06 janeiro 2013
05 janeiro 2013
«respostas a perguntas inexistentes (219)» - bagaço amarelo

Às vezes, alguns períodos da nossa vida que nos souberam particularmente bem tendem a dissipar-se com o tempo, de tal forma que deixamos de ter a certeza se os vivemos ou sonhámos. É o que acontece com as recordações de algumas paixões efémeras uns anos depois, quando entramos numa fase mais estéril de emoções.
A Sara gostava de se deitar no imenso tapete relvado que se estendia naquela zona da cidade de Lisboa, e de encontrar um ângulo em que não avistasse nenhum dos prédios silenciosos que o povoavam.
- Só o céu! - dizia ela.
Eu deitava-me devagar ao lado dela e ficava a olhar para as árvores com a plena consciência que os nossos mundos próximos se separavam ali, naquele nosso silêncio sepulcral acompanhado duma espécie de dor de parto, enquanto os meus dedos duma das mãos tocavam nos dedos dela como se tocassem piano uns nos outros.
Era tão estranho quanto agradável, saber que nunca nos apaixonaríamos um pelo outro mas que tínhamos disponibilizado um mês inteiro do Verão para estarmos juntos. Acordávamos com um beijo, eu fazia sempre o almoço e ela sempre o jantar, entre passeios em espiral pela cidade cujos lábios tocam o Tejo. Éramos um casal, sem o ser de facto.
Ao fim da tarde deitávamo-nos ali e fugíamos por momentos um do outro, creio eu que para regressar às nossas vidas anteriores, cada um com o seu Amor, e também ao futuro, cada um sabe-se lá com quem. De vez em quando ela perguntava-me se eu não queria tentar enquadrar só o céu, como ela fazia, para sentir que estava a planar e a distanciar-me da Terra.
- Só as árvores! - dizia eu.
As árvores, melhor do que ninguém, sabiam como eu me sentia naqueles dias, e talvez por isso ficassem ali a olhar para mim como um médico que ausculta um doente. Diziam-me para ter calma e depois deixavam o vento segredar-lhes uma dança improvisada entre as folhas. Da mesma forma que os meus dedos tocavam nos da Sara, os seus ramos tocavam uns nos outros.
Hoje passei a manhã a lembrar-me desta fase da minha vida sem, no entanto, ter a certeza que aconteceu.
bagaço amarelo
Blog «Não compreendo as mulheres»
Livro «Fios condutores» de João Cutileiro
Edição em papel reciclado e executada à mão, feita em exclusivo para o Centro Cirúrgico de Coimbra.
Este exemplar, nº 49 de uma edição de 100, numerado e assinado pelo autor, foi oferecido pelo seu presidente do Conselho de Administração, Dr. António Travassos, à colecção «a funda São». Os 42 desenhos de João Cutileiro são complementados com poemas e outros textos de vários autores (António Machado, Frederico García Lorca, Luís Vaz de Camões, Fernando Pessoa, Gomes Leal, Armindo Rodrigues, José Saramago, Alexandre O'Neill e do próprio João Cutileiro).
Num pequeno texto introdutório, António Travassos explica o que têm em comum um lápis e um bisturi: "Um e outro abrem caminhos e seguem Fios Condutores (...) A matéria é a mesma: o corpo".
Que bela e valiosa prendinha!...
Para quem queira consultar os conteúdos, esta obra tem também uma versão digital, acessível aqui.
Este exemplar, nº 49 de uma edição de 100, numerado e assinado pelo autor, foi oferecido pelo seu presidente do Conselho de Administração, Dr. António Travassos, à colecção «a funda São». Os 42 desenhos de João Cutileiro são complementados com poemas e outros textos de vários autores (António Machado, Frederico García Lorca, Luís Vaz de Camões, Fernando Pessoa, Gomes Leal, Armindo Rodrigues, José Saramago, Alexandre O'Neill e do próprio João Cutileiro).
Num pequeno texto introdutório, António Travassos explica o que têm em comum um lápis e um bisturi: "Um e outro abrem caminhos e seguem Fios Condutores (...) A matéria é a mesma: o corpo".
Que bela e valiosa prendinha!...
Para quem queira consultar os conteúdos, esta obra tem também uma versão digital, acessível aqui.
04 janeiro 2013
51
Um sorriso enorme. Alberto quando saiu da casa de
banho, de banho tomado, trazia um sorriso enorme. Um sorriso proporcional ao
desejo que sentia, ainda que, naquele momento, só o sorriso sinalizasse o
desejo, pois, o membro continuava flácido, molemente a apontar para o chão a
imitar teca do quarto do casal.
Deitada na cama, Arlete desviou a custo os olhos da
televisão quando ouviu o marido tossir e repetir a tosse enquanto permanecia imóvel
em pé junto à cama. – Não te vestes? – perguntou, voltando o olhar para a
televisão antes mesmo de acabar a frase.
Alberto respirou fundo e informou-a: – Estava a
pensar foder.
Arlete sentiu um arrepio, os palavrões excitavam-na.
Excitavam-na sempre, ainda que o marido não soubesse. – Alberto! – censurou. – Que
modos são esses?! Sabes muito que eu não gosto de palavrões.
O marido permaneceu de pé, imóvel. – Não o estava a
dizer como um palavrão. Foder, neste caso, era apenas um verbo. Uma coisa que
eu queria fazer contigo.
– Há outros termos – replicou Arlete. – Não é preciso
seres ordinário!
– Mas se eu te quero foder – justificou-se Alberto,
em tom quase infantil.
– Alberto!
– Queres que eu diga o quê? Que quero fazer amor?
– É uma hipótese mais correcta.
– Eu não quero fazer o amor. – Alberto encheu a boca
com o “o” e a mulher olhou-o espantada. Ele continuou como se cada palavra
fosse o “o” da frase anterior: – Estou farto de fazer amor contigo, foda-se,
hoje quero foder-te. Fo-der-te. Fodermos mesmo. – Alberto recuperou o sorriso
com que saíra da casa de banho e até o membro ganhou alento e alegria com a assertividade
com que ele falara.
– Já não temos idade para isso, Alberto –
destrunfou-o a mulher com matreira meiguice, erguendo suave e compreensivamente
as sobrancelhas. – Agora ou fazemos amor ou uma espécie de sexo pré-terceira
idade. Foder já não é para nós. – Arlete não conseguiu evitar o embaraçado sorriso
lascivo que dizer a palavra lhe causou.
– Que raio… – Alberto hesitou, engoliu em seco e
pensou na resposta. O tema da idade fodia-o e ela sabia-o bem. Ainda estava a
ultrapassar o trauma de fazer os cinquenta e já tinha cinquenta e um. “Foda-se”.
O membro encarquilhou e tornou a apontar para o chão. A mulher manteve um
propositado olhar terno e indiferente mas esperava, esperava mesmo, que ele se
rebelasse, que insistisse. Que a quisesse.
Alberto olhou para a porta da casa de banho e para a
porta do quarto, ambos abertos. Haviam esperado tantos anos por privacidade na
própria casa e agora que a tinham faziam um amor modorrento, quase assexuado
por vezes, num silêncio envergonhado, como se os filhos continuassem em casa.
– Foda-se – exclamou o homem. A mulher e o membro redobraram
a atenção; tudo se decidia ali. – Quero-te comer, Arlete. Quero ser comido. Que
se foda a idade. Vamos mostrar-lhe que não somos só fodidos por ela, que também
fodemos com ela. Quero foder-te, Arlete. Foder-te. Agora. Aproveitar a casa.
Aproveitar estarmos sozinhos. Aproveitar querermo-nos. Termo-nos! Que se foda a
idade. Vamos foder como se tivéssemos 20 anos outra vez!
Arlete sorrindo aproximou-se do marido e estendeu a mão
para o membro que também sorria ainda que não se visse. – Queres voltar a foder
no carro, é?
– Foda-se…
Vive l'orgasme!
Há quem diga que o orgasmo é como andar de montanha russa.
Obscenatório
http://obscenatorio.wordpress.com/ - e o blog Obscenatório também vai sobreviver à censura!
Vestido azul
foto tirada em Almograve
Em cada dobra desse azul de cetim
fervilham-te os dedos miúdos,
enrolados na linha branca que baloiça
na bainha do teu vestido mágico,
onde céu e mar se fundem no dourado da tarde,
na frescura inocente da tua pele clara.
A sandália branca enterrada na areia
é a espuma das ondas que beijam a terra…
E assim caminhas, sonhando,
enquanto mimas o vento endiabrado
que salta, voa, empurra,
puxando-te para a frente e para trás
como se fossem bailarinos
de uma dança sem coreografia!
Corri e fui ter com as rochas do paredão…
Rugidos de água salgada explodiam,
uma orquestra infernal em rodopio:
trombones e contrabaixos,
bombos e fagotes abafavam qualquer violino.
Enquanto o mar engolia aquele pedaço de pedra
que um dia se transformaria em areia fina,
em bicos de pés e com o vestido molhado
estendi-me ao sol na inclinação a Sul,
já o granito se tornara mais loiro e macio.
Parecia um escorrega, mas os tentáculos dos moluscos
eram autênticas ventosas que me permitiam
percorrer as zonas mais perigosas
como se fosse uma menina do mar!
Lua Cósmica
http://luacosmica.blogspot.pt
03 janeiro 2013
To Fuck With Love
Dois poemas retirados de The Love Book, de Lenore Kandel.
TO FUCK WITH LOVE PHASE III
to fuck with love
to love with all the heat and wild of fuck
the fever of your mouth devouring all my secrets and my alibis
leaving me pure burned into oblivion
the sweetness UNENDURABLE
mouth barely touching mouth
nipple to nipple we touched
and were transfixed
by a flow of energy
beyond anything I have ever known
we TOUCHED!
and two days later
my hand embracing your semen-dripping cock
AGAIN!
the energy
indescribable
almost unendurable
the barrier of noumenon-phenomenon
transcended
the circle momentarily complete
the balance of forces
perfect
lying together, our bodies slipping into love
that never have slipped out
I kiss your shoulder and it reeks of lust
the lust of erotic angels fucking the stars
and shouting their insatiable joy over heaven
the lust of comets colliding in celestial hysteria
the lust of hermaphroditic deities doing
inconceivable things to each other and
SCREAMING DELIGHT over the entire universe
and beyond
and we lie together, our bodies wet and burning, and
we WEEP we WEEP we WEEP the incredible tears
that saints and holy men shed in the presence
of their own incandescent gods
I have whispered love into every orifice of your body
As you have done
to me
my whole body is turning into a cuntmouth
my toes my hands my belly my breast my shoulder my eyes
you fuck me continually with your tongue you look
with your words with your presence
we are transmuting
we are as soft and warm and trembling
as a new gold butterfly
the energy
indescribable
almost unendurable
at night sometimes I see our bodies glow
![]() |
| Claude Fauville, Os Amantes |
GOD/LOVE POEM
there are no ways of love but / beautiful /
I love you all of them
I love you / your cock in my hands
stirs like a bird
in my fingers
as you swell and grow hard in my hand
forcing my fingers open
with your rigid strength
you are beautiful / you are beautiful
you are a hundred times beautiful
I stroke you with my loving hands
pink-nailed long fingers
I caress you
I adore you
my finger-tips… my palms…
your cock rises and throbs in my hands
a revelation / as Aphrodite knew it
there was a time when gods were purer
/ I can recall nights among the honeysuckle
our juices sweeter than honey
/ we were the temple and the god entire/
I am naked against you
and I put my mouth on you slowly
I have longing to kiss you
and my tongue makes worship on you
you are beautiful
your body moves to me
flesh to flesh
skin sliding over golden skin
as mine to yours
my mouth my tongue my hands
my belly and my legs
against your mouth your love
sliding…sliding…
our bodies move and join
unbearably
your face above me
is the face of all the gods
and beautiful demons
your eyes…
love touches love
the temple and the god
«De quatros na mão» - Patife

Patife
Blog «fode, fode, patife»
Luís Gaspar lê «Amo-te» de Ricardo Vercesi
"Acordo para mais um dia. Custa a respirar.
O sol já não brilha como dantes. O horizonte marca-se a cinza.
Já nada faz sentido. Os segundos arrastam-se no relógio. Até o tempo marca passo.
Não te vejo. Somos uma sombra do que fomos. Outrora…
Sempre fomos tão errados um para o outro. Água e azeite.
Mas fazes parte de mim. Como o Sol e a Lua, jogando às escondidas.
Talvez por isso, já não falamos. Já mal olhamos um para o outro
Como o Sol e a Lua somos eclipse. E mesmo assim…
És o meu mundo. Sem ti, nada funciona.
Os dias arrastam-se. Não vejo, Não ouço. Não sinto o gosto da vida.
Falta-me o equilibrio. Falta-me o ar. Faltam-me as palavras.
Falta-me a coragem para te abraçar, com medo que me rejeites.
E mesmo assim…amo-te."
Ricardo Vercesi
Ouçam este poema na voz d'ouro de Luís Gaspar, no Estúdio Raposa
O sol já não brilha como dantes. O horizonte marca-se a cinza.
Já nada faz sentido. Os segundos arrastam-se no relógio. Até o tempo marca passo.
Não te vejo. Somos uma sombra do que fomos. Outrora…
Sempre fomos tão errados um para o outro. Água e azeite.
Mas fazes parte de mim. Como o Sol e a Lua, jogando às escondidas.
Talvez por isso, já não falamos. Já mal olhamos um para o outro
Como o Sol e a Lua somos eclipse. E mesmo assim…
És o meu mundo. Sem ti, nada funciona.
Os dias arrastam-se. Não vejo, Não ouço. Não sinto o gosto da vida.
Falta-me o equilibrio. Falta-me o ar. Faltam-me as palavras.
Falta-me a coragem para te abraçar, com medo que me rejeites.
E mesmo assim…amo-te."
Ricardo Vercesi
Ouçam este poema na voz d'ouro de Luís Gaspar, no Estúdio Raposa
«Hypocrisy between sexuality and violence» - por Luis Quiles

"Este es el segundo dibujo que me han eliminado en la página web DeviantART, en este caso porque el esperma o cualquier cosa que lo simule o lo parezca es considerado pornografía, sin importar el sentido del dibujo.
Lo gracioso es que si en este mismo dibujo cambio el color del fluido por rojo simulando sangre, no habría ningún problema, es decir, no puedo cubrirla de esperma pero puedo cubrirla de sangre, como si fuera lo mas normal del mundo.
Lo de siempre, la aceptación de toda clase de violencia sin sentido y la represión total de la sexualidad de la gente."
Luis Quiles
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