15 abril 2013

Luís Gaspar lê «Goles de paixão» de Gigi Manzarra

Embriago-me com o néctar do teu corpo nu!
 Como num cálice valioso, encosto os lábios quentes e sorvo aos poucos, bem devagar, o sabor tão doce que se desprende de ti.
 Permito sem lutar, que os efeitos etílicos se espalhem sem pudor por todos os meus inebriados sentidos.
Perdida no lascivo mergulho…e já bêbada de ti, em êxtase, prisioneira e algoz, te uso e me entrego a esse mágico encantamento de uma insidiosa e desmedida paixão, que transforma o vermelho do meu sangue no precioso néctar que roubo de ti.

Gigi Manzarra

Ouçam este poema na voz d'ouro de Luís Gaspar, no Estúdio Raposa

«conversa 1959» - bagaço amarelo

(na casa dela)

Eu - Ena! Tens este vinil?! Não acredito!
Ela - Não acreditas, porquê?
Eu - Este disco é raríssimo. "10000 anos depois entre Vénus e Marte", do José Cid... espectacular. Consegues vender isto por uns cem euros...
Ela - Não é meu, é do meu ex-marido e ele está farto de mo pedir.
Eu - Ah! Então e não lho dás? Se eu fosse o teu ex-marido já tinha cá vindo buscá-lo.
Ela - Eu até dava, mas estou com medo.
Eu - Medo de quê?
Ela - Há uns tempos precisava duma base para a mesa, para pousar a panela quente do jantar, e usei esse disco. Ficou um bocado estragado...
Eu - Fizeste o quê?!?!?!?!
Ela - Eu sabia lá... um disco do José Cid... pensei que fosse mais uma porcaria dessas que ele se esqueceu cá em casa quando se foi embora.
Eu - Fizeste o quê?!?!?!?!
Ela - Estás a ver? É dessa reacção que eu tenho medo...


bagaço amarelo
Blog «Não compreendo as mulheres»

Tenha cuidado

Planeje melhor suas atitudes.



Malditas janelas reflexivas do inferno.

Capinaremos.com

14 abril 2013

Aquele...


Foto: Christian Coigny
 
 
Aquele beijo. Aquele que não resistimos. Aquele onde nos entregamos. Aquele beijo que leva tudo. Aquele onde nascemos. Aquele beijo onde morremos. Que leva a alma. Aquele beijo que nos ruboriza. Aquele ao qual fugimos por breves segundos para o poder prolongar. Aquele beijo. Aquele que nos entreabre ligeiramente os lábios. Aquele beijo que começa tépido, calmo e termina quente. Explosivo. Aquele beijo que nos leva as forças. Fechamos os olhos para o sentir inteiro naquele único sentido que é o da alma. Aquele beijo desmedido e interminável. Aquele que é doce e levemente molhado. Aquele onde depomos o desejo de o querer para sempre. Aquele beijo sôfrego e que marca conquistas e momentos como uma bandeira. Aquele beijo que apetece. Aquele onde nos sentimos morar quando o corpo levita. Aquele. 

«You've Got Talent - Ucrânia - 5 - Anastasia Sokolova de Kiev»

«Namoro de antigamente» - por Rui Felício


O Senhor Fachada era respeitado, por ser o homem mais rico da aldeia.
Era também, ao mesmo tempo, admirado e temido.
Admirado pelo carácter, pela figura imponente de possante estatura, pela respeitável barba grisalha, Temido, pelo pausado e duro tom de voz que lhe fazia sair as palavras da garganta como pedras certeiras que feriam mais o interlocutor desprevenido do que o magoaria uma evenual chibatada do pingalim que volteava na sua mão quando alguma coisa lhe desagradava.
Falava telegráficamente, nunca se sabendo quais as ideias ou sentimentos que se digladiavam na sua austera cabeça, antes de sentenciar em poucas palavras, depois de longa reflexão, o veredicto final, decisivo, irrevogável e inapelável.
O Fueiro, polícia que trabalhava em Coimbra, vivia na aldeia, perto da igreja, numa tosca casa de calhau rolado, onde a chuva se infiltrava pelo telhado velho em noites de temporal.
Depois de dias e dias de indecisão, encheu-se finalmente de coragem, montou-se na bicicleta e foi à Quinta pedir para falar com o Sr. Fachada.
Mandaram-no entrar na grande sala onde o dono da Quinta jantava, desbarretou-se e ficou de pé em frente da enorme mesa, à espera de autorização para falar.
Longos minutos depois, a um aceno imperativo do Sr. Fachada, articulou nervoso:
- Venho pedir a mão da sua neta e pedir a sua autorização para casar com ela...
O velho continuou a sorver a sopa com grande ruido, tirou o guardanapo de linho do pescoço, afiou com o canivete um pau de salgueiro, palitou os dentes com uma lentidão exasperante e mandou a criada chamar a sua neta.
A Conceição entrou pouco depois, olhou de esguelha o Fueiro e especou-se em frente ao avô.
- Então namoravas com o Sr. Fueiro e eu não sabia, disse-lhe o avô, inquisitivo, sem conseguir disfarçar um tique no nariz que era o único sinal visivel do seu incómodo.
-Eu? Nunca falei com ele! Deve estar doido! Alguma vez eu namoraria com este cepo?
O Fueiro argumentou:
- Mas eu passo ao pé do muro da Quinta todas as tardes de bicicleta e buzino-lhe várias vezes menina Conceição! Como a menina nunca me disse para eu não buzinar...
O polícia fitou o Sr. Fachada aguardando uma resposta, já este se levantava da mesa, endireitando os vincos das calças, sem nunca deixar de escarafunchar os dentes com o palito.
Já à porta, antes de sair da sala, voltou lentamente a cabeça, mirou o Fueiro que amassava o chapéu entre as mãos e ordenou à criada:
- Vai lá fora e fura a buzina da bicicleta do Sr. Fueiro!

Rui Felício
Blog Encontro de Gerações
Blog Escrito e Lido

Trivialidades



Primeiro, Senhor Doutor, gostaria de lhe pedir o maior sigilo sobre a minha vinda aqui. Não é que não assuma o facto de o estar a consultar mas que necessidade tem toda a gente de o saber?... Uma coisa é dizer-lhe a si que é difícil aturar uma mulher como a Maria e outra, é contar os pormenores a toda a gente. Você é homem e entende-me que não fica bem comentar os defeitos de uma senhora.

Saiba o Senhor Doutor que quando alvitro que a refilisse dela se deve ao período, ela atira-me logo à cara que sou machista. Um gajo esforça-se e ela está sempre com detalhes. E depois, com aquela mania que ela tem de que a igualdade começa na cama e da porta de casa para dentro, o Senhor Doutor nem queira saber o que passo. Da última vez que lhe sugeri que estava na hora de fazer ski no Monte de Vénus completamente limpinho, não é que ela me disse que ia já fazer a marcação e de caminho arranjava também uma horinha para mim que estava farta de pêlos a meterem-se pelo nariz?... E ainda lhe digo mais; não é que um gajo está descansadinho a beber uma cervejinha e deixa a lata ou a garrafa vazia no sítio que está mais à mão e a Maria não perdoa e questiona-me logo se preciso de aumentar a graduação dos óculos para descobrir os ecopontos lá de casa, com o remoque adicional de que ambos sabemos que não são pilhões.

Sorte tinha o meu avô, Senhor Doutor, a quem a minha avó estava sempre a procurar o jeito. Agora a Maria exige-me que seja um expert na cama, um gajo bem humorado e com alguma cultura para conversar com ela e ainda quer que saiba fazer o mesmo que ela nas lides domésticas. O Senhor Doutor acha que é suposto um homem aguentar tanto?...

A diferença básica

E dizem que homens não fazem mais do que uma coisa de cada vez…



Homem super multiuso.

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13 abril 2013

Mulheres, aprendam a fazer uma salada

«respostas a perguntas inexistentes (231)» - bagaço amarelo

A Ana é uma mulher bonita. Como a conheço há alguns anos, já tinha reparado nisso muitas vezes. No entanto hoje, quando vi o seu reflexo na montra dum pronto-a-vestir, reparei duma forma diferente. Foi como se tivesse consciencializado pela primeira vez esse pensamento. Ali, do outro lado do vidro, a sua imagem misturava-se com a inquietante quietude dos manequins e ganhava vida.
Por um momento percebi o motivo pelo qual me costumo apaixonar por aí, de vez em quando, como quem bebe uma cerveja ou acende um cigarro na rua. Uma mulher faz com que todos os outros se assemelhem, por um momento que seja, a manequins. É ela quem ri, é ela quem chora, é ela a única que provoca no nosso corpo uma resposta emocional. Todos os outros são apenas bonecos que vestem uma roupa qualquer.
Ela estava a vestir o casaco e o reflexo dos nossos olhares cruzou-se por uma fracção de segundo. Vi-a sorrir. Tínhamos acabado de tomar o pequeno-almoço e eu só estava à espera de me poder despedir dela, numa despedida que fosse mais do que um simples acenar de mão ou um "até à próxima". Acabou de vestir o casaco e abracei-a.

- Com que então achas que é uma trabalheira... - disse eu enquanto abria os braços para a deixar fugir como se fosse um pássaro a fugir da gaiola.

Ela tinha comido uma torrada e bebido um sumo de laranja natural, eu tinha-me ficado por um café expresso sem açúcar. Mesmo assim demorámos mais ou menos o mesmo tempo a ingerir os pedidos. Ela ainda come e fala tão depressa como quando a conheci, há alguns anos atrás, e saímos juntos durante duas ou três semanas.
Esteve a explicar-me porque é que nunca mais saiu com ninguém. É que dá uma trabalheira envolver-se emocionalmente com um homem. É o trabalho de lhe conhecer o passado, o trabalho de enfrentar tudo aquilo vai descobrindo que não se gosta nele, o trabalho de desenhar o futuro a dois.

- Sozinha é tudo tão mais fácil! - concluiu

Ia perguntar-lhe qualquer coisa, mas desisti. Perante a prenda que era estar a vê-la a vestir o casaco, não me ia dar ao trabalho...


bagaço amarelo
Blog «Não compreendo as mulheres»

«La Gaudriole - chansonnier joyeux, facétieux et grivois»

Edição revista (sem data mas provavelmente de 1849) de um cancioneiro francês publicado, pela primeira vez, em 1834.
São 545 páginas com canções "alegres, divertidas e atrevidas".
Autores: Béranger, Désaugiers, Colé, Gouffé, Festeau, Cabassol, Jacquemart, Gilles, Simon, Albert-M, Duapin, Moinaux, etc., etc.






Um sábado qualquer... - «Adão»



Um sábado qualquer...