Via Ads of the World
10 janeiro 2014
09 janeiro 2014
«Feita pachacha tonta» - Patife
Patife
Blog «fode, fode, patife»
08 janeiro 2014
«Casca» - João
"Quando chegar ao fim, estarei estendido, distendido, jorrado no pavimento. Esbatido do Sol, farrapo de mim mesmo. Quando chegar ao fim, depois de tudo, depois de todos, entregue a mim mesmo, estarei de vestes rasgadas e pele suja, cabelo branco ralo, e ouvidos moucos, de sons despidos. No fim, no fim de tudo, zangado, verei a raiva escorrer-me pelos dedos, torneiras de mim mesmo, gotas que dão lugar a fios e por fim rios e torrentes de lama e pedras. A minha casca partir-se-á, cairá tudo por terra, serão os braços terminados em punhos cerrados e murros no chão, que abrirá fendas, fará tremer tudo em redor, e dos buracos abertos serei eu mesmo engolido.
Quando chegar ao fim, respirarei ainda. E do cinzento das nuvens que correm, far-se-á azul de novo. E talvez abra os punhos, talvez feche ainda os braços, e fechando-os sobre ti, talvez rolando um e outro num abraço, a raiva que dos dedos escorria dê lugar ao carinho que apaga a zanga. Quando chegar ao fim, talvez estendido, sim, mas de cabeça ao teu colo, sentindo os teus dedos correr-me o cabelo já gasto, a barba curta, dizendo-me ao ouvido, baixinho, sou tua, sou tão tua."
João
Geografia das Curvas
Quando chegar ao fim, respirarei ainda. E do cinzento das nuvens que correm, far-se-á azul de novo. E talvez abra os punhos, talvez feche ainda os braços, e fechando-os sobre ti, talvez rolando um e outro num abraço, a raiva que dos dedos escorria dê lugar ao carinho que apaga a zanga. Quando chegar ao fim, talvez estendido, sim, mas de cabeça ao teu colo, sentindo os teus dedos correr-me o cabelo já gasto, a barba curta, dizendo-me ao ouvido, baixinho, sou tua, sou tão tua."
João
Geografia das Curvas
«conversa 2039» - bagaço amarelo
- Os homens não sabem estar sozinhos.
Fiquei na mesma posição em que estava, deitado na areia da praia, a olhar na direcção do céu estrelado. A quietude do meu corpo contrastava com a tempestade que nascera dentro de mim, mas mantive-me assim, com a sensação de ser uma caixa com uma bomba relógio no interior. Não lhe perguntei porquê. Mais, nem sequer tentei adivinhar porquê.
- Em que é que estás a pensar? - Perguntou.
- Em nada.
- Quando uma mulher está sozinha, sente-se bem. Quando um homem se encontra na mesma situação, entra facilmente em desespero.
Na verdade eu estava a pensar em como a minha vista conseguia englobar simultaneamente estrelas tão distantes umas das outras.
- Então são as mulheres que não sabem estar sozinhas.
- Achas? - Perguntou.
- Acho.
E ela ficou na mesma posição que eu.
bagaço amarelo
Blog «Não compreendo as mulheres»
07 janeiro 2014
«Roteiro» - Susana Duarte
Vou percorrer os caminhos onde alamedas guardam as noites de lã
junto ao bívio onde se decidem caminhos e guardam romãs.
( a fruta vermelha e o céu irreal, onde o óbvio e o aparente se misturam).
Na viela tortuosa onde a linheira se encima à janela das flores
irei saber de todos os mundos guardados nos dédalos das cores
(e de todas as evidências dos meus sonhos que, pensados, se fraccionam).
Na eira, debulha-se o cereal que se multiplica na mesa, no pão e na casa;
lá, habita a ave que voa no arvoredo onde dormem o ovo e a asa
(e as cores das giestas sabem de cor onde os errantes, viajam).
Estranha ladeira que percorre o chão da ave que traz no bico o algodão
com que teço as esperas num envoltório de pano bordado vivente na mão
(e as flores das romãs trazem os becos onde a noite cai e as ruas cantam).
Há um caminho onde trilhas a noite nas tessituras dos olhares pernoitados
e as ramificações dos dias são as noites do sol; onde os caminhos andados
são lábios que se beijam na ponta das estrelas que te habitam. Sabedoras de ti,
aves circulam pelas vias das flores que desabrocham na raíz do peito aqui,
onde trazes pétalas de rosas, pétalas de hibiscos, pétalas de frésias, pétalas ali,
no jardim das encruzilhadas dos jardins subterrâneos onde escondi as asas.
Na neblina, declina-se o verbo do teu ser. Nas asas da noite, o azul em ti.
A cada órbita, o sol és tu. Roteiro das bermas onde posso repousar.
Susana Duarte
poema e foto
Blog Terra de Encanto
junto ao bívio onde se decidem caminhos e guardam romãs.
( a fruta vermelha e o céu irreal, onde o óbvio e o aparente se misturam).
Na viela tortuosa onde a linheira se encima à janela das flores
irei saber de todos os mundos guardados nos dédalos das cores
(e de todas as evidências dos meus sonhos que, pensados, se fraccionam).
Na eira, debulha-se o cereal que se multiplica na mesa, no pão e na casa;
lá, habita a ave que voa no arvoredo onde dormem o ovo e a asa
(e as cores das giestas sabem de cor onde os errantes, viajam).
Estranha ladeira que percorre o chão da ave que traz no bico o algodão
com que teço as esperas num envoltório de pano bordado vivente na mão
(e as flores das romãs trazem os becos onde a noite cai e as ruas cantam).
Há um caminho onde trilhas a noite nas tessituras dos olhares pernoitados
e as ramificações dos dias são as noites do sol; onde os caminhos andados
são lábios que se beijam na ponta das estrelas que te habitam. Sabedoras de ti,
aves circulam pelas vias das flores que desabrocham na raíz do peito aqui,
onde trazes pétalas de rosas, pétalas de hibiscos, pétalas de frésias, pétalas ali,
no jardim das encruzilhadas dos jardins subterrâneos onde escondi as asas.
Na neblina, declina-se o verbo do teu ser. Nas asas da noite, o azul em ti.
A cada órbita, o sol és tu. Roteiro das bermas onde posso repousar.
Susana Duarte
poema e foto
Blog Terra de Encanto
Chaleira do macaco contente
Encontrei esta peça na Zara Home.
É uma chaleira em faiança cuja tampa é a cabeça de um macaco e o bico é um tronco de árvore que, na posição em que se encontra, se pode confundir com uma pila.
Adoro comprar para a colecção estes objectos que supostamente não são eróticos.
É uma chaleira em faiança cuja tampa é a cabeça de um macaco e o bico é um tronco de árvore que, na posição em que se encontra, se pode confundir com uma pila.
Adoro comprar para a colecção estes objectos que supostamente não são eróticos.
06 janeiro 2014
«conversa 2038» - bagaço amarelo
Ela - Tive, pela primeira vez na minha vida, um sonho húmido. Nem sabia o que isso era...
Eu - A sério?!
Ela - Sim... e foi contigo.
Eu - Comigo?! Espectacular.
Ela - Sim. Eu estava no pátio a ler um livro e tu dentro de casa, de esfregona na mão, a limpar o chão de toda a minha casa.
Eu - Foi esse o sonho?
Ela - Foi.
bagaço amarelo
Blog «Não compreendo as mulheres»
Eu - A sério?!
Ela - Sim... e foi contigo.
Eu - Comigo?! Espectacular.
Ela - Sim. Eu estava no pátio a ler um livro e tu dentro de casa, de esfregona na mão, a limpar o chão de toda a minha casa.
Eu - Foi esse o sonho?
Ela - Foi.
bagaço amarelo
Blog «Não compreendo as mulheres»
Luís Gaspar lê «Adeus (Como se houvesse…)» de Eugénio de Andrade
Como se houvesse uma tempestade
escurecendo os teus cabelos, ou se preferes,
a minha boca nos teus olhos
carregada de flor e dos teus dedos;
como se houvesse uma criança cega
aos tropeções dentro de ti, eu falei em
neve, e tu calavas a voz onde contigo
me perdi.
Como se a noite viesse e te levasse, eu
era só fome o que sentia; digo-te
adeus, como se não voltasse ao país
onde o teu corpo principia.
Como se houvesse nuvens sobre nuvens, e
sobre as nuvens mar perfeito, ou se
preferes, a tua boca clara singrando
largamente no meu peito.
Eugénio de Andrade
pseudónimo de José Fontinhas (Póvoa de Atalaia, 19 de Janeiro de 1923 — Porto, 13 de Junho de 2005). Apesar do seu enorme prestígio nacional e internacional, Eugénio de Andrade sempre viveu distanciado da chamada vida social, literária ou mundana, tendo o próprio justificado as suas raras aparições públicas com «essa debilidade do coração que é a amizade».
Ouçam este texto na voz d'ouro de Luís Gaspar, no Estúdio Raposa
escurecendo os teus cabelos, ou se preferes,
a minha boca nos teus olhos
carregada de flor e dos teus dedos;
como se houvesse uma criança cega
aos tropeções dentro de ti, eu falei em
neve, e tu calavas a voz onde contigo
me perdi.
Como se a noite viesse e te levasse, eu
era só fome o que sentia; digo-te
adeus, como se não voltasse ao país
onde o teu corpo principia.
Como se houvesse nuvens sobre nuvens, e
sobre as nuvens mar perfeito, ou se
preferes, a tua boca clara singrando
largamente no meu peito.
Eugénio de Andrade
pseudónimo de José Fontinhas (Póvoa de Atalaia, 19 de Janeiro de 1923 — Porto, 13 de Junho de 2005). Apesar do seu enorme prestígio nacional e internacional, Eugénio de Andrade sempre viveu distanciado da chamada vida social, literária ou mundana, tendo o próprio justificado as suas raras aparições públicas com «essa debilidade do coração que é a amizade».
Ouçam este texto na voz d'ouro de Luís Gaspar, no Estúdio Raposa
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