26 agosto 2013
«pensamentos catatónicos (295)» - bagaço amarelo
Os portugueses em geral detestam o vinho rosé. Inventaram-no, mas não o bebem, e dizem-no com orgulho. Tive uma namorada que me olhava de lado sempre que eu me servia um copo de rosé.
- Isso não é vinho! - tugia ela.
Eu gosto de rosé. Na verdade, posso dizer que adoro rosé. O rosé é o melhor de dois mundos: o mundo do tinto e o mundo do branco. Aliás, sempre que eu abria uma garrafa de rosé, ela abria uma de tinto ou de branco. Os dois bebíamos como se, naquele preciso momento, houvesse uma enorme cratera a separar-nos. Eu, sempre com a sensação que tinha mais mundo do que ela.
Namorámos, sei lá... talvez uns três meses. Quando ela se foi embora apertou-me a mão. Deu-me um passou bem, por assim dizer, e segredou-me que devia ter adivinhado que não podia ter uma relação com um homem que bebia rosé.
Perguntei-lhe se não me dava um abraço de despedida. Que não, respondeu ela. Os abraços dão-se quando existe Amor. Fiquei fodido. Vi-a fechar a portar de casa e, pela janela, afastar-se lentamente até se diluir no horizonte.
Os abraços dão-se quando são precisos, pensei. Eu precisava dum abraço. É esta mania das purezas que me revolta. Abraços puros, Amores puros e vinhos puros. Eu queria um abraço, mesmo que não tivesse a pureza do Amor. Precisava dele. O rosé, por exemplo, não é puro. Mas sabe bem...
bagaço amarelo
Blog «Não compreendo as mulheres»
Luís Gaspar lê «A Bela do Bairro» de Fernando Assis Pacheco
Ela era muito bonita e benza-a Deus
muito puta que era sempre à espera
dos pagantes à janela do rés-do-chão
mas eu teso e pior que isso néscio desses amores
tenho o quê? quinze anos
tenho o quê uns olhos com que a vejo
que se debruçava mostrando os peitos
que a amei como se ama unicamente
uma vez um colo branco e até as jóias
que ela punha eram luzentes semelhando estrelas
eu bato o passeio à hora certa e amo-a
de cabelo solto e tudo não parece
senão o céu afinal um pechisbeque
ainda agora as minhas narinas fremem
turva-se o coração desmantelado
amando-a amei-a tanto e sem vergonha
oh pecar assim de jaquetão sport e um cigarro
nos queixos a admiração que eu fazia
entre a malta não é para esquecer nem lá ao fundo
como então puxo as abas da farpela
lentamente caminho para ela
a chuva cai miúda
e benza-a Deus que bonita e que puta
e que desvelos a gente
gastava em frente do amor
Fernando Assis Pacheco
Ouçam este poema na voz d'ouro de Luís Gaspar, no Estúdio Raposa
muito puta que era sempre à espera
dos pagantes à janela do rés-do-chão
mas eu teso e pior que isso néscio desses amores
tenho o quê? quinze anos
tenho o quê uns olhos com que a vejo
que se debruçava mostrando os peitos
que a amei como se ama unicamente
uma vez um colo branco e até as jóias
que ela punha eram luzentes semelhando estrelas
eu bato o passeio à hora certa e amo-a
de cabelo solto e tudo não parece
senão o céu afinal um pechisbeque
ainda agora as minhas narinas fremem
turva-se o coração desmantelado
amando-a amei-a tanto e sem vergonha
oh pecar assim de jaquetão sport e um cigarro
nos queixos a admiração que eu fazia
entre a malta não é para esquecer nem lá ao fundo
como então puxo as abas da farpela
lentamente caminho para ela
a chuva cai miúda
e benza-a Deus que bonita e que puta
e que desvelos a gente
gastava em frente do amor
Fernando Assis Pacheco
Ouçam este poema na voz d'ouro de Luís Gaspar, no Estúdio Raposa
25 agosto 2013
Quinta-feira
Quinta-feira é noite de ir às putas desde que a carta de condução lhe deu acesso àquela estrada que elas enchem de cor e alegria e muito brilho. É um dia mais sossegado que os de fim de semana e ninguém desconfia ou pelo menos a sua mãe que nem nota que o seu menino mais novo já tem uns cabelos grisalhos e tal como as crianças julgam que os seus pais não têm sexo é sabido que as mães pensam o mesmo dos filhos à sua guarda.
Na timidez da primeira vez num sábado de sol a pino as raparigas cercaram-no de atenções como uma travessa de salgadinhos cheirosos por acabarem de sair da frigideira a piscarem-lhe o olho para uma trincadela até que uma mais ousada esticou uma mão toda no seu sexo e massajou-lhe umas sensações inauditas como se o quisesse a ele para uma abébia ganhando a decisão imediata de a seguir. Usava chinelas verdes de salto alto a conferir-lhe uma bambolear sensual das nádegas em cada passada e quando atirou com a blusa e a saia ostentando uns bicos espetados e muito castanhos e um triângulo de pêlo fofinho como o da gata lá de casa o ceguinho ergueu-se logo como se os testículos fossem saltos altos. Nas flexões que se seguiram até lhe escorrer o desejo as chinelas brilhavam no verde da relva no encadeamento da cara dela que avisou prontamente não poder beijar sendo desde aí fácil a contabilidade de uma vida de muito esperma derramado e nem um linguado para amostra.
Quando chega o verão nem a condução o distrai da curvatura de umas pernas a chinelar desde o saliente calcanhar até ao ressalto do rabo e se o zingarelho começa a espreguiçar-se encosta logo à berma que é um cidadão cumpridor.
24 agosto 2013
«A ruína dos homens»
Frasco metálico para bebida alcoólica e com formato para levar no bolso.
Faz parte da minha colecção.
Faz parte da minha colecção.
23 agosto 2013
Postalinho de Aveiro - estátua numa rua perto do Mercado do Peixe...
... onde, há poucos anos, houve uma grande polémica por causa da instalação «A Garrafa», de Umbelina Barros, que teve de ser retirada do Mercado do Peixe, "a pedido de várias famílias" que consideram a sexualidade como algo de vergonhoso (falámos disso aqui e aqui).
Vista de frente...
... e vista de trás:
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