04 fevereiro 2014

«Emudeceram as asas dos corvos» - Susana Duarte

emudeceram as asas dos corvos,
num uníssono de esplendorosa luminescência

negra

onde as asas abandonam as curvas
e a contemplação da rubra incandescência
do fogo da saliva

e das fugas tocadas pelas nossas mãos,
e realizam os voos dos dedos, e das línguas
e dos corpos enlaçados numa vida-morte

pequena,

incandescente ela própria,
de corpos nus, e de dias, e de noites
e de sementes lançadas pelas bocas

ávidas,

subsequentes à saudade, fria noite da ausência
de um abraço onde, de novo, (me) habitas
os cílios e o ventre e a humidade das mãos,
investidas por águas de outrora,
incendiadas pelas raízes das árvores que nos foram caminhos

eternos.

Susana Duarte
Foto de Ivano Cetta
Blog Terra de Encanto