11 janeiro 2013

Agosto

Ana pousou o cotovelo esquerdo na mesa da esplanada e o queixo na palma da mão; os dedos tapavam-lhe a boca e as lentes dos óculos escuros os olhos. Provavelmente, se pudesse, não tapava nada mas também já não estava ali. Respirou fundo, afastou os dedos para o lado, inclinando um pouco a cabeça para a esquerda e tentou falar sem conseguir. Tinha um nó na garganta, um nó mesmo, um nó que a impedia de falar mas também de desabar num choro compulsivo ou numa torrente de palavrões e injurias. Ele parecia-lhe calmo, quase feliz. Parecia-lhe que, se ele não o estivesse a evitar, os seus lábios cresceriam até tocar nas orelhas num sorriso ofensivo. Maldoso. Tornou a respirar fundo, tentando perceber se, se insistisse em falar e, assim, em perder parte do auto-domínio, se chorava ou se o mandava à merda mas não conseguia decidir-se: eram muitos ses.
– Se não me dizes nada, vou-me embora – forçou ele, convencendo-a definitivamente que a única coisa a fazer era chamar-lhe nomes: chorar estava fora de questão.
Ana sorriu e encolheu os ombros. Mordeu o lábio superior, enquanto desapoiava o queixo e o olhava de frente. Tirou os óculos.
– Queres que eu te diga o quê? – ouviu-se perguntar.
– Qualquer coisa.
– Qualquer coisa, o quê? – Fechou as hastes dos óculos e pousou-os na mesa. – Qualquer coisa que te diminua a culpa? Que te ajude a ultrapassar o que fizeste? – Rodou os óculos com o indicador esquerdo. – Qualquer coisa com que possas justificar a merda de pessoa que és?
– Se é para desconversares, a conversa acaba já aqui.
– És uma merda, o que é queres que eu te diga?
– Eu não estou a ser mal-educado…
– Foda-se – Ana falava sem levantar a voz. – E eu estou? Por dizer merda e foda-se? – Paulo baixou a cabeça, confirmando. Ana sorriu tristemente. – Ou por te comparar à merda sem que a merda tenha culpa nenhuma?
– Eu podia não te ter dito nada – disse ele como se fizesse diferença.
– Podias mas o problema não é dizeres, foi fazeres. Estares a dizê-lo agora...
– Quis ser honesto contigo…
– Obrigadinho. – Ana abanou a cabeça e tornou a respirar fundo. – Mas não, não quiseste ser honesto comigo, quiseste aliviar-te da culpa. Quiseste transmiti-la, passar-ma. Contaminar-me com as tuas merdas. – Sentia-se cada vez mais lúcida e calma. – Se quisesses ser honesto não fazias, o resto são desculpas. É a forma que estás a arranjar para viveres contigo e, de preferência, conforme a minha reacção, de justificares à posteriori o que fizeste. Como se a culpa fosse minha.
Paulo abriu a boca para falar. Ana levantou a mão e ia continuar mas hesitou e concluiu:
– Não precisas de me dizer mais nada, Paulo. Aliás, não precisamos de dizer mais nada um ao outro.
– Eu não queria que as coisas ficassem assim…
– Vai-te foder! – Ana empurrou a cadeira para trás, agarrou o guardanapo que tinha no colo, passou-o pelos lábios, pô-lo ao lado do prato, levantou-se e foi-se embora.

Você já viu um OBNI?

OBNI - Objeto Bundístico Não Identificado.

É o que parece o caso desta mulher depois de um implante na bunda mal sucedido:



Obscenatório
Há poucas semanas censurado pelo wordpress.com
Agora de novo ao vivo em http://obscenatorio.blogspot.com.br/

Serpente de duas cabeças



Terra de indigentes,
esfomeados de espírito sem alma,
corrompidos pela sede inesgotável de poder
fervilham num caldeirão de demência…

Ela, loira, do alto do seu poleiro germânico
cospe o veneno nazi que lhe corre nas veias,
ele, comido no seu porte de moribundo com sotaque francês…
São duas cabeças de um monstro de estrelas,
duas maiores do que o conjunto das 27 ou 17…
Uma a uma caindo na escuridão das cavernas,
no retrocesso histórico da humanidade…

Serpente de duplo pescoço destilas saliva ácida,
escorregadia e fedorenta,
e com ela cozinhas a poção mágica do Apocalipse…
Mas nem tu sobreviverás à tua maléfica receita…

O furacão da Bretanha prepara-se para o ataque
e aponta os canhões como na guerra dos 100 anos.
Protegidos pela lucidez dos ventos gelados do Norte,
Suécia e Finlândia renegam esse canto de feiticeira,
víbora disfarçada de musa sedutora
que deseja degolar Ulisses e anunciar a sua morte!

Lua Cósmica
http://luacosmica.blogspot.pt

Mas... mas... mas que é isto?!


10 janeiro 2013

António Zambujo e Raquel Tavares - «Para que quero eu olhos»

«Picha de dança» - Patife

Há mulheres que dão nas vistas. Aquela dava nas pichas. Podia dar-lhe para pior. E dar nos hidratos de carbono, no sal refinado ou assim. Mas não. Dava apenas nas pichas. E dava de tal maneira nas pichas que imaginar uma queca entre esta estouvada da crica e aqui o mestre da zarabatana era como juntar a fome à vontade de foder. Na noite em que a conheci, estávamos num evento chique e ela estava toda armada do alto dos seus grandes tacões. Lembro-me de olhar para ela e pensar: Tanto tacão e eu que só quero meter o taco na cona. Desculpem. Há limites para a ordinarice. Eu sei. Agora fui longe demais. Fui eu agora e o meu nabo nessa noite. Estou em crer que lhe cheguei a tocar com o Pacheco no diafragma e reparem que ela não me estava a abocanhar a lentrisca. É que a magana saltou-me para cima e só lhe faltou dançar o samba com a pachacha em cima do meu besugo. Caiu para o lado extenuada, quatro horas depois de abrir a picha de dança. Gosto muito quando vou a casa delas e lhes dou uma pinada do caralho. Como sou bem educado, no final, enquanto me esgueiro sorrateiramente do quarto para fora, deixo-lhes sempre algo para as fazer recordar de tal mágico momento assim que acordarem. Quem pensou numa rosa ou num bilhete pode ir corar de vergonha e ir tratar da pirosice crónica. Eu falo de nhanha. Não apenas de umas gotinhas. Falo de doses massivas de nhanha. Por vezes tenho momentos de cavalheirismo assim. Quando o Patife quer, o Patife capricha. Capicha.

Patife
Blog «fode, fode, patife»

Mapa do céu

Ao longo do caminho percorrido a dois ele conseguiu tocar cada centímetro do corpo dela com alguma parte do seu.

Contra factos há argumentos



HenriCartoon

«Ladyboy» - por Luis Quiles


"Este es el último trabajo que me han eliminado de deviantART, digo el último aunque no creo que lo sea.
La idea de este dibujo es que puede ser una simple chica con una foto de otra persona en la imagen del teléfono superpuesta sobre su cuerpo, o puede que realmente sea un ladyboy."


Luis Quiles

09 janeiro 2013

In_Consequência


Nada me ofereceu a benção de me blindar dos erros que não me blindasse também da vida. 
E eu prefiro viver. 
Se alguém conhecer essa mágica e inconsequente benção que nunca encontrei, não ma explique, 
é que foi dos erros que me nasci eu.


«Quem é a Sónia?» - bagaço amarelo

Imagino que a Sónia morreu. É uma das coisas que costumo fazer quando estou triste e me sento ao balcão dum bar a beber uísque como se não houvesse amanhã, imaginar que alguém de quem eu gosto muito acabou de morrer. Depois sofro, e embora tenha plena consciência de que estou a sofrer devido a uma mentira que eu próprio acabei de inventar, sofro realmente. Sofro tanto que acabo por chorar.
Pois bem, a Sónia morreu e as minhas lágrimas caem no balcão gasto do bar como uma chuva triste. A empregada, uma mulher que aparenta ter uns dez anos a menos do que eu, pega no meu copo vazio e pergunta-me se quero outro. Que é oferta da casa, diz com uma voz tão macia quanto uma cama com lençóis lavados e passados. Eu aceno que sim com a cabeça e sorrio-lhe.
Adoro mulheres que amaciam os modos e a voz quando vêem um homem triste. Aprendi, durante os meus quarenta anos de vida, que são o tipo de mulheres com as quais um homem não pode contar, porque quem amacia a voz dum momento para o outro também é capaz de a endurecer. Mas adoro-as na mesma. Com uma mulher de voz macia, sou capaz de passar uma noite inteira mesmo que essa noite me pareça uma eternidade.
Estas mulheres são assim, tão próximas e distantes de mim que ao pé delas não consigo ser muito mais do que um snobe idiota. Embora já esteja num estado adiantado de embriaguez e quase sem dinheiro, a seguir vou pedir outro para lhe demonstrar que só aceitei o uísque de oferta porque realmente me apetecia bebê-lo. No fim pago a conta e deixo gorjeta, apesar de provavelmente não me sobrar dinheiro para comer o resto da semana.
Os últimos clientes, uns tipos que passaram a noite com risinhos estúpidos numa mesa do canto, estão agora a sair. Deixam-me sozinho com a empregada e as minhas lágrimas param. Nem outra coisa podia acontecer, comigo na presença exclusiva duma mulher tão bonita. Agora sinto-me feliz, mas a verdade é que não posso sorrir. Uma mulher pode certamente gostar dum homem triste ou dum homem feliz, mas detesta sempre um que seja as duas coisas.
Cheguei ao ponto em que a voz se enrola na minha língua e o meu raciocínio se atola neste pantanoso terreno de desejo e uísque. De dois em dois minutos endireito o corpo encurvado e penso em qualquer coisa para dizer à única mulher da minha noite, uma empregada de bar que agora acende um cigarro pensativo e silencioso. Imagino-a como minha mulher, imagino-me como homem dela. Talvez estivesse ali no mesmo sítio, se fosse assim, mas sóbrio e a ter sexo com ela. Ambos apoiados no balcão e a suar.
O meu olhar cansado pousa no corpo dela, como um abutre que se prepara para devorar um cadáver. Mas eu não preparo nada. Ela pede-me que pague e é o que eu faço. Depois saio.
Na cidade todos têm onde passar a noite. Até os insectos que já se instalaram no calor dos candeeiros das ruas, até os cães que já se aninharam junto a uma árvore, até um sem abrigo que me olha desconfiado a partir dum vão de escada. Menos eu. Imagino que a Sónia me chama. É uma das coisas que costumo fazer quando estou só, imaginar que alguém de quem gosto muito me chama.
Quem é a Sónia?


bagaço amarelo
Blog «Não compreendo as mulheres»

XQ - «Mutaciones a través del género» [Performance Postporno]