Há uns anos, o meu amigo Carlos Car(v)alho ofereceu-me este desenho feito num envelope dos Correios e que tem uma história muito curiosa: um senhor, imigrante da Croácia, dirigiu-se a uma estação dos Correios para receber o valor de uma transferência internacional. Aquilo demorou muito tempo e, num dado momento, ele pediu a uma funcionária uma folha branca, onde pudesse escrever. O que a senhora tinha era um envelope e ele lá foi de novo sentar-se, a rabiscar algo. Quando, depois de muito mais tempo, o chamaram ao balcão, ele tratou do seu assunto e ofereceu este desenho... "para memória".
06 fevereiro 2014
05 fevereiro 2014
«Menina pequena» - João
"Menina pequena, que fizeste tu? Que fiz eu? Que fizemos nós, que tínhamos o mundo todo nas nossas mãos, e a certeza de que isto é verdade, de que isto é bom, e não segurámos as mãos firmes quando correram aos nossos braços e nos forçaram os dedos para tirar o tesouro que apertavam. Menina pequena, que fizemos nós, parece que abrimos o livro antes de tempo, que mordemos a maçã antes de cair da árvore, partimos antes do disparo, fomos cheios de sede a um pote que ainda não estava no fim do arco-íris. Menina pequena, menina minha, e agora que temos as mãos tão vazias, dizem uns, ou tão cheias, dizem outros, que serve isso se as mãos, vazias ou cheias, vão sem um e sem o outro lá dentro, se os dedos não se apertam com força, ou mesmo devagarinho, mãos pousadas umas nas outras, avançando devagar, devagarinho, pela noite dentro, pela estrada fora. Minha menina pequena, pedaço inteiro da parte que falta, vulcão que me derrete e incendeia, que fizeste tu, que fiz eu. Que vais fazer tu, que vou fazer eu."
João
Geografia das Curvas
João
Geografia das Curvas
«conversa 2047» - bagaço amarelo
Ela - Isso é uma tentativa de engate?
Eu - Não.
Ela - Então não vou.
Eu - Não me digas que se fosse para eu te tentar engatar já ias.
Ela - Claro que ia, só que ia para não me deixar engatar.
bagaço amarelo
Blog «Não compreendo as mulheres»
04 fevereiro 2014
«Emudeceram as asas dos corvos» - Susana Duarte
emudeceram as asas dos corvos,
num uníssono de esplendorosa luminescência
negra
onde as asas abandonam as curvas
e a contemplação da rubra incandescência
do fogo da saliva
e das fugas tocadas pelas nossas mãos,
e realizam os voos dos dedos, e das línguas
e dos corpos enlaçados numa vida-morte
pequena,
incandescente ela própria,
de corpos nus, e de dias, e de noites
e de sementes lançadas pelas bocas
ávidas,
subsequentes à saudade, fria noite da ausência
de um abraço onde, de novo, (me) habitas
os cílios e o ventre e a humidade das mãos,
investidas por águas de outrora,
incendiadas pelas raízes das árvores que nos foram caminhos
eternos.
Susana Duarte
Foto de Ivano Cetta
Blog Terra de Encanto
num uníssono de esplendorosa luminescência
negra
onde as asas abandonam as curvas
e a contemplação da rubra incandescência
do fogo da saliva
e das fugas tocadas pelas nossas mãos,
e realizam os voos dos dedos, e das línguas
e dos corpos enlaçados numa vida-morte
pequena,
incandescente ela própria,
de corpos nus, e de dias, e de noites
e de sementes lançadas pelas bocas
ávidas,
subsequentes à saudade, fria noite da ausência
de um abraço onde, de novo, (me) habitas
os cílios e o ventre e a humidade das mãos,
investidas por águas de outrora,
incendiadas pelas raízes das árvores que nos foram caminhos
eternos.
Susana Duarte
Foto de Ivano Cetta
Blog Terra de Encanto
A FODA COMO ELA É (XI) - Observações Felpudas
-"Triângulo Felpudo, estamos ávidas de leitura. Grossas lombadas..." |
- Quem vê cuzes, não vê caras.
- O tamanho não importa, apenas a posição e o ponto de vista.
- A simetria na Natureza: lésbica machona, homossexual amulherado.
- Nada de interessante, nem relevante, foi proferido entre cópulas. É manter-lhes a boca cheia.
- Em Espanha, há um nome para aquele indivíduo, sempre rodeado de belo mulherio, mas que nunca fode, tendo ainda de as ouvir queixando-se dos trolhas que as montam: é o Paga-Fantas. Cá, é "O Amigo".
- Em sexo, a curiosidade exerce-se geralmente às custas da inviolabilidade anal de alguém. Se estimas tua anilha, deixa a curiosidade para cientistas e alcoviteiras.
- Pornografia é para o sexo, o que Hollywood é para a vida real.
- Quem considere a possibilidade de sexo grupal, que pense antes nos odores que irá enfrentar. E compre também umas galochas.
- Há na punheta de mamas uma certa beleza clássica, como um apelo rubensiano ao aproveitamento erótico de cada refêgo.
- Que seria a 5ª de Beethoven sem a sua monumental abertura? Eis a importância do bom minete.
- Na cama e na guerra se revelam as personalidades.
- Lábios: a palavra central em toda a questão sexual masculina.
Koteka - Estojo de pénis da Papua - Nova Guiné
Cabaça seca com decoração, na base, de plantas entrelaçadas.
Está desde 2003 na minha colecção (e não me perguntem se já tinha sido usado).
O koteka, horim, cabaça de pénis ou bainha do pénis é uma cabaça oca e seca tradicionalmente usadas pelos nativos habitantes do sexo masculino de alguns grupos étnicos na Nova Guiné para cobrir os seus genitais. É usado sem outras roupas, preso por um pedaço de fibra ligado à base do koteka e colocado em torno do escroto. Existe um apoio secundário colocado em torno do peito ou abdómen e ligado ao corpo principal do koteka. Os homens escolhem kotekas semelhantes aos usados por outros homens de seu grupo cultural. Muitas tribos podem ser identificadas pela maneira como usam o seu koteka. Kotekas de diferentes tamanhos têm diferentes finalidades: kotekas muito curtos são usados quando se trabalha e kotekas mais longos e mais elaborados são usados em ocasiões festivas. O koteka é feito de uma cabaça especialmente cultivadas. Pesos de pedra são atados ao fundo da cabaça para esticá-la à medida que cresce. O koteka pode ser pintado e/ou ter conchas, penas ou outras decorações. O koteka serve de protecção contra os espíritos malignos.
Está desde 2003 na minha colecção (e não me perguntem se já tinha sido usado).
O koteka, horim, cabaça de pénis ou bainha do pénis é uma cabaça oca e seca tradicionalmente usadas pelos nativos habitantes do sexo masculino de alguns grupos étnicos na Nova Guiné para cobrir os seus genitais. É usado sem outras roupas, preso por um pedaço de fibra ligado à base do koteka e colocado em torno do escroto. Existe um apoio secundário colocado em torno do peito ou abdómen e ligado ao corpo principal do koteka. Os homens escolhem kotekas semelhantes aos usados por outros homens de seu grupo cultural. Muitas tribos podem ser identificadas pela maneira como usam o seu koteka. Kotekas de diferentes tamanhos têm diferentes finalidades: kotekas muito curtos são usados quando se trabalha e kotekas mais longos e mais elaborados são usados em ocasiões festivas. O koteka é feito de uma cabaça especialmente cultivadas. Pesos de pedra são atados ao fundo da cabaça para esticá-la à medida que cresce. O koteka pode ser pintado e/ou ter conchas, penas ou outras decorações. O koteka serve de protecção contra os espíritos malignos.
03 fevereiro 2014
«respostas a perguntas inexistentes (264)» - bagaço amarelo
- Não há problema. Queria um café e uma Macieira, por favor.
Não sei se já vos aconteceu ter o cérebro divido em dois, como se um dos hemisférios estivesse em plena actividade e o outro tivesse tirado algum tempo para sonhar. Era assim que eu estava. Por um lado, sentia-me pela primeira vez capaz de perceber tudo o que me tinha acontecido, de pegar nos factos e colocá-los numa linha de pensamento como se fosse um puzzle terminado. Finalmente, pensei. Por outro lado, sentia-me numa espécie de planeta gigante onde eu era o único habitante. Podia fazer tudo o que me apetecesse e não tinha receio nenhum da solidão. Por algum motivo, sabia que mais tarde ou mais cedo aterraria ali uma nave qualquer com uma mulher por quem me ia apaixonar.
Primeiro bebi a Macieira, num só golo ansioso. Depois beberiquei o café, gozando plenamente a mistura do seu sabor com o do brandy. Apercebi-me que o meu paladar estava bastante apurado. Depois abri um livro que comecei a ler nesse preciso momento, mas propriamente, O Processo, de Franz Kafka.
Dois anos antes, tinha eu dezasseis anos, apaixonei-me com a intensidade única que aquela idade permite por uma mulher bastante mais velha do que eu. Chamava-se Cristina, tinha trinta e poucos anos e cheirava sempre ao mesmo perfume, algo que me fazia lembrar longas extensões de campos verdes. Era casada com um homem qualquer que nunca cheguei a conhecer, mas que estava emigrado no Canadá e não dava notícias de vida há bastante tempo. Assim, juntaram-se por mero acaso um jovem surpreendido pelo Amor e uma mulher já desiludida com esse mesmo Amor.
Lembro-me que estava uma chuva intensa no dia em que ela me levou àquele café para se despedir de mim. Já me tinha dito que se queria afastar, mas faltava explicar o motivo, se é que o motivo para acabar uma relação é importante. Sinceramente, não sei se é. Sei que esperava que ela me viesse com aquela conversa habitual de que as nossas idades eram incompatíveis, ou que me anunciasse que o marido dela decidira aparecer de repente. Mas não.
- Exactamente daqui a dois anos, quando tu já fores maior de idade, se eu ainda estiver apaixonada por ti venho aqui a este café e espero toda a tarde que apareças.
Era fim de tarde e ela ainda não tinha aparecido. Paguei a conta, que entretanto contava com mais duas cervejas e uma torrada, e saí. Talvez tenha sido a primeira vez que o Amor me explicou que não vem sempre para ficar. Que é um viajante como qualquer outro que só está bem onde não está.
Às vezes ainda me pergunto, no entanto, se nesse dia ela se lembrou de mim.
bagaço amarelo
Blog «Não compreendo as mulheres»
02 fevereiro 2014
Da dona
Ela casou com um animal de estimação e amestrara-o a cumprir diligentemente todos os requisitos que aprendera em casa de seus pais. Ele ia buscar o jornal e as compras voltando de língua de fora em busca de uma festinha no lombo arqueado e ali ficava junto dela, sempre alerta para satisfazer a dona. Era o que se podia chamar um animal de companhia.
Há muito que ela abdicara dos malabarismos com o seu corpo, talvez pensando que ele já não tinha idade para brincadeiras. Ele continuava a aninhar-se junto dela na cama acompanhando-lhe a curvatura mesmo sabendo de antemão que ela adormeceria placidamente. Então como se lhe crescesse o instinto de se encostar às árvores ele juntava as coxas ao pijama que cobria as nádegas dela e aí esfregava raivosamente o pénis visualizando a caixa do rabo de cavalo negro e seios roliços do supermercado, sempre com o extremo cuidado de recolher nas mãos as provas líquidas de tal acto.
De manhã, sob o duche quente friccionava de novo o membro sem osso, esgalgando-o bem, embalado na gotas pingando nas poças a seus pés, limpava todos os resquícios desses momentos, sacudia os cabelos que teimavam em lhe crescer na cabeça e ficava pronto para as ordens do novo dia.
Há muito que ela abdicara dos malabarismos com o seu corpo, talvez pensando que ele já não tinha idade para brincadeiras. Ele continuava a aninhar-se junto dela na cama acompanhando-lhe a curvatura mesmo sabendo de antemão que ela adormeceria placidamente. Então como se lhe crescesse o instinto de se encostar às árvores ele juntava as coxas ao pijama que cobria as nádegas dela e aí esfregava raivosamente o pénis visualizando a caixa do rabo de cavalo negro e seios roliços do supermercado, sempre com o extremo cuidado de recolher nas mãos as provas líquidas de tal acto.
De manhã, sob o duche quente friccionava de novo o membro sem osso, esgalgando-o bem, embalado na gotas pingando nas poças a seus pés, limpava todos os resquícios desses momentos, sacudia os cabelos que teimavam em lhe crescer na cabeça e ficava pronto para as ordens do novo dia.
Subscrever:
Mensagens (Atom)