16 março 2013

«respostas a perguntas inexistentes (225)» - bagaço amarelo

Fiz um chá de hortelã esta manhã. Antes de o beber, sentei-me no sofá a aquecer os dedos das mãos na chávena fumegante. Em silêncio total. A Raquel não sabe, mas por um momento apeteceu-me que ela estivesse ali ao meu lado só para encostar a cabeça no ombro dela por uns segundos.
As cortinas da sala estavam corridas e filtravam a luz do Sol que entrava, tingindo de vermelho o início do meu dia. Liguei o computador para começar a trabalhar assim que os ovos cozessem, e perdi-me numa floresta de pensamentos e associações de ideias. Desemprego, projectos pessoais e profissionais a realizar, compromissos políticos para cumprir, uma filha para educar e uma mãe que foi operada pela segunda vez em pouco tempo.
A água estava a ferver. Saí dessa floresta para ir buscar os ovos que, ao bater na panela, emitiam um som inquieto. Os meus dedos aquecidos mergulharam então na água fria com que os arrefeci. Tirei a casca a um deles e comi-o em apenas duas dentadas. Guardei os outros no frigorífico. Estalei os dedos, confusos por dois choques térmicos seguidos, e sentei-me a trabalhar. Não consegui.
Peguei no telefone e liguei à Raquel para um número cujo tarifário é, para mim, gratuito. Falámos um minutos ou dois e desliguei. Trabalhei quatro horas seguidas. As mulheres têm a mania de não perceber o quão importantes são no funcionamento na vida dum homem, na ignição dos seus pensamentos e acções. É por isso que parecem sempre tão longe, mesmo quando estão perto.


bagaço amarelo
Blog «Não compreendo as mulheres»