Placa rectangular em bronze com uma cena erótica...
... com detalhes muito curiosos...
... como o quadro na parede:
A partir de agora, ficam apanhados na minha colecção.
25 junho 2013
24 junho 2013
«respostas a perguntas inexistentes (246)» - bagaço amarelo
Às vezes vou a casa duma amiga minha beber uma caneca de chá. Digo-o assim porque, por mais tempo que passe, é sempre para um chá que ela me convida. Seja de manhã, à tarde ou à noite, telefona-me de vez em quando e pergunta-me se quero ir beber chá. Admito que, não sendo um grande adepto dessa bebida, gosto muito do que ela faz e bebo-a com uma dose acrescentada de prazer. Não sei como é que ela faz, mas sei que para além de mergulhar a saqueta com uma planta qualquer na água a ferver, acrescenta ainda mais alguns ingredientes. Canela é um deles.
Há uns tempos, por qualquer motivo, acabou o assunto entre nós assim que ela me deu uma segunda caneca para beber. Eu tinha acabado de lhe dizer que gostava muito do chá dela, especialmente em noites frias como aquela, e ela tinha-me perguntado se eu queria aprender como é que se fazia.
- Não. - Respondi.
Não se sentiu ofendida. Calou-se, tal como eu, e encostou-se para trás no grande sofá da sala. Fez-se silêncio. Bebi todo aquele líquido saboroso em pequenos e delicados goles, para não fazer barulho. Não sei quanto tempo demorei, mas talvez uns quinze ou vinte minutos. O que eu sei é que foram quinze ou vinte minutos de tranquilidade total. Conseguia ouvir o respirar dela e, penso eu, o meu próprio bater do coração.
Depois, quando a caneca chegou ao fim, lá lhe expliquei porque é que não queria aprender a fazer o chá.
- Mesmo que me ensinasses a fazer este chá e mesmo que o conseguisse fazer da mesma forma, nunca ia ser igual. Já me habituei a bebê-lo aqui na tua casa, e é a estes momentos que eu associo este sabor e este conforto.
Ela sorriu. Percebeu, ou fingiu perceber, o que eu lhe tinha dito. Despedi-me e saí passado pouco tempo. No caminho para casa, de mãos nos bolsos e o casaco apertado até ao queixo para me proteger do frio, fui a pensar em como é confortável ter momentos destes. Pensei que nunca na vida conseguiria explicar a alguém a sua importância, até porque dizer que um dos momentos especiais que se tem na vida é quando se vai beber chá a casa duma amiga, pode parecer bizarro.
Foi nessa noite que decidi voltar a brincar com sons e experimentar fazer umas músicas. Estive até às quatro ou cinco da manhã a trabalhar e, assim que acabei, encontrei a minha amiga online no facebook. Mandei-lhe o mp3 por email e perguntei-lhe se ela conseguia ouvir tudo até ao fim.
Esperei uns minutos. Os cinco minutos e três segundos que a música tem e mais um bocado, sempre a olhar para o espaço em branco onde as letras escritas por ela apareceriam supostamente em qualquer altura. Era como se estivesse a olhar para o futuro e ele não quisesse ser presente.
Depois, por fim, ouvi o sinal de que tinha mensagem nova no facebook.
- É esquisita! - escreveu. - mas eu gostava de saber fazer músicas assim.
- Queres que eu te ensine a trabalhar com o software? - Perguntei.
- Não.
Não me explicou porquê.
USDA - Underground Sound Division of Aveiro
No Facebook e no Bandcamp
bagaço amarelo
Blog «Não compreendo as mulheres»
«Ode às mulheres da vida» - poema de Miguel Torga
"Gatas humanas da rua,
Que poema de Janeiro!
Que epopeia branca e nua
Ao luar do mundo inteiro!
Amam? Não amam? Que importa
Saber mistérios alheios?
A carne pode estar morta
E ter quentura nos seios.
Encolhidas nos portais,
Debruçadas na janelas,
São amantes naturais
Prostitutas e donzelas.
Todas beijam, todas são
Aberta terra em pousio;
Calor de fecundação
Num desespero vazio.
Alguém passa, alguém as quer,
Alguém que é alto e moreno...
Como vai qualquer mulher
Senão assim, a um aceno?
E num quarto e numa cama,
E num lençol de amargura,
Nua e branca, quem é dama,
Ou mulher de vida impura?
Humildes servas de Deus,
Do Deus homem que as chama,
Que humanos versos os seus,
A brilhar na sua lama!"
Miguel Torga
in «Diário III» - Lisboa, 16 de Janeiro de 1946
Que poema de Janeiro!
Que epopeia branca e nua
Ao luar do mundo inteiro!
Amam? Não amam? Que importa
Saber mistérios alheios?
A carne pode estar morta
E ter quentura nos seios.
Encolhidas nos portais,
Debruçadas na janelas,
São amantes naturais
Prostitutas e donzelas.
Todas beijam, todas são
Aberta terra em pousio;
Calor de fecundação
Num desespero vazio.
Alguém passa, alguém as quer,
Alguém que é alto e moreno...
Como vai qualquer mulher
Senão assim, a um aceno?
E num quarto e numa cama,
E num lençol de amargura,
Nua e branca, quem é dama,
Ou mulher de vida impura?
Humildes servas de Deus,
Do Deus homem que as chama,
Que humanos versos os seus,
A brilhar na sua lama!"
Miguel Torga
in «Diário III» - Lisboa, 16 de Janeiro de 1946
23 junho 2013
20 anos dos D'Artesão
"Boa tarde
Para quem se interessar e estiver disposto a vir ao bar À Capella em Coimbra, dia 28 de Junho às 23h00.
E, claro, estão convidados a aparecer.
Texto de apresentação:
O erotismo constitui-se de desejo e imaginação, de liberdade e transgressão. É acção estética que inflama o prazer e o prolonga através do seu caracter íntimo , velado e secreto. Eis a elegância da sensualidade, da paixão e da ebulição emocional, enfim do erotismo.
A literatura erótico-satírica desnuda os desejos íntimos, dotando-os de corpo humano e acendendo a imaginação voluptuosa, oferecendo encenação e graça ao mesmo tempo que desafia a simples vulgarização e mecanização da sexualidade.
Com o intuito de dar a conhecer essa realidade poética, os D'Arte São constituíram-se há vinte anos (o primeiro espectáculo ocorreu a 25 de Março de 1993) tendo, desde essa altura, actuado um pouco por todo o país. No espectáculo de poesia-performance agora proposto, é feito um percurso por textos de consagrados mestres da literatura universal, numa partilha com o público da oralidade poética, onde os aspectos mais festivos da poesia terão lugar de destaque.
Autores:
Ovídio - (43 ac - 17 dc)
J. W. Goethe - (1749-1832)
Alvaro Magalhães - (1951-)
João de Deus - (1830-1896)
Adília Lopes - (1960-)
Cesáreo Verde - (1855-1886)
Guillaume Apollinaire - (1880-1918)
Nuno Bragança - (1929-1985)
Luis Pacheco - (1925-2008)
Fernando Lemos - (1926-)
Carlos Drummond de Andrade - (1902-1987)
Natália Correia - (1923-1993)
António Lobo Antunes - (1942-)
Júlio Machado Vaz - (1949-)
Alberto Pimenta - (1937-)
Ary dos Santos - (1936-1984)
Bocage - (1765-1805)
Fernando Correia Pina - (1954-)
Francisco Eugenio Tavares - (1867-1930)
Guerra Junqueiro - (1850-1923)
Marcial, Catulo e outros autores romanos - (Séc. 1ac-séc1 dc)
Abraço
João Curto"
Para quem se interessar e estiver disposto a vir ao bar À Capella em Coimbra, dia 28 de Junho às 23h00.
E, claro, estão convidados a aparecer.
Texto de apresentação:
O erotismo constitui-se de desejo e imaginação, de liberdade e transgressão. É acção estética que inflama o prazer e o prolonga através do seu caracter íntimo , velado e secreto. Eis a elegância da sensualidade, da paixão e da ebulição emocional, enfim do erotismo.
A literatura erótico-satírica desnuda os desejos íntimos, dotando-os de corpo humano e acendendo a imaginação voluptuosa, oferecendo encenação e graça ao mesmo tempo que desafia a simples vulgarização e mecanização da sexualidade.
Com o intuito de dar a conhecer essa realidade poética, os D'Arte São constituíram-se há vinte anos (o primeiro espectáculo ocorreu a 25 de Março de 1993) tendo, desde essa altura, actuado um pouco por todo o país. No espectáculo de poesia-performance agora proposto, é feito um percurso por textos de consagrados mestres da literatura universal, numa partilha com o público da oralidade poética, onde os aspectos mais festivos da poesia terão lugar de destaque.
Autores:
Ovídio - (43 ac - 17 dc)
J. W. Goethe - (1749-1832)
Alvaro Magalhães - (1951-)
João de Deus - (1830-1896)
Adília Lopes - (1960-)
Cesáreo Verde - (1855-1886)
Guillaume Apollinaire - (1880-1918)
Nuno Bragança - (1929-1985)
Luis Pacheco - (1925-2008)
Fernando Lemos - (1926-)
Carlos Drummond de Andrade - (1902-1987)
Natália Correia - (1923-1993)
António Lobo Antunes - (1942-)
Júlio Machado Vaz - (1949-)
Alberto Pimenta - (1937-)
Ary dos Santos - (1936-1984)
Bocage - (1765-1805)
Fernando Correia Pina - (1954-)
Francisco Eugenio Tavares - (1867-1930)
Guerra Junqueiro - (1850-1923)
Marcial, Catulo e outros autores romanos - (Séc. 1ac-séc1 dc)
Abraço
João Curto"
A minha colecção vai ter um espaço de exposição permanente
Pensei que gostariam de saber que o Acordo de Parceria está assinado por ambas as partes.
Estou toda molhadinha.
Tanto esperei por este dia...
Estou toda molhadinha.
Tanto esperei por este dia...
«Circulação monetária» - por Rui Felício
Era conhecido no bairro onde morava, como um simpático estoira-vergas, sempre envolvido em noitadas com muito álcool, discotecas, mulheres, patuscadas...
A meio do mês já costumava ter o dinheiro do ordenado totalmente espatifado, mas a Dona Gertrudes, sua mulher, ia segurando as pontas do orçamento familiar com os proventos que amealhava com os trabalhos de modista bem afreguesada que, de manhã à noite, ia executando em casa.
Mas depois de o Adrião Monteiro ter caído no desemprego e, especialmente, quando se esgotou o período em que andou a receber o magro subsidio, as coisas complicaram-se.
A Gertrudes trabalhava cada vez mais, mas, felizmente, tinha conseguido arranjar uma boa cliente, uma senhora que lhe encomendava belos vestidos.
Via-se que era uma senhora fina e que lhe pagava pontualmente o trabalho.
O Adrião, apesar das dificuldades financeiras, continuava a fazer o mesmo tipo de vida que fazia antes.
Andava até enrolado com a Carmen, uma espanhola de Málaga que há tempos conhecera numa boite de alterne dos arredores.
Estava-lhe na massa do sangue!
Passava as tardes fora de casa, prolongando muitas vezes as ausências pela noite dentro, sempre à custa dos dinheiros que pedia à Gertrudes que, condoída, achava que ele precisava de espairecer.
- Meu amor, custa-me tanto ter que te pedir, mas não me consegues arranjar cem euros?, perguntou, naquela manhã, o Adrião à mulher, enquanto lhe afagava o cabelo com carinho.
A Gertrudes virou para ele os olhos cansados, desfez-se da agulha e da linha com que costurava, sorriu-lhe e retribuiu o afago acariciando-lhe a mão.
Levantou-se e foi ao quarto onde tinha guardada uma nota de cem euros num pequeno guarda jóias de louça.
Desdobrou-a e reparou que alguém tinha escrito num canto, os dizeres:
“Nunca mais voltarás à minha mão”
Achou graça e escreveu a lápis, por baixo dos tais dizeres:
“Nem à minha!”
Voltou à sala e entregou-a ao marido que, refastelado no sofá, seguia atento o Big Brother.
- Obrigado meu amor. És uma querida, disse o Adrião, levantando-se e dando-lhe um beijo fugaz na face, metendo, apressado, a nota no bolso.
Dirigiu-se ao hall, mirou-se ao espelho dando um toque na madeixa de cabelo que lhe descaía para a testa e, antes de sair, ainda afivelou um ar pesaroso e perguntou à mulher:
- Se calhar este dinheiro faz-te falta, meu amor...
- Não te preocupes, querido. Hoje vou receber cem euros do vestido que fiz para aquela senhora fina de que te falei e que ultimamente me tem encomendado muitos trabalhos.
O Adrião saiu, mais descansado, e foi à sua vida.
Ao fim da tarde voltou, beijou a Gertrudes ainda agarrada à máquina de costura e sentou-se no sofá.
- Olha meu querido, já cá veio a tal cliente e pagou-me os cem euros do vestido, disse a Gertrudes, sorridente abanando a nota que tinha recebido.
Ao fazê-lo, reparou que, tal como a outra, tinha uns dizeres escritos por alguém.
Olhou melhor e nem queria acreditar!
A nota era a mesma, não havia dúvidas. Lá estava no canto, a lápis, com a sua caligrafia:
“Nem à minha!”
- Pode lá ser? Ripostou o Adrião, com o coração descompassado...
E em voz quase inaudível:
- Como é que se chama essa tua cliente?
- É a D. Carmen, respondeu pausadamente a Gertrudes...
Porquê, conhece-la?
- Eu? Não, nunca a vi, articulou a custo o Adrião.
EPÍLOGO
A D. Gertrudes divorciou-se e hoje é uma empresária de sucesso. Ficou com um hábito para o resto da vida. Não há nota que lhe passe pela mão que não lhe escreva uma marca identificativa...Rui Felício
Blog Encontro de Gerações
Blog Escrito e Lido
Linguado
Lânguido, húmido e persistente era o seu beijo sempre que mutuamente nos escamavámos na viscosidade escorregadia das nossas secrecções. Eu era a sereia a espanejar a cauda e ele um tritão, dois seres completamente imaginários para aconchegar as nossas solidões como sardinhas em lata.
Podia nem haver palavras ou apenas as de circunstância que aquilo era como ir à enfermaria tomar uma vacina contra a tristeza e stress diários e ambos sabíamos disso que a puta da idade não permite acreditar em ilusões por mais que breves minutos.
E com as hormonas de prazer assim diluídas na corrente sanguínea lá íamos às nossas vidinhas ordenadas em mil ficheiros de obrigações de horários de trabalho, créditos bancários, filhos e cadilhos, como se tivéssemos todo o tempo do mundo para viver a vida noutra altura.
Sabe, Senhor Doutor, o linguado não me mata o desejo e como o azeite, apenas vem a cima para aspirar o pó dos dias.
Podia nem haver palavras ou apenas as de circunstância que aquilo era como ir à enfermaria tomar uma vacina contra a tristeza e stress diários e ambos sabíamos disso que a puta da idade não permite acreditar em ilusões por mais que breves minutos.
E com as hormonas de prazer assim diluídas na corrente sanguínea lá íamos às nossas vidinhas ordenadas em mil ficheiros de obrigações de horários de trabalho, créditos bancários, filhos e cadilhos, como se tivéssemos todo o tempo do mundo para viver a vida noutra altura.
Sabe, Senhor Doutor, o linguado não me mata o desejo e como o azeite, apenas vem a cima para aspirar o pó dos dias.
22 junho 2013
«conversa 1989» - bagaço amarelo
Ela - Tenho que ir pôr gasolina.
Eu - Mas... ainda tens o depósito a meio.
Ela - Nunca deixo passar disto. Tenho medo de me distrair e ficar parada, sem gasolina, num sítio qualquer.
Eu - Está bem, compreendo. Mas pôr já gasolina quando ainda tens meio depósito é um exagero. Com o que tens fazes pelo menos duzentos quilómetros...
Ela - Não me interessa. Vou encher o depósito e pronto.
Eu - Pronto, okay... tu é que sabes...
Ela - Antes de me divorciar, acho que a última discussão que tive com o meu marido foi igualzinha a esta.
Eu - Que discussão de merda para se ter.
Ela - Estás a ver?! Achas que é uma discussão de merda para se ter entre marido e mulher, mas não achas que seja uma discussão de merda para se ter entre dois amigos.
Eu - Na verdade também acho.
Ela - Então porque é que começaste a tê-la comigo?!
Eu - Não sei... só estava a dizer que é muito cedo para pores gasolina...
Ela - Não, não. Estavas a criar uma discussão onde ela não devia existir.
Eu - Mas se ainda tens meio depósito...
Ela - E pensas que não sei isso?! Sou burra ou quê?! Eu sei que tenho meio depósito, mas o meu método de pôr gasolina é este. Podes ter respeito pelo meu método de pôr gasolina no meu automóvel?
Eu - Posso. Já cá não está quem falou.
Ela - Ah! Bom!
bagaço amarelo
Blog «Não compreendo as mulheres»
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