21 agosto 2013

«Raspas» - João

"Suja-me, amor. Suja-te. Deixa colar a tua roupa e a minha aos corpos, como se numa sauna, escorrendo os corpos no calor que criamos. Quero ver os teus cabelos colados ao corpo, quero ver-te pingar de mim quando estivermos exaustos, mas sobretudo quero ver-te de manhã, quero contagiar-me com o teu riso, quero cruzar as minhas pernas nas tuas, apertar-te com força. E dormir. Podemos dormir, amor?
Andamos todos à procura da melhor coisa da vida. A melhor coisa da vida. Chamem-lhe o que quiserem. Pode ter muitas formas. Pode ser dormir, amor. Pode ser paz, pode ser prazer, pode ser um proverbial pinar. No essencial, é amor. A melhor coisa da vida é o amor, e o amor é felicidade. Todos querem ser felizes, e isso é bom. Transformar pequenos instantes. É parte de amar, e de ser feliz.
A felicidade, parece, vem em raspas. Como as de limão, ou de laranja. Não sei se a felicidade é coisa para os nossos corações aguentarem em permanência. Mas gostava. Cobre-me de raspas, amor. De limão. De laranja. De ti. Cobre-me de ti. És narrativa. És prosa. A poesia e a prosa para mim são iguais, são histórias, mas eu prefiro a prosa. Tu és um comboio de momentos que não acabam, és a sequência das letras que me jorram dos dedos, os pequenos filmes que me alimentam, que fazem de mim vivo. Cobre-me de raspas, amor. E suja-me. Suja-te."

João
Geografia das Curvas