Oh Senhor Doutor receite-me qualquer coisita para dormir que eu já não posso mais com a repetição diária daquele pesadelo nocturno.
Está a ver aquela esplanada próxima da pujante estátua do Cutileiro, não está?... Pois, começa sempre aí. Estamos sentados naquelas mesas pesadas de ferro com a esplanada a abarrotar de gente quando um enxame de meninas ciganas ou romenas, de alinhadas tranças loiras, nuazinhas e sem pêlos como nos postais eróticos do início do século XX, começa a distribuir beijinhos em troca de moedinhas reluzentes, zumbindo a valsa da Bela Adormecida.
Um dos meus afunilados sapatos cor de rosa salta em voo para o lago ao mesmo tempo que a respectiva perna se levanta para o pé tocar o fecho éclair fronteiro, subindo e descendo até a curva do pé se moldar perfeitamente na excrescência resultante. Os olhos dele sugam-me e reconstituo-me no seu colo , com a lycra das meias a rasgar pela fricção nas costas da cadeira e graças à discreta ajuda das mãos dele que engachadas nas minhas nádegas, as equilibram constantemente. Desço os meus lábios entreabertos, a pairar sobre os dele e como um camaleão apanho-lhe a ponta da língua que sorvo como a um bago de uva morangueira. Sinto a sua polpuda pele arroxeada bulir na minha como o volteio do vento numa folha. E enquanto o seu indicador esquerdo macera a minha bolota arrendondada, espremo-o, compassadamente, dentro de mim. Toda a gente está nua, apenas adornada de um filete preto como se resultássemos do risco de Crepax e copulam cadenciadamente exibindo a luminosidade dos corpos até que os empregados da casa, compostinhos nos seus laços sobre camisas engomadas aparecem diligentes a avisar que há fogo na cozinha e convém evacuar a área.
E aí acordo sobressaltada, Senhor Doutor e só me apetece dizer dahhhh... porque não é justo nunca ver o final do filme.