04 setembro 2013

Odes aos piropeiros e às piropadas

No Facebook (esse andaime das obras sociais), muito se tem vindo (salvo seja) a falar sobre os piropos e a reflexão tida, no Bloco de Esquerda, "sobre o machismo no nosso país, ou seja, mais concretamente sobre a forma invasiva e desrespeitosa como alguns homens tratam as mulheres".
Para quem não tenha sentido de humor, recomendo que leiam textos escritos, por exemplo, pelo Daniel Oliveira («A silly season e o piropo na coutada do macho ibérico») ou pelo Bagaço Amarelo («engole o teu piropo - ou solta o grunho que há em ti!») ou ainda pela Rita Dantas («10 formas de desconversar sobre piropos»). E não avancem mais neste texto, porque a partir daqui é sempre a brincar.

É que este tema dos piropos despertou a veia de trolhas poéticos.

Imagem: imaginismstudios.com
Paulo Moura:
As meninas piropáveis
Por outras eu não troco!
Vão todas para o BE?
Eu também adiro ao Bloco!

Alfredo Moreirinhas:
Se no Bloco elas não gostam
Dum piropo bem metido
Para o Bloco eu não vou
Para mim não faz sentido!

Paulo Moura:
Quem sou eu p'ra contestar
O estratega mais cotado?
É melhor. Fico lá eu
Só apalpo e estou calado

Alfredo Moreirinhas:
Apalpar e ficar calado
Para mim já faz sentido
Mas se tu abrires a boca
Nem duvides, estás fodido!
Não uses as cordas vocais
Usa só a tua língua
Nisso tu és demais
E não vais morrer à míngua!

Paulo Moura:
O senhor de La Palice
Já sabia aconselhar
Que se desperdiça a língua
Quando usada p'ra falar.

Alfredo Moreirinhas:
A língua para falar
Confesso, não tenho jeito
Mas se é para trabalhar
Faço tudo a preceito.
Nunca nenhuma reclamou
E algumas com grande lata
Até diziam que eu era
O linguita de prata.
Proibirem o piropo
Eu não acho coisa certa.
Será que vai ser proibido
Eu ficar de boca aberta?

Paulo Moura:
Não se muda por decreto
Ou com um abracadabra.
Posso ir preso ao perguntar
"Tá fechada mas... quer qu'abra?"

... eles poderiam continuar por aí fora, que piropos são um tema inesgotável. Mas tinham outras coisas interessantes para fazer. No caso do Alfredo Moreirinhas, escreveu este poema mais completo:

Lembraram-se duas deputadas
De ideias muito suas:
Aprovar uma lei que proíba
Mandar piropos nas ruas.

As deputadas têm razão
Não gostam de ser faladas.
Estou em crer que gostarão
Muito mais de ser chupadas.

Mulher séria não tem ouvidos
Foi o que sempre ouvi dizer
Mas se as deputadas os têm
Que poderemos nós fazer?

Então coloco a questão
Sobre a proposta original:
Se a língua não é para falar
Para que serve afinal?

Por mim estou garantido
Já sei como a devo usar:
Da garganta não sai som
E a língua a trabalhar.

Por piropos não serei preso
Pois eu a partir de agora
Não digo nada a ninguém
Só ponho a língua de fora.

E com a língua de fora
Em posição descarada
O que passo a mostrar agora
É boa língua para qualquer deputada!
Alfredo Moreirinhas

Entretanto, o Alfredo Moreirinhas comentou ainda o texto do Bagaço Amarelo que referi no início:
"Este texto ainda me coloca mais questões, mas primeiro, começo por dizer que quem escreve o texto, confunde piropo com ofensa verbal! Pergunto: Se ele diz obrigado mulher por existires!... ele considera piropo, mas se for o pedreiro na rua, quando passa uma mulher, já é piropo proibido? Se sim, estou esclarecido... se não, faço mais uma pergunta: Ficaria escrito em lei a lista dos piropos permitidos e dos não permitidos?... O exemplo que ele deu não é piropo, é pura simplesmente perseguição com intimidação e isso já está na lei que é proibido. O que pensam deste exemplo? Estou na esplanada de um café, passa uma mulher e eu digo: Abençoada mãe que deu à luz tamanha beleza!... Como é que vamos classificar isto? Para acabar, gostaria de contar um pequeno episódio que também se passou comigo. Eu ía com a minha namorada, que hoje é minha mulher e ao passar por um grupo de rapazes, um deles, confiante no meio dos amigos e com mais 30 quilos do que eu, disse qualquer coisa do género: Que boneca tão gostosa! Ao que eu, de imediato, respondi: Tens razão, mas é minha, não é para o teu dente! O pessoal que estava com ele, fartou-se de o gozar e ninguém se sentiu ofendido!"