Em França há uma tradição muito curiosa: as «chansons paillardes» (canções tradicionais libertinas, cantadas em privado, entre amigos), também conhecidas como «chansons de salles de garde». A página chansons-paillardes.net recolhe músicas, letras, publicações sobre o tema.
Um livro que comprei recentemente, «Anthologie des chansons paillardes» de Pierre Enckell, explica:
"Georges Brassens, Serge Gainsbourg,... muitos artistas marcaram a música popular e cantaram alegremente o erotismo e a sensualidade. Muitas vezes foram chamadas de «músicas de quartos de custódia», em referência aos internos dos hospitais, que supostamente as deveriam saber todas de cor, ou mesmo «canções de alunos», como se tivessem tido origem exclusivamente nas tradições perpetuadas em universidades e escolas. No entanto, as canções obscenas experimentaram uma distribuição extremamente ampla. Em todos os níveis da sociedade e em todas as ocasiões, os seus versos foram cantados ou gritados, desde há mais de um século, na cidade e no campo, nos quartéis e na vida civil, durante jantares de casamento ou viagens de autocarro. Estas «gaulesices» em verso formam, assim, um fundo cultural amplamente compartilhado, condenado a viver para sempre na memória colectiva de França. Transmitida de boca em boca, com o passar das gerações e transformações culturais, as canções deformam-se, perdem elementos ou caem gradualmente no esquecimento."
As colectâneas, estudos e gravações ajudam a preservar esta tradição.
Na minha colecção, além dos livros que já tinha, há agora 5 discos em vinil da colecção «Prazer dos Deuses»:
19 março 2013
18 março 2013
«respostas a perguntas inexistentes (227)» - bagaço amarelo
Se houve vezes em que andei na rua com muita pressa foram aquelas em que não tinha para onde ir, não tinha companhia nem tinha disponibilidade para contemplar fosse o que fosse. Quando não se tem nada, andando depressa parece que se tem tudo, pelo menos um destino e vontade de lá chegar.
Aprender a parar quando se está andar depressa demais para lugar nenhum é uma coisa que vem com o tempo. A mim, para além do tempo, foi uma mulher que mo ensinou. Foi por isso que nunca mais me esqueci dela.
Um dia pôs a mão dela no meu peito e disse-me para parar.
- Pára!
Estava simplesmente a fazer o jantar para os dois, depois de um dia em casa a ver filmes ao lado dela. Tinha descascado umas batatas para cozer e descongelado umas postas de pescada. Estava a cortar cebola e salsa para fazer o molho verde quando ela me perguntou o que é que eu estava a fazer.
- O jantar, claro.
- Eu não tenho fome. Tu tens? - disse ela.
- Não tenho, mas são horas de jantar.
Senti imediatamente o quão ridículo era o que eu tinha acabado de dizer. Estava escravo do relógio e fazia o jantar da mesma forma que andava apressadamente nas ruas sem ter para onde ir, para fingir que tinha tudo quando não tinha nada. Neste caso não a tinha a ela.
Nunca a tive, de facto, mas foi ela que me ensinou a parar.
bagaço amarelo
Blog «Não compreendo as mulheres»
Luís Gaspar lê «Encanto» de Cristina Miranda
"Tinha dito,
em jeito atabalhoado
que havia arrumado a palavra.
Mas vi-te usá-la com tal cuidado
que me escondi no silêncio.
Não te zangues,
nem deixes de me olhar
como só tu fazes,
com esses olhos juvenis,
ouso dizer, de criança,
de menina de tranças…
Olhei-te
enquanto a embalavas.
De ti,
guardo o aroma
este cheiro doce que me viste roubar
do ninho onde cuidas as palavras bonitas.
Mas não me basta,
sabes que não!
Por isso corro,
escondo-me aqui,
o mais próximo de que sou capaz,
para te poder ver,
sem que me vejas.
Não te escrevo…
Não sei escrever cartas de amor,
pois que te disse que não pegaria mais nas palavras.
Maternas as tuas mãos
Maternos os teus braços
Maternos teus beijos, teus sorrisos,
Maternas até tuas lágrimas,
quando por mim choras,
querendo por tudo tirar-me do caminho,
as palavras feias em que agora pego…
Tu és tão bonita!
Comovem-se as minhas mãos,
soluçam,
embarga-se-lhes a voz
a ponto de não conseguirem responder-te!
Pudesse eu escrever uma carta de amor!…
Pudesse eu embalar-te até que adormecesses!…
Pudesse eu, e, ao aroma que guardo de ti,
juntava uma cor, um olhar,
esse teu, que sei de cor!
Traria três palavras bonitas,
dessas que alimentas
sempre que me mimas.
Pudesse eu,
e faria uma frase
para ir por depois, de novo
No parapeito do teu abraço.
Mas eu vou
devagarinho…
sem que me vejas, eu vou!
Dorme, meu anjo.
São tuas, mas vou usá-las,
fazê-las minhas,
só por um instante,
suficiente para te dar uma espécie de flor.
Quando acordares,
promete que olharás a janela
que saberás que fui eu que ta adornei
com um raminho feito de uma frase.
Voltarei sempre para cuidar dela,
Prometo-te!
Não sei escrever cartas de amor,
sabes que não,
mas esta frase é como se o fosse,
enquanto me escondi no silêncio
para te olhar,
sem que me visses,
e este:
Gosto de Ti,
cor do que sinto
sempre que estou contigo,
fica tão belo no teu regaço!"
Cristina Miranda
Ouçam este poema na voz d'ouro de Luís Gaspar, no Estúdio Raposa
em jeito atabalhoado
que havia arrumado a palavra.
Mas vi-te usá-la com tal cuidado
que me escondi no silêncio.
Não te zangues,
nem deixes de me olhar
como só tu fazes,
com esses olhos juvenis,
ouso dizer, de criança,
de menina de tranças…
Olhei-te
enquanto a embalavas.
De ti,
guardo o aroma
este cheiro doce que me viste roubar
do ninho onde cuidas as palavras bonitas.
Mas não me basta,
sabes que não!
Por isso corro,
escondo-me aqui,
o mais próximo de que sou capaz,
para te poder ver,
sem que me vejas.
Não te escrevo…
Não sei escrever cartas de amor,
pois que te disse que não pegaria mais nas palavras.
Maternas as tuas mãos
Maternos os teus braços
Maternos teus beijos, teus sorrisos,
Maternas até tuas lágrimas,
quando por mim choras,
querendo por tudo tirar-me do caminho,
as palavras feias em que agora pego…
Tu és tão bonita!
Comovem-se as minhas mãos,
soluçam,
embarga-se-lhes a voz
a ponto de não conseguirem responder-te!
Pudesse eu escrever uma carta de amor!…
Pudesse eu embalar-te até que adormecesses!…
Pudesse eu, e, ao aroma que guardo de ti,
juntava uma cor, um olhar,
esse teu, que sei de cor!
Traria três palavras bonitas,
dessas que alimentas
sempre que me mimas.
Pudesse eu,
e faria uma frase
para ir por depois, de novo
No parapeito do teu abraço.
Mas eu vou
devagarinho…
sem que me vejas, eu vou!
Dorme, meu anjo.
São tuas, mas vou usá-las,
fazê-las minhas,
só por um instante,
suficiente para te dar uma espécie de flor.
Quando acordares,
promete que olharás a janela
que saberás que fui eu que ta adornei
com um raminho feito de uma frase.
Voltarei sempre para cuidar dela,
Prometo-te!
Não sei escrever cartas de amor,
sabes que não,
mas esta frase é como se o fosse,
enquanto me escondi no silêncio
para te olhar,
sem que me visses,
e este:
Gosto de Ti,
cor do que sinto
sempre que estou contigo,
fica tão belo no teu regaço!"
Cristina Miranda
Ouçam este poema na voz d'ouro de Luís Gaspar, no Estúdio Raposa
Nem é legal crescer
Crianças, permaneçam crianças pelo máximo de tempo que conseguirem.
A vida de verdade é difícil, a vida de fantasia é melhor.
Capinaremos.com
A vida de verdade é difícil, a vida de fantasia é melhor.
Capinaremos.com
17 março 2013
A pecha
Sou um gajo aberto e sem teias de aranha na cabeça que até fui capaz de mostrar o rabo na frente da distinta escadaria da Assembleia da República na época das lutas estudantis. Grandes tempos esses em que até catrapisquei a minha moça entre manifestações e imperiais fresquinhas.
Hoje já a posso laurear como minha esposa por todo o sítio e ela merece que passa os dias a mimar-me com os meus pratos favoritos em cada jantar como fazia a minha mãezinha e nunca se queixa de dores de cabeça naquelas alturas em que queremos dar vazão à folia do nosso animalzinho de estimação. E assim faz sentido gastar o dinheiro que ganho como trabalhador temporário de uma empresa que me coloca noutra para lhe carregar os dados nos computadorezecos.
Apenas uma pequenita coisa me anda a inquietar e nem sequer é a fidelidade dela que nunca me deu motivos para pensar tal nem me parece galar os outros gajos pelo canto do olho, julgo eu. É que ela tem um cuzinho mesmo bem feitinho, tão redondinho e embaloado e com umas nádegas todas rijinhas e tão lisas e macias que quando se apalpam é logo um frenesim no piçaralho que se estica todo como o gajo da gávea quando via terra. Só que ela não se demove da teimosia de que ali nem supositórios entram.
Hoje já a posso laurear como minha esposa por todo o sítio e ela merece que passa os dias a mimar-me com os meus pratos favoritos em cada jantar como fazia a minha mãezinha e nunca se queixa de dores de cabeça naquelas alturas em que queremos dar vazão à folia do nosso animalzinho de estimação. E assim faz sentido gastar o dinheiro que ganho como trabalhador temporário de uma empresa que me coloca noutra para lhe carregar os dados nos computadorezecos.
Apenas uma pequenita coisa me anda a inquietar e nem sequer é a fidelidade dela que nunca me deu motivos para pensar tal nem me parece galar os outros gajos pelo canto do olho, julgo eu. É que ela tem um cuzinho mesmo bem feitinho, tão redondinho e embaloado e com umas nádegas todas rijinhas e tão lisas e macias que quando se apalpam é logo um frenesim no piçaralho que se estica todo como o gajo da gávea quando via terra. Só que ela não se demove da teimosia de que ali nem supositórios entram.
Sexo em link ao vivo sobre estupro
Em reportagem sobre estupro sexo é transmitido ao vivo:
Obscenatório
16 março 2013
«respostas a perguntas inexistentes (225)» - bagaço amarelo
As cortinas da sala estavam corridas e filtravam a luz do Sol que entrava, tingindo de vermelho o início do meu dia. Liguei o computador para começar a trabalhar assim que os ovos cozessem, e perdi-me numa floresta de pensamentos e associações de ideias. Desemprego, projectos pessoais e profissionais a realizar, compromissos políticos para cumprir, uma filha para educar e uma mãe que foi operada pela segunda vez em pouco tempo.
A água estava a ferver. Saí dessa floresta para ir buscar os ovos que, ao bater na panela, emitiam um som inquieto. Os meus dedos aquecidos mergulharam então na água fria com que os arrefeci. Tirei a casca a um deles e comi-o em apenas duas dentadas. Guardei os outros no frigorífico. Estalei os dedos, confusos por dois choques térmicos seguidos, e sentei-me a trabalhar. Não consegui.
Peguei no telefone e liguei à Raquel para um número cujo tarifário é, para mim, gratuito. Falámos um minutos ou dois e desliguei. Trabalhei quatro horas seguidas. As mulheres têm a mania de não perceber o quão importantes são no funcionamento na vida dum homem, na ignição dos seus pensamentos e acções. É por isso que parecem sempre tão longe, mesmo quando estão perto.
bagaço amarelo
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