"Eu quero te provar
Sem medo e sem amor
Eu quero te provar"
10 janeiro 2014
A funda São mora na filosofia [I]
Os Bombeiros Sapadores de Setúbal resolveram despir-se (mas só o tronco, vá) para criar um calendário muito especial para 2014. Tão especial que tem doze bombeiros muito bem parecidos, tonificados e visivelmente em sapador esforço e além disso ainda tem os doze meses do ano, com os dias da semana e afins. Trata-se, pois, de um calendário muito útil, que nos pode orientar em cada dia do ano, com uma sapadora precisão e sem corrermos o risco de nos distrairmos e perdermos o norte. Isto é serviço público, todos concordamos, certo?
Consta que para além de um corpo tonificado, estes bombeiros têm bom coração e quiseram que o lucro da venda dos calendários revertesse a favor de uma instituição. Pensaram na CARITAS. Consta que esta instituição negou o apoio financeiro. A questão que se coloca é: o que justifica a recusa?
Podemos pensar em vários cenários, podemos levantar hipóteses (e isto porque, de acordo com as fotografias, as mangueiras já estão erguidas). Por exemplo: o calendário tem carácter erótico e a Caritas tem carácter religioso, coisas que para muitos são opostas e que não se encontram nem no infinito. Outra hipótese: os valores defendidos pelos Pukaninos Bombeiros vão DE encontro aos valores da Caritas. Analisemos esta questão. Pode ler-se na página da Caritas que os seus valores são:
Caridade e Justiça Social
Compaixão
Espiritualidade
Gratuidade
Opção preferencial pelos mais pobres
Partilha
Subsidiariedade
Universalidade
Peguemos no gesto dos Bombeiros (ai oh pah!) e vamos verificar se estes valores se verificam. Ao querer ofertar o lucro da venda de um calendário-cheio-de-bombeiros-giros-e-de-tronco-nu à Caritas, os Pukaninos procuraram praticar:
- a caridade e justiça social, permitindo que o valor entregue em dinheiro seja usado para apoiar as acções da instituição;
- a compaixão, pelas mulheres (e pelos gays que connosco partilham o fraquinho pelo sexo masculino) que há muito se queixavam da falta de oferta de calendários deste tipo;
- a espiritualidade, pois a contemplação do belo aproxima-nos mais do(s) deus(es);
- a gratuidade, pois a oferta dos Bombeiros era de coração e não esperavam nada em troca (sobretudo um não!);
- a opção preferencial pelos mais pobres reflecte-se na escolha da instituição. não pensavam eles que iriam encontrar pobres de espírito;
- a partilha, porque ele há coisa mai'boa do que partilhar o fruto de tanto trabalho no ginásio, de dedicação à vida de bombeiro e assim? *suspiros*;
- a subsidiariedade é uma palavra muito bonita e comprida, tal como as mangueiras;
- a universalidade do belo, espelhada nas fotografias.
Perante isto, estamos já em condições de responder «os fins justificam os meios»? A resposta é claramente um SIM, desde que esses meios estejam tonificados, transpirados e sejam acompanhados de um sorriso bonito e de bons corações, como os dos Bombeiros Sapadores de Setúbal.
Entro em ti
A novidade provoca excitação e ansiedade. A vontade cresce em cada
momento. Motivando a exploração do sentimento. Este floresce sem
qualquer consentimento. E quando tomamos conhecimento, tarda o encontro.
Tarda o momento. Em que entro em ti, por não mais caber em mim de tanto
contentamento. E neste movimento, em que me atiro para dentro, saio de
mim e entro em ti, nem que seja por pouco tempo...
09 janeiro 2014
«Feita pachacha tonta» - Patife
Patife
Blog «fode, fode, patife»
08 janeiro 2014
«Casca» - João
"Quando chegar ao fim, estarei estendido, distendido, jorrado no pavimento. Esbatido do Sol, farrapo de mim mesmo. Quando chegar ao fim, depois de tudo, depois de todos, entregue a mim mesmo, estarei de vestes rasgadas e pele suja, cabelo branco ralo, e ouvidos moucos, de sons despidos. No fim, no fim de tudo, zangado, verei a raiva escorrer-me pelos dedos, torneiras de mim mesmo, gotas que dão lugar a fios e por fim rios e torrentes de lama e pedras. A minha casca partir-se-á, cairá tudo por terra, serão os braços terminados em punhos cerrados e murros no chão, que abrirá fendas, fará tremer tudo em redor, e dos buracos abertos serei eu mesmo engolido.
Quando chegar ao fim, respirarei ainda. E do cinzento das nuvens que correm, far-se-á azul de novo. E talvez abra os punhos, talvez feche ainda os braços, e fechando-os sobre ti, talvez rolando um e outro num abraço, a raiva que dos dedos escorria dê lugar ao carinho que apaga a zanga. Quando chegar ao fim, talvez estendido, sim, mas de cabeça ao teu colo, sentindo os teus dedos correr-me o cabelo já gasto, a barba curta, dizendo-me ao ouvido, baixinho, sou tua, sou tão tua."
João
Geografia das Curvas
Quando chegar ao fim, respirarei ainda. E do cinzento das nuvens que correm, far-se-á azul de novo. E talvez abra os punhos, talvez feche ainda os braços, e fechando-os sobre ti, talvez rolando um e outro num abraço, a raiva que dos dedos escorria dê lugar ao carinho que apaga a zanga. Quando chegar ao fim, talvez estendido, sim, mas de cabeça ao teu colo, sentindo os teus dedos correr-me o cabelo já gasto, a barba curta, dizendo-me ao ouvido, baixinho, sou tua, sou tão tua."
João
Geografia das Curvas
«conversa 2039» - bagaço amarelo
- Os homens não sabem estar sozinhos.
Fiquei na mesma posição em que estava, deitado na areia da praia, a olhar na direcção do céu estrelado. A quietude do meu corpo contrastava com a tempestade que nascera dentro de mim, mas mantive-me assim, com a sensação de ser uma caixa com uma bomba relógio no interior. Não lhe perguntei porquê. Mais, nem sequer tentei adivinhar porquê.
- Em que é que estás a pensar? - Perguntou.
- Em nada.
- Quando uma mulher está sozinha, sente-se bem. Quando um homem se encontra na mesma situação, entra facilmente em desespero.
Na verdade eu estava a pensar em como a minha vista conseguia englobar simultaneamente estrelas tão distantes umas das outras.
- Então são as mulheres que não sabem estar sozinhas.
- Achas? - Perguntou.
- Acho.
E ela ficou na mesma posição que eu.
bagaço amarelo
Blog «Não compreendo as mulheres»
07 janeiro 2014
«Roteiro» - Susana Duarte
Vou percorrer os caminhos onde alamedas guardam as noites de lã
junto ao bívio onde se decidem caminhos e guardam romãs.
( a fruta vermelha e o céu irreal, onde o óbvio e o aparente se misturam).
Na viela tortuosa onde a linheira se encima à janela das flores
irei saber de todos os mundos guardados nos dédalos das cores
(e de todas as evidências dos meus sonhos que, pensados, se fraccionam).
Na eira, debulha-se o cereal que se multiplica na mesa, no pão e na casa;
lá, habita a ave que voa no arvoredo onde dormem o ovo e a asa
(e as cores das giestas sabem de cor onde os errantes, viajam).
Estranha ladeira que percorre o chão da ave que traz no bico o algodão
com que teço as esperas num envoltório de pano bordado vivente na mão
(e as flores das romãs trazem os becos onde a noite cai e as ruas cantam).
Há um caminho onde trilhas a noite nas tessituras dos olhares pernoitados
e as ramificações dos dias são as noites do sol; onde os caminhos andados
são lábios que se beijam na ponta das estrelas que te habitam. Sabedoras de ti,
aves circulam pelas vias das flores que desabrocham na raíz do peito aqui,
onde trazes pétalas de rosas, pétalas de hibiscos, pétalas de frésias, pétalas ali,
no jardim das encruzilhadas dos jardins subterrâneos onde escondi as asas.
Na neblina, declina-se o verbo do teu ser. Nas asas da noite, o azul em ti.
A cada órbita, o sol és tu. Roteiro das bermas onde posso repousar.
Susana Duarte
poema e foto
Blog Terra de Encanto
junto ao bívio onde se decidem caminhos e guardam romãs.
( a fruta vermelha e o céu irreal, onde o óbvio e o aparente se misturam).
Na viela tortuosa onde a linheira se encima à janela das flores
irei saber de todos os mundos guardados nos dédalos das cores
(e de todas as evidências dos meus sonhos que, pensados, se fraccionam).
Na eira, debulha-se o cereal que se multiplica na mesa, no pão e na casa;
lá, habita a ave que voa no arvoredo onde dormem o ovo e a asa
(e as cores das giestas sabem de cor onde os errantes, viajam).
Estranha ladeira que percorre o chão da ave que traz no bico o algodão
com que teço as esperas num envoltório de pano bordado vivente na mão
(e as flores das romãs trazem os becos onde a noite cai e as ruas cantam).
Há um caminho onde trilhas a noite nas tessituras dos olhares pernoitados
e as ramificações dos dias são as noites do sol; onde os caminhos andados
são lábios que se beijam na ponta das estrelas que te habitam. Sabedoras de ti,
aves circulam pelas vias das flores que desabrocham na raíz do peito aqui,
onde trazes pétalas de rosas, pétalas de hibiscos, pétalas de frésias, pétalas ali,
no jardim das encruzilhadas dos jardins subterrâneos onde escondi as asas.
Na neblina, declina-se o verbo do teu ser. Nas asas da noite, o azul em ti.
A cada órbita, o sol és tu. Roteiro das bermas onde posso repousar.
Susana Duarte
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