04 setembro 2013

«Setembro» - João

"O Verão está a esconder-se, amor. Em breve seremos abandonados. O Sol saltará menos alto, e idos estarão os dias dos jotas, os Junhos e os Julhos das oportunidades, do calor que se espera, risos e sorrisos de corpos despidos. O frio espreita-nos. É Setembro. Finalmente Setembro, e com ele as sombras alongam-se, e sobre nós atiram-se cores de outro laranja, vem um Outono que nos beija ainda quente, mas sem urgência, com uma calma que levamos no bolso, amor.

Em breve estaremos vestidos até ao pescoço, reinarão as botas, seremos todos caçadores uma vez mais, e virão opacidades, padrões, casacos quentes entreabertos para um abraço ainda mais íntimo. Não mais incomodará o calor que queima sob os lençóis, rolaremos de novo, amor. E olharemos de novo em frente, antecipando outros dias dos jotas, do Sol que virá, desse novo Verão que dará sentido ao Inverno, mil e um dias de amor, e ondas que vibram na mesma sintonia, no mesmo riso sem travão.

O Verão está a esconder-se, amor, mas juntos nunca houve frio."

João
Geografia das Curvas

Odes aos piropeiros e às piropadas

No Facebook (esse andaime das obras sociais), muito se tem vindo (salvo seja) a falar sobre os piropos e a reflexão tida, no Bloco de Esquerda, "sobre o machismo no nosso país, ou seja, mais concretamente sobre a forma invasiva e desrespeitosa como alguns homens tratam as mulheres".
Para quem não tenha sentido de humor, recomendo que leiam textos escritos, por exemplo, pelo Daniel Oliveira («A silly season e o piropo na coutada do macho ibérico») ou pelo Bagaço Amarelo («engole o teu piropo - ou solta o grunho que há em ti!») ou ainda pela Rita Dantas («10 formas de desconversar sobre piropos»). E não avancem mais neste texto, porque a partir daqui é sempre a brincar.

É que este tema dos piropos despertou a veia de trolhas poéticos.

Imagem: imaginismstudios.com
Paulo Moura:
As meninas piropáveis
Por outras eu não troco!
Vão todas para o BE?
Eu também adiro ao Bloco!

Alfredo Moreirinhas:
Se no Bloco elas não gostam
Dum piropo bem metido
Para o Bloco eu não vou
Para mim não faz sentido!

Paulo Moura:
Quem sou eu p'ra contestar
O estratega mais cotado?
É melhor. Fico lá eu
Só apalpo e estou calado

Alfredo Moreirinhas:
Apalpar e ficar calado
Para mim já faz sentido
Mas se tu abrires a boca
Nem duvides, estás fodido!
Não uses as cordas vocais
Usa só a tua língua
Nisso tu és demais
E não vais morrer à míngua!

Paulo Moura:
O senhor de La Palice
Já sabia aconselhar
Que se desperdiça a língua
Quando usada p'ra falar.

Alfredo Moreirinhas:
A língua para falar
Confesso, não tenho jeito
Mas se é para trabalhar
Faço tudo a preceito.
Nunca nenhuma reclamou
E algumas com grande lata
Até diziam que eu era
O linguita de prata.
Proibirem o piropo
Eu não acho coisa certa.
Será que vai ser proibido
Eu ficar de boca aberta?

Paulo Moura:
Não se muda por decreto
Ou com um abracadabra.
Posso ir preso ao perguntar
"Tá fechada mas... quer qu'abra?"

... eles poderiam continuar por aí fora, que piropos são um tema inesgotável. Mas tinham outras coisas interessantes para fazer. No caso do Alfredo Moreirinhas, escreveu este poema mais completo:

Lembraram-se duas deputadas
De ideias muito suas:
Aprovar uma lei que proíba
Mandar piropos nas ruas.

As deputadas têm razão
Não gostam de ser faladas.
Estou em crer que gostarão
Muito mais de ser chupadas.

Mulher séria não tem ouvidos
Foi o que sempre ouvi dizer
Mas se as deputadas os têm
Que poderemos nós fazer?

Então coloco a questão
Sobre a proposta original:
Se a língua não é para falar
Para que serve afinal?

Por mim estou garantido
Já sei como a devo usar:
Da garganta não sai som
E a língua a trabalhar.

Por piropos não serei preso
Pois eu a partir de agora
Não digo nada a ninguém
Só ponho a língua de fora.

E com a língua de fora
Em posição descarada
O que passo a mostrar agora
É boa língua para qualquer deputada!
Alfredo Moreirinhas

Entretanto, o Alfredo Moreirinhas comentou ainda o texto do Bagaço Amarelo que referi no início:
"Este texto ainda me coloca mais questões, mas primeiro, começo por dizer que quem escreve o texto, confunde piropo com ofensa verbal! Pergunto: Se ele diz obrigado mulher por existires!... ele considera piropo, mas se for o pedreiro na rua, quando passa uma mulher, já é piropo proibido? Se sim, estou esclarecido... se não, faço mais uma pergunta: Ficaria escrito em lei a lista dos piropos permitidos e dos não permitidos?... O exemplo que ele deu não é piropo, é pura simplesmente perseguição com intimidação e isso já está na lei que é proibido. O que pensam deste exemplo? Estou na esplanada de um café, passa uma mulher e eu digo: Abençoada mãe que deu à luz tamanha beleza!... Como é que vamos classificar isto? Para acabar, gostaria de contar um pequeno episódio que também se passou comigo. Eu ía com a minha namorada, que hoje é minha mulher e ao passar por um grupo de rapazes, um deles, confiante no meio dos amigos e com mais 30 quilos do que eu, disse qualquer coisa do género: Que boneca tão gostosa! Ao que eu, de imediato, respondi: Tens razão, mas é minha, não é para o teu dente! O pessoal que estava com ele, fartou-se de o gozar e ninguém se sentiu ofendido!"

Postalinho de Dublin

"Sãozinha
Diretamente de Dublin, aqui vai um ramo de flores.
bjs"
c&a


«conversa 2011» - bagaço amarelo

(ouvi hoje no comboio Aveiro-Porto)

Ele - Ainda me Amas?
Ela - Mais ou menos...
Ele - Mais ou menos?!
Ela - Sim, mais ou menos. Mas sabes isso, não sabes?
Ele - Ahn?!
Ela - Já estamos um bocado cansados um do outro. Sabes isso, não sabes?
Ele - Sei lá o que é que eu sei...
Ela - Preferes que te minta e te diga que estou louca por ti?
Ele - Se calhar prefiro.
Ela - Estou louca por ti. Amo-te muito. Sabe-te bem ouvir isto?
Ele - Não.


bagaço amarelo
Blog «Não compreendo as mulheres»

«Conan da tia» - o Amigo de Alex


Montagem d'O Amigo de Alex

03 setembro 2013

Boobsman - o Homem Mamas... pela causa da prevenção do cancro da mama

«Manhã branca» - Susana Duarte

________manhã branca dos meus braços_______

perguntas quem sou, perguntas quem és,
manhã branca dos meus braços, braços
brancos do meu peito, onde inspiras liriodendros
e vives no ar da minha sombra. percorres-me,

______manhã branca dos meus braços__________,
como se percorresses a vida das tuas veias,
e perguntas quem sou, e perguntas quem és,
aurora branca das manhãs em que te acordo

e em ti, me sinto manhã branca dos teus braços.



Susana Duarte
poema e foto
Blog Terra de Encanto

«Felação romana» - estatueta de Fred Coll

Estatueta em resina de 22 cm de altura.
A partir de agora na minha colecção.







02 setembro 2013

«O amante»

Come4 é um site de pornografia sem fins lucrativos que tem como objectivo ajudar a financiar projectos de caridade e eticamente orientados. O primeiro projecto apoiado é a Fundação Asta Philpot que ajuda a sensibilizar o público para os direitos sexuais das pessoas com deficiência.
Asta Philpot, que aparece neste vídeo, defende os direitos de todos a desfrutar de uma vida sexual activa, mesmo que se tenha que ultrapassar alguns limites legais.


THE LOVER from come4.org on Vimeo.

«respostas a perguntas inexistentes (252)» - bagaço amarelo

ser pragmátic@

Existe por aí uma mania qualquer de considerar que o pragmatismo é a melhor coisa do mundo. Ser pragmático é optar pela eficiência em detrimento da emoção e do intelectual. Enfim, abdicar de tudo para ser eficiente. Ainda hoje, em conversa com uma amiga que se orgulha de ser pragmática, percebi que ela abdica de grande parte do tempo que tem para estar com quem Ama, em nome das horas extras no emprego.
Trabalha mais, vive menos. Tem orgulho nisso.
O problema das pessoas pragmáticas costuma ser a morte. Não há nada mais pragmático do que a morte, já que no fim morremos todos. Quem abdica de alguma da sua vida antes da morte está a morrer antes do tempo. É isso que é ser pragmático e é isso que o mundo nos diz para sermos hoje em dia.
Eu orgulho-me de não ser pragmático. Costumo pôr a minha vida antes de qualquer outra coisa. Desculpem qualquer coisinha, mas nem a merda do produto interno bruto, nem a dívida externa portuguesa, nem as imposições da Troika me convencem a abdicar de mim mesmo. Opto pela vida. Quando me deixam, claro.
Sou pragmático o suficiente para perceber que o pragmatismo é uma merda. É a força de quem ainda não percebeu a lógica da existência, ou seja, do Amor.
Devia ser proibido ser pragmático. Por mim, a lei devia obrigar-nos a ser líricos, inúteis e crianças de vez em quando. Não é por nada de especial. Só para sermos felizes. Só para que a vida não passe por nós sem que passemos por ela.


bagaço amarelo
Blog «Não compreendo as mulheres»

Luís Gaspar lê «Se um dia…» de Al Berto

se um dia a juventude voltasse
na pele das serpentes atravessaria toda a memória
com a língua em teus cabelos dormiria no sossego
da noite transformada em pássaro de lume cortante
como a navalha de vidro que nos sinaliza a vida

sulcaria com as unhas o medo de te perder…eu
veleiro sem madrugadas sem promessas sem riqueza
apenas um vazio sem dimensão nas algibeiras
porque só aquele que nada possui e tudo partilhou
pode devassar a noite doutros corpos inocentes
sem se ferir no esplendor breve do amor

depois… mudaria de nome de casa de cidade de rio
de noite visitaria amigos que pouco dormem e têm gatos
mas aconteça o que tem de acontecer
não estou triste não tenho projectos nem ambições
guardo a fera que segrega a insónia e solta os ventos
espalho a saliva das visões pela demorada noite
onde deambula a melancolia lunar do corpo

mas se a juventude viesse novamente do fundo de mim
com suas raízes de escamas em forma de coração
e me chegasse à boca a sombra do rosto esquecido
pegaria sem hesitações no leme do frágil barco… eu
humilde e cansado piloto
que só de te sonhar me morro de aflição

Al Berto
Al Berto in ‘Rumor dos Fogos’
Pseudónimo de Alberto Raposo Pidwell Tavares, (Coimbra, 11 de Janeiro de 1948 - Lisboa, 13 de Junho de 1997), poeta, pintor, editor e animador cultural português.

Ouçam este poema na voz d'ouro de Luís Gaspar, no Estúdio Raposa