21 agosto 2013

«Raspas» - João

"Suja-me, amor. Suja-te. Deixa colar a tua roupa e a minha aos corpos, como se numa sauna, escorrendo os corpos no calor que criamos. Quero ver os teus cabelos colados ao corpo, quero ver-te pingar de mim quando estivermos exaustos, mas sobretudo quero ver-te de manhã, quero contagiar-me com o teu riso, quero cruzar as minhas pernas nas tuas, apertar-te com força. E dormir. Podemos dormir, amor?
Andamos todos à procura da melhor coisa da vida. A melhor coisa da vida. Chamem-lhe o que quiserem. Pode ter muitas formas. Pode ser dormir, amor. Pode ser paz, pode ser prazer, pode ser um proverbial pinar. No essencial, é amor. A melhor coisa da vida é o amor, e o amor é felicidade. Todos querem ser felizes, e isso é bom. Transformar pequenos instantes. É parte de amar, e de ser feliz.
A felicidade, parece, vem em raspas. Como as de limão, ou de laranja. Não sei se a felicidade é coisa para os nossos corações aguentarem em permanência. Mas gostava. Cobre-me de raspas, amor. De limão. De laranja. De ti. Cobre-me de ti. És narrativa. És prosa. A poesia e a prosa para mim são iguais, são histórias, mas eu prefiro a prosa. Tu és um comboio de momentos que não acabam, és a sequência das letras que me jorram dos dedos, os pequenos filmes que me alimentam, que fazem de mim vivo. Cobre-me de raspas, amor. E suja-me. Suja-te."

João
Geografia das Curvas

«Profissão de descasque rápido» - o Amigo de Alex


Montagem d'O Amigo de Alex

20 agosto 2013

Língua de trapos

Não adianta vestir de pudor as palavras se o olhar estiver completamente nu.

«Faltas-me» - Susana Duarte





e, a cada dia que passa, sinto-te a falta, aurora azul

das magias que partilhamos, sabedoras das aves raras
sobre cujas asas voamos, quando a cúmplice e eterna
noite, nos encoraja a ir além de nós e dos cumes de neve
onde choram saudades antigas e o amor se torna leve.
___________________faltas-me____________________


Susana Duarte
Blog Terra de Encanto

A dançarina de flamenco

Esta campainha de balcão, em resina, é um «recuerdo de España» e veio de França.
As pernas da sevilhana, com as cuecas para baixo e mostrando as suas partes íntimas, fazem de badalo.
Mais um miminho da minha colecção.





19 agosto 2013

«Wacoal mood bust-up» - as iludências aparudem

«pensamentos catatónicos (294)» - bagaço amarelo

Às vezes guardamos aquilo que sentimos dentro de nós como se fossemos um frasco de vidro. As tristezas, as alegrias, os Amores e desAmores, que para todos os efeitos habitam dentro de nós em permanente desconforto, estão latentes.
É por isso que evitamos chorar à frente dos outros. É também por isso que hesitamos em assumir que Amamos alguém. Por algum motivo que ninguém explica, mas todos nós compreendemos, sabemos que as emoções são uma fragilidade. De uma maneira ou de outra, talvez o Amor seja mesmo a maior fragilidade de todas. Aquela que faz de nós uma embalagem com as setinhas a indicar para que lado temos que estar virados para não quebrarmos.
Quebrar, como está escrito em alguns vidros, só em caso de urgência. É quando choramos, sorrimos ou gritamos pelo que está dentro de nós.
De Istambul trago muitas recordações. Algumas doces, outras nem por isso. Mas, agora que estou aqui sentado em casa numa manhã primaveril, só me pergunto como estará a mulher com quem me cruzei há uns dias atrás, numa estação qualquer do tram. Percebi que ela estava em dificuldade para entrar no cais.
O Istambulcard que ela passava no leitor automático dava erro e alguns passageiros, turistas na sua maioria, davam sinais de nervosismo e protestavam em línguas diversas. Voltei atrás, passei o meu passe na entrada dela e a passagem abriu como se fosse uma ampulheta a iniciar a contagem do tempo.
Reparei, por uns segundos, que ela estava a chorar. Nervosa, limpou os olhos com as mãos e só depois é que me agradeceu. Com um sorriso, porque percebeu que também eu não falava turco. Os nossos olhares tornaram a tocar-se quando ela entrou no primeiro tram e, ao afastar-se, me disse adeus com as mãos. Somos todos iguais.


bagaço amarelo
Blog «Não compreendo as mulheres»

Luís Gaspar lê «Um Campo Batido pela Brisa» de Fernando Assis Pacheco

A tua nudez inquieta-me.

Há dias em que a tua nudez
é como um barco subitamente entrado pela barra.
Como um temporal. Ou como
certas palavras ainda não inventadas,
certas posições na guitarra
que o tocador não conhecia.

A tua nudez inquieta-me. Abre o meu corpo
para um lado misterioso e frágil.
Distende o meu corpo. Depois encurta-o e tira-lhe
contorno, peso. Destrói o meu corpo.
A tua nudez é uma violência
suave, um campo batido pela brisa
no mês de Janeiro quando sobem as flores
pelo ventre da terra fecundada.

Eu desgraço-me, escrevo, faço coisas
com o vocabulário da tua nudez.
Tenho «um pensamento despido»;
maturação; altas combustões.
De mão dada contigo entro por mim dentro
como em outros tempos na piscina
os leprosos cheios de esperança.
E às vezes sucede que a tua nudez é um foguete
que lanço com mão tremente desastrada
para rebentar e encher a minha carne
de transparência.

Sete dias ao longo da semana,
trinta dias enquanto dura um mês
eu ando corajoso e sem disfarce,
ilumindo, certo, harmonioso.
E outras vezes sucede que estou: inquieto.
Frágil.
Violentado.

Para que eu me construa de novo
a tua nudez bascula-me os alicerces.

Fernando Assis Pacheco
in “A Musa Irregular”
Ouçam este poema na voz d'ouro de Luís Gaspar, no Estúdio Raposa

Solteiros sempre vencem

Pelo menos uma disputa de queda de braço [braço de ferro, em Brasilês]…



Só os entendedores entenderão essa.

Capinaremos.com

18 agosto 2013

«Mine» - Alvaro de la Herrán


Mine from Alvaro de la Herrán on Vimeo.

Bolacha Torradinha




Cá estou de volta, Senhor Doutor, com esta corezinha de bolacha torrada, tão bem aceite por todos como rótulo de beleza física da região demarcada do bem estar e da felicidade, apesar de me palpitar que as minhas célulazitas mortas, tostadinhas ao sol, não estarão de acordo.

Mas que se lixe!... Gostei de exibir no local de trabalho esta bandeira de descanso como se ainda trouxesse a toalha ao ombro. E de responder que sim, que a praia este ano está cheia de bikinis. Daqueles que copiam os modelos da década de 60 com a caixa de peito armada e o calçãozinho subido. E também com aqueles que revivem os anos 80, com o pedacinho de tecido que tapa os seios enfiado num fiozinho deslizante graças ao qual, se dermos uma corridinha, faz logo saltar uma mama para fora. E mais que sim, que toda a gente usa duas cores no bikini, uma para o soutien e outra para a string enchendo o areal de cores como a arquitectura do Tomás Taveira por esse país fora.

E quais corpos danone, quais quinze dias kellog’s ou quais vinte passos das dietas miraculosas de verão que todas as banhinhas de homens e mulheres se mostravam pela beira-mar para não perder uns dias de bronzeado e improvisando a queima de calorias nas voltas insistentes da língua sobre um gelado.

Nem sei porque não me comove a areia a arranhar-me os interstícios dos dedos dos pés, o sol que começa por lamber-nos suavemente para depois nos dar palmadas nas zonas mais expostas, as ondinhas ordenamente umas atrás das outras em carreirinha, os pôres do sol que anunciam a néon a noite e o voltar para o carro a exalar um bafo quente. Porque é que nem sequer acho erótico tanta carne exposta em fios de cores e flores e prefiro uma profunda troca de bactérias com um gajo, mesmo que seja perto de um contentor de lixo?...

Cãozinho na praia