11 fevereiro 2014

«Genciana» - Susana Duarte

queria uma palavra azul para te descrever as sílabas que, de ti, vejo sair,
como aves que exploram o infinito. trémulas, no início, inseguras da paixão;
seguras quando, eternas, se deitam na minha mão e atingem o seu devir.

eu e tu somos uma flor gamopétala.

descreves em mim linhas. voas-me nos dedos das pálpebras dos sonhos
e procuras-me, no rosto, o sorriso crescente da estranheza-encantamento;
seguras-me as mãos quando navego à procura de sílabas e de medronhos
que descasco, um a um, nas mãos que ocupo com a imagem do teu lamento
quando a vida, por breves momentos, tolheu de nós as palavras e os voos.

eu e tu somos uma flor gamopétala.

escrevemos páginas de sonhos em folhas de flores azuis e em sombras
de noites irrequietas. Sábias são as cores místicas do sonho – horizonte
onde as asas encontram as sílabas e as sílabas se tornam o teu nome…
és a palavra que nunca se esconde, a floresta de árvores sem penumbras
onde me deito, aliada das asas de um anjo como se o anjo fosse a fonte
da vida quem em mim almejas. em mim, tiras a sede e matas a fome.

eu e tu somos uma genciana azul.

do azul-maravilha e espanto, nasceu uma ilha e a terra de uma sonolência
serena, que nos transformou na etérea luz de uma sombra chinesa, onde
nos escondemos para viver a esplendorosa cor azul-onírico de palavras-sonho.

Eu, e Tu, somos o Sonho consubstanciado no encontro das marés,

e na confluência dos toques,

e nos remos.



Susana Duarte
«Pescadores de Fosforescências»
Alphabetum, Edições Literárias
Dezembro de 2012
Foto pessoal
Blog Terra de Encanto