Ramo de Fanazava (madeira branca, muito dura e preciosa, considerada árvore sagrada) da ilha de Madagáscar (país africano ao largo da costa de Moçambique), com 19,5cm de altura, esculpido à mão, proveniente de Ambositra (cidade no centro da ilha).
Depois de uma grande viagem, esta mulher está na minha colecção, continuando a esconder os seios com as suas mãos e a desafiar-nos com o seu olhar.
04 setembro 2012
03 setembro 2012
As gordinhas também são sexy
Há ainda muito preconceito com os e as gordinhas.
E basta uma aparecer como uma camgirl (uma menina que se mostra numa webcam) para que o pessoal não perdoe. Foi o que aconteceu com Nina, uma gordinha que tentou se exibir ao vivo na internet, mas foi ridicularizada pelos webpunheteiros.
Xingamentos sobre o seu peso, seus enormes peitos e tudo o que é mais possível de se imaginar. Depois de ouvir todas as ofensas, Nina não aguentou e chorou. Disse até que iria se matar.
Mas o vídeo virou um sucesso de audiência, muitos devem ter se masturbado tendo fantasias com ela, porque as gordinhas também são sexy. Hoje Nina ri de tudo isso.
E aí, é obsceno pra você?
Obscenatório
«por acidente» - bagaço amarelo
Isto aconteceu-me de forma tão intensa (num ano devo ter feito cerca de vinte amigas assim), que cheguei a confessar a um amigo meu que se calhar nunca mais ia conseguir apaixonar-me na vida. Cada vez que conhecia uma mulher, estabelecia-se automaticamente entre nós este tipo de relação monotemática. Às vezes em casa, outras vezes num bar qualquer, ficávamos horas a falar e nunca sobrava espaço nem vontade para um mínimo de sedução que fosse. Com esse amigo meu, por engraçado que possa parecer, assim como com todos os meus amigos homens, isso nunca aconteceu. As conversas sempre variaram de assunto com a mesma velocidade com que se abre uma cerveja ou se enche um copo de vinho.
Um dia distraí-me ao volante e bati na parte de trás doutro carro. Foi num semáforo, em que eu era o segundo da fila. Quando mudou para verde, não reparei que o condutor à minha frente continuava parado e avancei. Não foi nada de grave, apenas uns riscos no pára-choques, mas o condutor da minha frente era uma mulher que se mostrou bastante nervosa. Gritou e empurrou-me várias vezes enquanto eu lhe dizia para ter calma, que aquilo não tinha sido nada e que eu assumiria sem problema nenhum os poucos danos do acidente. Por fim, quando se acalmou, explicou-me que o marido dela adorava o automóvel e se ia zangar. Acabou mesmo por me confessar em jeito de desabafo que ele, para além do necessário para a gestão da vida a dois, só falava de automóveis. E foi assim que conheci a Tatiana.
Inventámos uma desculpa qualquer para não ir trabalhar, eu e ela, e começámos a procurar uma oficina que arranjasse o carro no próprio dia. O objectivo era o marido dela nem sequer chegar a saber do acidente. Encontrámos uma, mas que ia precisar do dia quase todo para o fazer, por isso convidei-a para almoçar e acabámos por passar bastante tempo juntos.
Podem não acreditar, mas foi dos melhores dias que tive naquela fase da minha vida. Almoçámos num pequeno restaurante da zona histórica de Aveiro, depois fomos passear para a praia, onde tirámos os sapatos e deixámos quilómetros de pegadas na areia, sempre a conversar sobre todos os temas possíveis e imaginários. Praticamente não houve silêncios entre nós, com excepção dum momento ao fim da tarde em que o Sol se começou a pôr e nos calámos ao mesmo tempo. Foi mesmo antes de voltarmos para ir buscar o carro dela e, nessa altura, já eu me sentia completamente apaixonado por ela.
Passei os dias seguintes a pensar praticamente só nela. Nela e no vento que tinha feito da nossa prolongada conversa um segredo daquela praia. O mesmo vento que tinha feito dançar os seus longos cabelos castanhos e desenhado perfeitamente o perfil dos seus seios na camisola verde escura. Pensei na forma como os seus profundos olhos negros me tinham trespassado o corpo, fazendo-me sentir transparente. Pensei em tudo, até em telefonar-lhe para tornarmos a sair.
Nunca o fiz. Despedi-me dela à porta da oficina com um estranho abraço quente e frio ao mesmo tempo. Quente por gostar dela, frio por saber que era o primeiro e o último. A Tatiana nunca o soube, mas foi ela que me fez acreditar que em mim ainda podia haver paixão e Amor, foi ela que que me fez perceber que as minhas conversas monotemáticas com tantas mulheres não eram senão um produto de mim mesmo. Não das minhas amigas. Era como se o meu coração tivesse sido um campo estéril durante muito tempo, até esse dia.
Passado pouco tempo apaixonei-me outra vez, por acidente. Até hoje.
bagaço amarelo
Blog «Não compreendo as mulheres»
02 setembro 2012
"Ó lobo, já vens?"
Recordo-me, em miúda, de jogar à apanhada, e cantarolar com os outros: "Caminhando pela floresta, enquanto o lobo não vem. Ó lobo já vens?"
Naquela altura, desconhecia o valor polissémico do verbo vir...
blog A Pérola
Naquela altura, desconhecia o valor polissémico do verbo vir...
blog A Pérola
O fabuloso destino de Amélia
Lisboa dos anos vinte era o refúgio para a pobreza e a má língua da província e ela com dezasseis anos feitos e o peito empinado para cá abalou com um homem de posição, daqueles que cobram pelos conselhos que dão e que estrategicamente lhe deu guarida numa casinha para os lados da Bica e afastada da sua morada de família de Campo de Ourique que ele já tinha idade para ter juízo e as aparências são uma lei mais velha que a Sé de Braga.
A ela não lhe pareceu bem a bigamia que para além das voltas na cama em que até já se despia todinha outras eram as expectativas que trazia e quando o disse claramente ele deu às de vila-diogo como quem vai tirar o pai da forca. O remédio foi ir à cata de trabalho e vá de servir de dia numa farmácia e à noite nas mesas do Olímpia Club. Um cliente habitual engraçou com o seu jeito desembaraçado em cinturinha de vespa a remexer o traseiro redondinho e a espevitar as imaginação masculina descobrindo até que um bocadinho abaixo dos largos caracóis acobreados que lhe pendiam no pescoço limpinho havia um mimoso par de rolinhas onde lhe apetecia aninhar a cara, o nariz e o mais que pudesse. E um dia convidou-a para o seu escritório e pediu-lhe para cantar.
O simpático e afável careca era empresário de artistas e rendeu-se à sua voz maviosa e ala moça a levá-la para actuar em retiros fora de portas, pelas bandas de Benfica e Carnide e até em esperas de toiros. Ensinou-a a respirar para modular a voz, escolheu-lhe o repertório e a roupa, até ao detalhe do chapéu, e ainda o nome artístico mesmo que não lhe confessasse que também a sua legítima esposa se chamava Amélia. Como contrapartida deixava-a escolher a roupa interior com que o surpreendia com risos gaiatos e a energia e viço dos gestos com que o trotava alheada da proeminente barriga dele como se fosse apenas a imprescindível sela num passeio por esses campos fora.
E mesmo quando o senhor, como Amélia sempre o tratou, sentado na sua poltrona se virou para ela com um ó filha que doravante cantas só para mim, que estava divorciado de fresco, ela aproximou os lábios da calva branquinha para um sonoro beijinho sentindo as mãos dele a amarinhar-lhe por dentro da saia para rubricar a sua aceitação de apenas chilrear dentro de portas e galopar no leito conjugal o selim do senhor empresário.
A ela não lhe pareceu bem a bigamia que para além das voltas na cama em que até já se despia todinha outras eram as expectativas que trazia e quando o disse claramente ele deu às de vila-diogo como quem vai tirar o pai da forca. O remédio foi ir à cata de trabalho e vá de servir de dia numa farmácia e à noite nas mesas do Olímpia Club. Um cliente habitual engraçou com o seu jeito desembaraçado em cinturinha de vespa a remexer o traseiro redondinho e a espevitar as imaginação masculina descobrindo até que um bocadinho abaixo dos largos caracóis acobreados que lhe pendiam no pescoço limpinho havia um mimoso par de rolinhas onde lhe apetecia aninhar a cara, o nariz e o mais que pudesse. E um dia convidou-a para o seu escritório e pediu-lhe para cantar.
O simpático e afável careca era empresário de artistas e rendeu-se à sua voz maviosa e ala moça a levá-la para actuar em retiros fora de portas, pelas bandas de Benfica e Carnide e até em esperas de toiros. Ensinou-a a respirar para modular a voz, escolheu-lhe o repertório e a roupa, até ao detalhe do chapéu, e ainda o nome artístico mesmo que não lhe confessasse que também a sua legítima esposa se chamava Amélia. Como contrapartida deixava-a escolher a roupa interior com que o surpreendia com risos gaiatos e a energia e viço dos gestos com que o trotava alheada da proeminente barriga dele como se fosse apenas a imprescindível sela num passeio por esses campos fora.
E mesmo quando o senhor, como Amélia sempre o tratou, sentado na sua poltrona se virou para ela com um ó filha que doravante cantas só para mim, que estava divorciado de fresco, ela aproximou os lábios da calva branquinha para um sonoro beijinho sentindo as mãos dele a amarinhar-lhe por dentro da saia para rubricar a sua aceitação de apenas chilrear dentro de portas e galopar no leito conjugal o selim do senhor empresário.
«Cheguei tarde» - por Rui Felício
Há anos que sou cliente daquela loja de pronto a vestir para homem, na Av. do Uruguai.
Não é que seja barata, mas os fatos são de boa qualidade, a confecção é perfeita e consigo sem dificuldade encontrar o tamanho adequado sem necessidade de serem feitos arranjos, nem nas calças, nem nas mangas.
Já lá conheci várias empregadas. Tanto as que saem como as que as vêm substituir, são sempre de uma extrema simpatia, cordiais, solícitas, eficazes, competentes e, normalmente, muito bonitas. Com corpos esculturais, mulheres jovens mas já maduras e de grande beleza, não se lhes consegue ficar indiferente...
Mesmo que não tencione comprar nada, às vezes passo por lá só para ver se há novas colecções. Porém, de há um mês para cá, tenho-a visitado com maior frequência do que o habitual.
Bem...porquê escondê-lo? Confesso que tenho ido à loja só por causa dela. Está na loja há pouco tempo, é nova, trigueira, salpicada por umas quase imperceptíveis manchas acastanhadas, que fazem lembrar pequenas sardas, e que lhe dão um atractivo especial, inexplicável, de sonho.
É a sensação de uma maciez aveludada, aquilo que sinto, quando, casualmente, os meus dedos lhe tocam, provocando-me um arrepio incontrolável no corpo. Suspiro baixinho, disfarço, as ideias atropelam-se-me em turbilhão e tento controlar o desejo louco de a ter. Evito que se perceba. Se calhar, sem sucesso...
Mas...
Um choque, um aperto no coração, foi o que senti no outro dia.
À porta, ainda não tinha entrado, vejo-a pendurar-se no pescoço de um homem jovem, bem constituído, que lhe sorria, que a afagava. Pelo vidro translúcido da porta, espreitava-os e adivinhava-lhes, com inveja, um ar de grande felicidade!
Nem cheguei a entrar. Dei meia volta e regressei a casa roído de ciúmes, recriminando-me pelo meu feitio inseguro e indeciso.
Pelo caminho tentei desvalorizar o inesperado episódio. Nos tempos modernos essas atitudes são triviais, as mudanças são comuns, as aparências nem sempre traduzem a realidade e, portanto, não devia preocupar-me demasiado.
Ontem decidi-me! Venci aquela estúpida indecisão, aquele marasmo, e resolvi passar pela loja ao fim do dia. Ganharia coragem e diria a verdade! Revelaria aquilo que me trazia o coração apertado. Não perdia nada com isso, monologava eu comigo mesmo... Assim acabaria com o sofrimento que me atormentava e que não tinha razão de ser!
Cheguei lá, procurei-a avidamente com os olhos. Mas não a vi!
Perguntei por ela, ansioso.
A empregada que me atendeu disse-me que aquela bela e cara gravata de seda italiana, de um padrão invulgar, era exemplar único e que a tinham vendido no dia anterior...
Rui Felício
Blog Encontro de Gerações
01 setembro 2012
«respostas a perguntas inexistentes (210)» - bagaço amarelo
Às vezes, não sei bem porquê, há pequenas insignificâncias que se escrevem na minha memória de forma tão vincada que nunca mais me esqueço delas. Como se fossem um carimbo, surgem de vez em quando no meu raciocínio sem razão aparente. Normalmente são olhares. Chego a ficar anos sem me lembrar deles, mas num determinado momento relembro-os com tal frescura que parece que foi ontem que os vi.
Lembro-me, por exemplo, de ver dois homens a segurarem uma gaivota viva em Lagos, no Algarve, durante umas férias que fiz ali em criança. Eu tinha sete anos, portanto isto foi há trinta e três. Eu ia para a praia com o meu pai e a minha mãe, e vi-os pela janela de trás do carro. Lembro-me perfeitamente que um deles tinha uma camisa vermelha e o outro uma t-shirt branca e suja. A gaivota tentava soltar-se em vão e o homem da camisa vermelha, que lhe segurava o bico e uma das asas, fitou-me prolongadamente até o carro desaparecer numa curva. Era um olhar ameaçador, pelo menos na perspectiva duma criança, e assustou-me.
Outra memória é de há dezassete anos, numa esplanada em Praga, na República Checa, onde me sentei para beber uma cerveja com uma brasileira que tinha acabado de conhecer. Pois bem, nessa tarde em que nos sentámos na esplanada, numa outra mesa estava uma criança com uma máscara de caveira que nunca deixou de olhar para mim. Devo ter estado ali sentado quase uma hora com a máscara sempre a olhar na minha direcção. Fiquei de tal forma incomodado com aquilo que a certa altura me levantei e dirigi-me a ela. A criança fugiu, desaparecendo por entre a multidão de Národní Trída, e os adultos que estavam na mesma mesa nem sequer se mexeram. Só aí é que percebi que nem sequer eram parentes. Nunca mais a vi, mas também nunca mais me esqueci.
Já reconheci estes dois olhares várias vezes na minha vida noutras pessoas e situações. O olhar ameaçador do homem que prendia a gaivota e o olhar quieto, ameaçador e escondido da máscara daquela criança checa. Reconheci-os em entrevistas para empregos, nas alas de segurança de vários aeroportos ou em simples balcões de atendimento público. Reconheço-os por aí de vez em quando, e é quando os torno a lembrar como se fossem uma recordação de ontem.
Memorizo de tal forma alguns olhares que já pensei em catalogá-los por níveis de ameaça e de Amor. É só uma brincadeira, claro, mas ontem, enquanto tomava café, fiz uma tabela numa folha com vários olhares de que não me esqueço, incluindo os dois que já referi, e estabeleci para cada um deles uma intensidade emocional. Tenho lá olhares com apenas alguns meses e outros com muitos anos. O olhar da minha mãe quando me encontrou depois de eu ter fugido de casa em criança, que deve ter uns trinta e dois anos; o olhar da minha filha ao meu colo, em bebé, que tem onze anos; o olhar da Raquel quando me apaixonei por ela, que tem três anos e meio. Enfim, defini ao todo mais de quarenta olhares de que não me esqueço.
Acabei de beber o café e pedi uma cerveja. Estava só num bar em Aveiro e fui deixando o tempo passar enquanto olhava fixamente pela janela. Ainda tinha o meu moleskine aberto na tabela dos olhares quando, a duas mesas de mim, uma mulher e um homem começaram a discutir. Era nitidamente um discussão conjugal e, apesar de ela tentar falar baixo, ouvia-se nitidamente tudo o que dizia. Ele estava calado como uma criança envergonhada, de olhos postos no chão.
Acrescentei esse olhar à minha tabela. Era um olhar fugitivo, um olhar para o chão para não enfrentar a discussão. Um olhar de quem já Amou mas agora vê esse Amor como uma armadilha. Está preso, quer sair e não sabe como. Já se esqueceu do que é o Amor. E foi isso que escrevi.
bagaço amarelo
Blog «Não compreendo as mulheres»
Taça metálica com publicidade
Taça de publicidade aos «douches Queroy», que pode servir de cinzeiro ou de "vide-poche" (para guardar objectos da algibeira... e, a partir de agora, outros objectos da minha colecção).
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