05 outubro 2013

«Chocolate» - João

"Dois anos volvidos desde que te disse que me ia vir dentro de ti, e de tu me teres pedido «por favor, por favor vem-te dentro de mim». Dois anos volvidos desde que me disseste um adeus sem o dizer, e eu coleccionando memórias e suspiros. Dias e dias, semanas seguidas, todos estes meses a pensar o que seria de ti. Se pensavas em mim. Se havia amor, se havia indiferença, se havia alguma coisa à qual se pudesse dar um nome e a partir dela criar uma ponte. E havia já desânimo. Uma tentativa forçada de aceitar que não te veria de novo, que o mundo seria para nós uma espécie de universos paralelos, onde apenas por acaso (feliz para mim) me cruzaria contigo. Onde só mesmo por acaso estaríamos no mesmo local a tomar um pequeno-almoço, ou de copo na mão num qualquer final de tarde.

E assim, de repente, sem aviso, entro no meu gabinete, dispo o casaco que penduro, e ao sentar-me encontro, perto do teclado, uma pequena caixa de encomenda postal. Sem remetente. Mas a letra fez-me endireitar em surpresa. Apressado, mas seguro, abri a caixa e encontrei no seu interior uma única coisa. Um chocolate. Um chocolate que apenas nós sabiamos o valor que tinha. E tu sempre me havias dito que quando me quisesses transmitir que estavas de coração aberto, que querias estar comigo, era esse o chocolate que eu veria, de algum modo, em algum sítio. E eu havia esperado tanto por ele. E achado que já não o veria. E agora estava ali, à minha frente. E fez-me recuar à ansiedade de teenager, quase à vontade de pular e gritar «ela quer! ela quer!».

Saltei em direcção ao bengaleiro. Voltei a vestir o casaco. E nem sequer tive tempo de ouvir a porta bater atrás de mim."

João
Geografia das Curvas