12 fevereiro 2014

«respostas a perguntas inexistentes (265)» - bagaço amarelo

o edifício

Era estudante e estava sentado num muro à espera dum colega meu, na cidade do Porto. À minha frente uma série de prédios, relativamente recentes, pareciam alinhados para admirar a Lua cheia que surgira por trás deles. Nas ruas não havia quase nenhum movimento pedonal, mas sobravam automóveis para dar e vender.
Enquanto os prédios olhavam para a Lua, eu olhava para eles. As luzes interiores davam sinais de vida a um ritmo lento e, das janelas mais baixas, era possível ouvir alguns sons domésticos. As famílias que ali moravam começavam a jantar e eu, sozinho, continuava à espera que o meu colega chegasse. Dei-me conta de que, instintivamente, imaginara a vida de todas aquelas pessoas duma forma estereotipada. Para mim, todas as famílias que ali moravam eram compostas por um casal heterossexual e um ou dois filhos, com a mulher de avental e o marido a chegar a casa um pouco depois dela, já com a janta na mesa. Todos discutiam temas banais, como a política de panfleto ou um jogo de futebol qualquer.
O meu colega acabou por não aparecer e eu, sem perceber exactamente como, fiquei ali até os edifícios se confundirem com o céu escuro e cada uma das minhas famílias estereotipadas adormecer. A verdade é que não dei pelo tempo a passar.
Na noite seguinte saí com alguns amigos e fui a um bar perto da Ribeira que eu gostava muito. Era calmo o suficiente para se poder ter uma conversa e movimentado quanto baste para não nos sentirmos isolados do mundo. Quando me virei para o balcão, para pedir a segunda cerveja, uma mulher que estava noutra mesa levantou-se e veio ter comigo. Perguntou-me se tinha sido eu a passar a noite anterior inteira sentado num muro que dava para a janela dela. Que sim, respondi, e expliquei-lhe a história toda.
Também ela me tinha visto da mesma forma estereotipada. Estando eu ali, toda a noite sozinho em frente a um edifício, só podia estar apaixonado por alguém que não me ligava nenhuma. Estaria numa de sofrimento, à espera que um milagre se desse e a minha paixão viesse à janela.

- Estava só à espera dum colega que não apareceu... - disse.

Eu e a Ana ficámos amigos. Provavelmente, e digo isto sem certezas, vivemos uma amizade tão intensa quanto incomum. Sei que sempre que entrei na casa dela, durante os anos em que fomos próximos, pensei em como a minha percepção da vida naquele edifício tinha sido errada. Quanto mais não seja, a Ana mostrou-me isso. Agradeço-lhe.


bagaço amarelo
Blog «Não compreendo as mulheres»

o atelier de costura de Mamãe Sabel


11 fevereiro 2014

Os Jogos Olímpicos sempre foram um pouco gays...

Campanha do Canadian Institute of Diversity and Inclusion (Instituto Canadiano da Diversidade e Inclusão) contra a interdição de propaganda gay na Rússia.

Eu gosto de moquecas

Todo eufórico por ter almoçado uma moqueca de peixe. Tenho a vida sexual numa lástima...

«Genciana» - Susana Duarte

queria uma palavra azul para te descrever as sílabas que, de ti, vejo sair,
como aves que exploram o infinito. trémulas, no início, inseguras da paixão;
seguras quando, eternas, se deitam na minha mão e atingem o seu devir.

eu e tu somos uma flor gamopétala.

descreves em mim linhas. voas-me nos dedos das pálpebras dos sonhos
e procuras-me, no rosto, o sorriso crescente da estranheza-encantamento;
seguras-me as mãos quando navego à procura de sílabas e de medronhos
que descasco, um a um, nas mãos que ocupo com a imagem do teu lamento
quando a vida, por breves momentos, tolheu de nós as palavras e os voos.

eu e tu somos uma flor gamopétala.

escrevemos páginas de sonhos em folhas de flores azuis e em sombras
de noites irrequietas. Sábias são as cores místicas do sonho – horizonte
onde as asas encontram as sílabas e as sílabas se tornam o teu nome…
és a palavra que nunca se esconde, a floresta de árvores sem penumbras
onde me deito, aliada das asas de um anjo como se o anjo fosse a fonte
da vida quem em mim almejas. em mim, tiras a sede e matas a fome.

eu e tu somos uma genciana azul.

do azul-maravilha e espanto, nasceu uma ilha e a terra de uma sonolência
serena, que nos transformou na etérea luz de uma sombra chinesa, onde
nos escondemos para viver a esplendorosa cor azul-onírico de palavras-sonho.

Eu, e Tu, somos o Sonho consubstanciado no encontro das marés,

e na confluência dos toques,

e nos remos.



Susana Duarte
«Pescadores de Fosforescências»
Alphabetum, Edições Literárias
Dezembro de 2012
Foto pessoal
Blog Terra de Encanto

Álbum com postais, gravuras, calendários, desenhos...

Álbum com 3 desenhos originais, 150 postais (humor, publicidade, turismo, arte, 2 com animação, etc.), 20 gravuras antigas e 60 calendários de bolso (séries).
Alguns dos postais têm animação e outros têm imagens diferentes conforme a perspectiva.
Tudo juntinho... na minha colecção.








Visita a página da colecção no Facebook (e, já agora, também a minha página pessoal)

10 fevereiro 2014

«Unexpected» (inesperada)


Unexpected from Mia Vega on Vimeo.

«conversa 2048» - bagaço amarelo

(na casa dela)

Eu - Compraste um peixinho vermelho...
Ela - Comprei. Sempre me faz companhia, agora que vivo sozinha. Gostas?
Eu - Para ser sincero não. Peixinhos vermelhos em aquários redondos sempre me fizeram impressão.
Ela - Porquê?
Eu - Porque são atrofiantes. Não acredito que um peixinho, ali naquela coisa minúscula, possa ser feliz.
Ela - Os peixinhos vermelhos não são felizes nem são tristes. Não têm essa capacidade.
Eu - Não?!
Ela - Não. Limitam-se a comer quando lhes dão comida. De resto, não são seres pensantes.
Eu - Então que raio de companhia é que o peixe te faz?
Ela - Lembra-me o meu marido.


bagaço amarelo
Blog «Não compreendo as mulheres»

Tá querendo demais né, madame?!



Para essas madames de hoje em dia não tão fácil não…

Capinaremos.com

09 fevereiro 2014

«Xanastasia» - filme da Disney dobrado para... malandrice

A colecção já pode adoecer pois tem curador!

Ontem, o futuro curador (não gosto do nome para a função de coordenador... parece que é quem cura presuntos ou queijos... mas chamemos-lhe assim) da exposição da colecção na Pensão Amor, visitou e conheceu ao vivo a colecção de arte erótica «a funda São». Numa tarde de conversa à medida que íamos vendo as peças, finalizada por um brinde com uma ginjinha de Alcobaça que é um mimo, ficou evidente para mim que o Dr. Paulo Mendes Pinto é a pessoa indicada para "tomar conta" da minha colecção na Pensão Amor.
Quanto à previsão de abertura, como o espaço definitivo precisa de obras, estamos a preparar um aperitivo da exposição, num espaço disponível da Pensão Amor e que esperamos poder ter pronto antes do Verão.
Estou toda molhadinha...

O Dr. Paulo Mendes Pinto e o Farol do Zé Penicheiro
(fotomontagem - adoro fotomontar - de uma imagem amavelmente gamada à revista Sábado)

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Orelhas quentes


Àquela hora da manhã não sei que raio de impulso de nossa senhora dos aflitos me deu para largar a bica e me levantar a interpor-me entre o murro certeiro do grandalhão e a cara dele. Talvez a quase certeza de que os homens não batem a uma mulher a não ser no recato doméstico sem audiências mas adiante.

Ele agradeceu-me polidamente com um novo café e fiz das tripas coração para não lhe berrar que a mim gajo nenhum paga coisa alguma. E ele lá foi abrindo as suas asas de deputado desterrado para a capital e circundado de gente por todos os lados, com propostas de acção, de negócio e de troca de favores a abarrotar-lhe os dias. Nem lhe faltava sexo mesmo que depois lhe pedissem um emprego melhor para si ou alguém da família ou um jeitinho para despachar uma licença na câmara daquele gajo que ele até conhecia. Tanto mais que choviam gajas a colarem-se com o corpinho todo pelo prazer de depois passearem o seu estatuto pelo braço. Às vezes até gastava umas notas valentes com meninas de preço tabelado só para escolher à sua maneira o que pagava.

Recolhi os instintos de o despir e de lhe apaziguar as mágoas com muita transpiração numa confusão de sexos na boca e mãos cravadas em nádegas e até da magia de fazer crescer uma pila dentro de mim em toques sincronizados e espasmódicos de vagina porque ele não precisava de uma foda mas de um par de orelhas amorosas que lhe espantasse a solidão dos dias.

«União perfeita» - por Rui Felício


Ao principio, ela só parecia ter um defeito.
Tinha medo do escuro, só se sentia calma e descontraída quando a luz incidia no seu corpo esbelto e atraente.
Nos primeiros dias tive dificuldade em adaptar-me, porque na intimidade do nosso quarto eu gostava mais da cálida modorra da escuridão.
Para a satisfazer, contudo, comprei um candeeiro de luz mortiça que fica aceso toda a noite do lado dela e concluí que afinal aquele seu hábito, em vez de defeito, era uma virtude.
Fez-me descobrir o prazer de admirar as sombras desenhadas pela luz, que marcavam e delineavam os seus contornos apetecíveis em mil nuances que a escuridão só permitia ao tacto, nunca ao olhar.
Ela adora sentir o meu respirar junto do corpo, e eu recebo o dela na minha pele, como um bálsamo viciante, provocador, numa permuta contínua, sincopada, quase perpétua que se alimenta uma da outra, mantendo-nos unidos, à vezes insaciáveis, aumentando as sensações num ritmo crescente dos eflúvios e do sangue, em direcção ao cume da vida, ponto de encontro único dos amantes que os deuses marcaram como o clímax incontrolável do prazer.
Pergunto-me como demorei tantos anos a descobrir que a união perfeita é afinal bem mais simples do que parece.
Basta que saibamos dar a quem amamos o que temos para dar e receber em troca aquilo que nos faz falta.
Ela não prescinde do dióxido de carbono que expiro e eu estaria morto se não aspirasse o oxigénio e a energia química que aquela lindíssima planta me dá através da clorofila e da fotossíntese.

Rui Felício
Blog Encontro de Gerações
Blog Escrito e Lido