01 outubro 2013

We are our own devil

Este video muito especial, conta com a participação de Georgina Spelvin. Actriz porno, do clássico "The Devil in Miss Jones - 1973". Filme da era dourada da pornografia, quando SIDA e DST'S em geral não eram preocupação. Com entrevista à Srª Spelvin no início do clip e com cenas retiradas do filme durante o video, Paradise Circus é uma bonita e hipnotizante obra de arte.


Paradise Circus - Massive Attack from greekgaylolita on Vimeo.

O Anjo Pornográfico

A descoberta do génio de Nelson Rodrigues tem sido fonte inesgotável de fascínio na minha vida. O seu talento para o aforismo certeiro, expressões pitorescas, personagens inesquecíveis de tão verosímeis, e, sobretudo, a exposição magistral das muitas faces do amor carnal, são garante de horas de delícia e assombro. Comecei pelas crónicas reunidas em "O Reacionário", mas rapidamente mergulhei no universo do seu teatro, das historietas jornalísticas de "A Vida Como Ela É". Todos têm o seu Nelson preferido. O meu é o que trata do papel ambíguo da violência como uma das forças motrizes da paixão sexual.

Deixo aqui um trecho, retirado de Engraçadinha, seus amores e pecados, peça de estalo e escândalo à época, em que se declara uma admiração lésbica de longa data, incluindo um prelúdio de sensualidades pueris, seguido da explosão amorosa do anúncio e a esperada rejeição enojada. Note-se a tesão com que se sugere a agressão final. Serve de mote a esta cena uma das mais célebres frases de Nelson Rodrigues: -"Tarado é toda a pessoa normal apanhada em flagrante."

«Pedras» - Susana Duarte

não posso escrever sobre as pedras

escreverei sobre a pele: a pele dada
em noite de brumas, vivida em solos de
espumas, brancas, da maré que em ti fui.

não posso escrever sobre as pedras

escreverei nos teus olhos as noites
serenadas sob mãos cansadas dos dias
e sôfregas de noites claras. em ti, ainda,

a avidez solitária do lobo que caminha
e devasta desertos de ervas poeirentas,
delas afastando as pedras, piroclastos
da existência, quando, inesperadamente,
a vida nos deixou escrever sobre o pó.

não posso escrever sobre as pedras

antes a luz clara do papel dos teus olhos,
a luminosa sabedoria das palavras
silenciadas no beijo claro que me deste.

escreverei esse beijo em cada olhar
dirigido ao céu que miras, aí, a oriente,
perscrutando o sonho e glorificando
o que antevês em cada movimento,
e nas pegadas de caminhantes invisíveis.

não posso escrever sobre as pedras
caídas dos teus olhos sobre o ferro duro
da existência. mas posso escrever no peito
as noites infindas da memória, tornando-as
sal da existência, caminho onde caminho,
as noites todas da minha vida, e a indefinível
paixão com que delimitas o espaço onde existo.



Susana Duarte
Blog Terra de Encanto

Revistas da colecção - 4

Continuamos a "folhear" as mais de 700 revistas da minha colecção.
Desta vez, temos:

Lote de revistas «The Erotic Review» (Reino Unido) 8
Lote de revistas (Alemanha) 1
Lote de revistas «Com'Out» (Portugal) 8 números que foram publicados, entre Julho/2008 e Fevereiro/2009 8
Lote de revistas «Penthouse» (Portugal) Primeiros 9 números que foram publicados, entre Novembro/2010 e Julho/2011 (algumas com CDs) 9
Lote de revistas porno (Portugal) - 4o Plus, Climax, 69,… 3
Lote de revistas «FHM» (Portugal) Primeiros 25 números que foram publicados (excepto 3 e 21) e números diversos 27
Lote de revistas «Playboy» (Portugal) - 2ª tentativa (Abril/2009 a Agosto/2010) Números 1 a 11 (excepto nº 5) mais números diversos 19









30 setembro 2013

Peta - «Mantenha-se firme e fresco»

«respostas a perguntas inexistentes (255)» - bagaço amarelo

Just in case

Tenho saudades da Sandra. Não sei porquê, mas tenho. Muitas. Já não a vejo há tantos anos que lhes perdi a conta. Na verdade, não faço a mínima ideia se alguma vez a vou ver até ao fim dos meus dias. Perdi-lhe totalmente o rasto e só sei que emigrou para outro país qualquer. Nem sequer a encontro nas redes sociais. O mais provável é ela já não se lembrar de mim.
Eu ouço-lhe a voz, sinto-lhe o cheiro e principalmente ouço-a chamar-me. A Sandra não era apenas uma amiga. Era A Amiga. O pior disto tudo é que nem sequer me despedi dela na última vez que a vi. Não sabia que ela ia desaparecer para sempre e limitei-me a dizer-lhe: "telefono-te um dia destes". Uns dias depois alguém me disse que ela tinha ido viajar por impulso. Uma chatice familiar ou coisa parecida. Nunca mais voltou. Que merda.
Quando ando mais triste é dela que me lembro. Aliás, hoje já confundi quatro ou cinco transeuntes com ela. Abri os olhos e, por um milésimo de segundo, senti a alegria enorme desse improvável encontro. Não era ela, mas deu para perceber o que me vai acontecer se um dia a encontro mesmo. Vou-me sentir feliz. Estou ansioso.
Entretanto despedi-me agora duma amiga que me deu boleia para casa. Parou o carro sem desligar o motor mesmo em frente a minha casa e eu disse-lhe: "telefono-te um dia destes". Depois saí e ela arrancou no seu carro preto que se fundiu na noite escura. Eu subi o elevador, entrei em casa e liguei o computador. Entretanto mandei-lhe uma mensagem pelo telemóvel: "gosto de ti, sabias?". Just in case.


bagaço amarelo
Blog «Não compreendo as mulheres»

Luís Gaspar lê «A tua nudez inquieta-me» de Fernando Assis Pacheco

Há dias em que a tua nudez
é como um barco subitamente entrado pela barra.
Como um temporal. Ou como
certas palavras ainda não inventadas,
certas posições na guitarra
que o tocador não conhecia.
A tua nudez inquieta-me. Abre o meu corpo
para um lado misterioso e frágil.
Distende o meu corpo. Depois encurta-o e tira-lhe
contorno, peso. Destrói o meu corpo.
A tua nudez é uma violência
suave, um campo batido pela brisa
no mês de Janeiro quando sobem as flores
pelo ventre da terra fecundada.
Eu desgraço-me, escrevo, faço coisas
com o vocabulário da tua nudez.
Tenho «um pensamento despido»;
maturação; altas combustões.
De mão dada contigo entro por mim dentro
como em outros tempos na piscina
os leprosos cheios de esperança.
E às vezes sucede que a tua nudez é um foguete
que lanço com mão tremente desastrada
para rebentar e encher a minha carne
de transparência.
Sete dias ao longo da semana,
trinta dias enquanto dura um mês
eu ando corajoso e sem disfarce,
ilumindo, certo, harmonioso.
E outras vezes sucede que estou: inquieto.
Frágil.
Violentado.
Para que eu me construa de novo
a tua nudez bascula-me os alicerces.

(in “A Musa Irregular”)

Fernando Assis Pacheco
(Coimbra, 1 de Fevereiro de 1937 — Lisboa, 30 de Novembro de 1995) foi um jornalista, crítico , tradutor e escritor português.

Ouçam este poema na voz d'ouro de Luís Gaspar, no Estúdio Raposa

Vamos para o céu!

É bom saber



Deus é negão, mano!

Capinaremos.com

29 setembro 2013

«A Special Form of Denial» (uma forma especial de negação) - Marc Blackie


A Special Form of Denial from Marc Blackie on Vimeo.

Pesadelo de uma tarde de verão

Ah, cheira a fruta, sim!

Era uma cozinha branca com as panelas penduradas em pregos na parede. No centro impunha-se uma ampla mesa de madeira maciça para o repasto. Chegámos afogueados, carregadinhos com os sacos plásticos de cenouras, pepinos, beringelas, tomates, limões, laranjas, pêssegos, nêsperas, morangos e depositámo-los ali naquelas tábuas a soltar aromas.

Os trinta e tal graus lá de fora eram felizmente filtrados pelas grossas paredes e pelo algodão das nossas t-shirts. Aquelas mãos enormes sentaram-me na banca de alimentação, esticando os dedos das nádegas aos joelhos, vagarosamente, a afastar o pareo e libertando os meus braços para se estenderem até ao cordelito que brotava dos calções e desafogar aqueles músculos. E naquele bailado de mãos e línguas , desfaleci até atingir a posição de frango em expositor, com a ligeira diferença de que apertei tenazmente tudo o que se atravessava nas minhas coxas.

E íamos ritmadamente balançando na pauta dele até que decidi imprimir outra cadência, que eu não estava ali para ver encher chouriços e apesar do pronto acompanhamento dele, um ligeiro desacerto de sincronismos fez com que o meu alvo ficasse mais acima do que o previsto e o projéctil fosse embater na madeira maciça.

Oh Senhor Doutor e perante a memória daquele guincho dorido peço-lhe a sua orientação: acha que se eu tomar uns drunfuzinhos aprendo a não me mexer e a ficar quietinha?

«As árvores também amam» - por Rui Felício


Por indicação de pessoa amiga do Bairro, há uns anos atrás, fui ler o romance Afrodite, de Isabel Allende.
Da sua leitura, fiquei a saber que a pêra é um fruto erótico, pela forma sensual de mulher que sugere e que originou ao longo dos séculos belíssimas peças de arte.
E que a pêra cortada em finas fatias, numa salada a que se juntem agriões e nozes descascadas, é uma entrada especialmente adequada para um jantar de um casal romântico, podendo ser degustadas com os dedos e aspirado o perfume delicioso que exalam, acordando os sentidos do tacto, do paladar, do cheiro e do desejo.
Pensativo, recuei muitos anos, aos meus tempos de adolescência...
... ... ... ... ... ... ...
Sempre gostei da flor de pessegueiro. E do fruto maduro. São o resultado maravilhoso de uma árvore sensual que me seduz.
Tinha um no meu quintal no Bairro que dava uns deliciosos pêssegos de cor mate e suaves rosáceas vermelhas, aveludado ao toque.
Ao seu lado uma pereira. Dava umas lindas e doces pêras esverdeadas, de pele fina e macia, que ganhavam uma tonalidade pálida, amarelo claro quando maduras...

Todos os anos o milagre da renovação da natureza se repetia.
Até que, num certo ano, ao contrário dos anos anteriores, as pêras se iam dia a dia tornando avermelhadas, quase da cor escarlate, rutilante, do sombreado dos pêssegos.
Não tinha sido feita nenhuma enxertia na pereira. Apenas era podada na altura própria, que a minha mãe sabia quando e como fazê-lo.
Foi um mistério, sem explicação, as pêras nesse ano e nos seguintes terem amadurecido de cor vermelha quando até aí sempre ficavam amarelas, esbatidas.
O assunto foi falado em casa, mas ao fim de uns dias estava esquecido.

Eu, no entanto, adolescente sonhador ainda imberbe, construí uma teoria, até hoje nunca experimentada, mas que ainda me deixa pensativo, apesar da razão me fazer sorrir e abanar a cabeça com ironia.
As árvores são seres vivos, isso é do domínio comum, é verdade assente.
Quis eu, naquela altura, acreditar que elas não ficavam estáticas, de pé, na solidão da noite. Elas possivelmente amavam-se, entreabrindo as copas, estendendo as raízes em contactos e carícias por elas sentidas, mas por nós não perceptíveis...
E que o chilrear matinal da passarada, que eu ouvia do meu quarto, não era só o dos pardais que se acoitavam nas suas ramagens. No meio desse vozear, imperceptíveis, eu achava que se encobriam e misturavam, disfarçados, os últimos gemidos da pereira e do pessegueiro que lentamente se iam esgotando com o dealbar da aurora, depois de uma noite de amor.

Se a minha teoria estivesse certa, ia ter que arranjar agora, companhia para a solitária laranjeira que eu próprio plantei aos meus nove anos de idade, única árvore que ainda se mantém no meu quintal do Bairro.

Rui Felício
Blog Encontro de Gerações
Blog Escrito e Lido

Fotografia por Pierre Louÿs (1870-1925)


Via mon ami Français Bernard Perroud