é que são casados?
Ela - Vinte e dois anos...
Eu - E é bom na cama ou não?
Ela - Sei lá. Há vinte e dois anos que não vou para a cama com outro. Nem comparar posso...


bagaço amarelo
Blog «Não compreendo as mulheres»

Baralho de cartas «Le Florentin»



Estas cartas são um mimo. Quem colecciona cartas diz (e com razão) que estas «Le Florentin» são das mais bonitas que existem (e eu concordo). E tenho um destes baralhos na minha colecção. Quando vo-lo poderei mostrar ao vivo?...

Na página deste video, apresentam o autor e explicam as ilustrações de cada carta, em cada momento do video (em inglês, mas se há coisa que a malta que aqui vem domina, são as línguas):

"Paul-Émile Bécat (born 2 February 1885 -- died 1 January 1960 in Paris) was a French painter, printmaker and engraver, and was awarded first prize in the Prix de Rome in 1920. He was a student of Gabriel Ferrier and François Flameng and exhibitioned at the Salon de Paris in 1913. Returning from his travels to the Congo, Gabon, and the Sudan, he specialised from 1933 in the technique of drypoint in his erotic works. Today he is best known for his portraits of French writers, and for his erotic works.
This is a Bécat's erotic limited edition of a deck of playing cards. Titled 'Le Florentin', the deck is copyrighted 1955 by Éditions Philibert, Paris.
Credit: mydelineatedlife.blogspot.com

0:00 Frontispiece card
0:10 Joker 1: Giant jester of the Duke of Mantua, whose main duty was to keep an eye on the 'collection' of dwarves given to his master by the other princes of Europe.
0:19 Joker 2: A lady, personifying the Florentine festivities.

0:29 Ace of Diamonds: The Adventuresses
0:38 Ace of Clubs: Allegory of gold
0:48 Ace of Hearts: Allegory of Love
0:58 Ace of Spades: The poisoners

1:06 King of Clubs: The powerful Duke Leonardo, famous for his wealth and his patronage of the arts
1:26 King of Diamonds: Allegory of the soldiers
1:45 King of Hearts: King Francis I
2:04 King of Spades: Bluebeard and his wives

2:23 Queen of Clubs: Protecting and encouraging the arts
2:42 Queen of Diamonds: 'La Belle Ferronnière', favorite of King Francis I
3:01 Queen of Hearts: The lady and the rose, recurrent them of the Renaissance
3:20 Queen of Spades: Lucrecia Borgia

3:39 Jack of Clubs: Leonardo da Vinci, surrounded by the beauties he made immortal
3:58 Jack of Diamonds: The messenger of love
4:17 Jack of Hearts: The lovers of Verona
4:36 Jack of Spades: Machiavelli
4:55 The backside of all the cards


Music by Edward Ka-Spel,'Film of the Book (The Forgotten Version)'"

Um sábado qualquer... - «Livrinho de Deus»






Um sábado qualquer...

16 agosto 2012

"A donzela que não podia ouvir falar de foder"



Era uma vez uma donzela muito orgulhosa e rebelde. Se ela ouvisse alguém "falar de foder" ou algo semelhante, ficava com um ar muito ofendido. Era a única filha de um bom homem, um rico camponês que não tinha nenhum servo em casa porque a jovem não suportava ouvir aquele tipo de conversa típica de servos. Ela “...nunca poderia suportar / que um servo falasse de foder / de caralho, colhões ou coisa semelhante” (Fabliaux, 1997: 63).

Um belo dia, um jovem velhaco de nome David chegou àquela aldeia e ouviu falar da filha que odiava os homens. Decidiu então confirmar a curiosa estória, oferecendo os seus préstimos: disse que sabia lavrar, semear, debulhar o trigo e peneirar. O camponês agradeceu, mas respondeu que tinha uma filha que sentia tanta náusea das coisas obscenas que os homens conversam que não poderia aceitar a sua oferta. David fingiu ser um homem temente a Deus e clamou pelo Espírito Santo. Ao ouvir as suas palavras, a filha do rico camponês pediu ao pai que contratasse o rapaz, pois ele compartilhava das suas ideias.

Houve então uma grande festa para comemorar a contratação do “servo beato”. Quando chegou a hora de dormir, o bronco camponês perguntou à filha onde David descansaria: “Senhor, se isso vos agrada / ele pode dormir comigo / ele parece ser de confiança / e ter estado em casas nobres” (Fabliaux, 1997: 67).

O ingénuo pai concordou. A donzela era muito graciosa e bela, e o servo, matreiro, logo colocou a sua mão direita nos alvos seios da moça, depois no seu ventre e no seu sexo, sempre perguntando à donzela o que era aquilo que tocava: “David desceu a mão / direto à fenda, sob o ventre / onde o pau entra no corpo / e sentiu os pêlos que despontavam / ainda macios e suaves (...)”. E perguntou:

Por boa fé, senhora, disse David (...)
o que é isto no meio do prado esta fossa suave e plena? Disse ela: é a minha fonte que ainda não brotou. E o que é isto aqui ao lado /  disse David, nesta guarita? É o tocador de trompa que a guarda responde a jovem, verdadeiramente se um bicho entrasse no meu prado para beber na fonte clara o vigia tocava logo o corno para lhe fazer vergonha e medo. (Fabliaux, 1997: 68)

A seguir, a jovem virgem decidiu ousar e passou a tomar a iniciativa, apalpando igualmente o servo beato. O poema compara o pénis a um potro e os testículos a dois marechais. A donzela pede então que o belo potro do jovem paste no seu prado. David teme que o “tocador de trompa” da moça – provavelmente uma metáfora ao clitóris – faça barulho, isto é, que a jovem grite de dor e prazer. Ela responde: “Se ele disser mal / batê-lo-ão os marechais. / David responde: Muito bem dito.”

E assim a jovem virgem e falsa púdica “foi derrubada quatro vezes”, “...e se o tocador de corno troou / foi batido pelos dois gémeos / Com esta palavra termina o fabliau.” (Fabliaux, 1997: 70)


FABLIAUX, Erótica Medieval Francesa, Lisboa: Editorial Teorema, 1997

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