Por um momento percebi o motivo pelo qual me costumo apaixonar por aí, de vez em quando, como quem bebe uma cerveja ou acende um cigarro na rua. Uma mulher faz com que todos os outros se assemelhem, por um momento que seja, a manequins. É ela quem ri, é ela quem chora, é ela a única que provoca no nosso corpo uma resposta emocional. Todos os outros são apenas bonecos que vestem uma roupa qualquer.
Ela estava a vestir o casaco e o reflexo dos nossos olhares cruzou-se por uma fracção de segundo. Vi-a sorrir. Tínhamos acabado de tomar o pequeno-almoço e eu só estava à espera de me poder despedir dela, numa despedida que fosse mais do que um simples acenar de mão ou um "até à próxima". Acabou de vestir o casaco e abracei-a.
- Com que então achas que é uma trabalheira... - disse eu enquanto abria os braços para a deixar fugir como se fosse um pássaro a fugir da gaiola.
Ela tinha comido uma torrada e bebido um sumo de laranja natural, eu tinha-me ficado por um café expresso sem açúcar. Mesmo assim demorámos mais ou menos o mesmo tempo a ingerir os pedidos. Ela ainda come e fala tão depressa como quando a conheci, há alguns anos atrás, e saímos juntos durante duas ou três semanas.
Esteve a explicar-me porque é que nunca mais saiu com ninguém. É que dá uma trabalheira envolver-se emocionalmente com um homem. É o trabalho de lhe conhecer o passado, o trabalho de enfrentar tudo aquilo vai descobrindo que não se gosta nele, o trabalho de desenhar o futuro a dois.
- Sozinha é tudo tão mais fácil! - concluiu
Ia perguntar-lhe qualquer coisa, mas desisti. Perante a prenda que era estar a vê-la a vestir o casaco, não me ia dar ao trabalho...
bagaço amarelo
Blog «Não compreendo as mulheres»