No passado sábado, 25 de Outubro de 2014, a iraniana Reyhaneh Jabbari foi enforcada por decisão de um tribunal iraniano por alegadamente ter matado um homem - cirurgião e ex-funcionário do Ministério da Inteligência - que a queria violar, em 2007, quando ela tinha 19 anos.
A confissão fora obtida sob ameaças e tortura. As organizações de direitos humanos mobilizaram-se, sem êxito, para que tivesse um julgamento justo.
Reyhaneh Jabbari perdeu a vida... e o Mundo perdeu, mais uma vez, uma causa justa.
Fica aqui a carta (traduzida do inglês pelo Observador) que Reyhaneh Jabbari escreveu à Mãe, Sholeh Pakravan, que tinha pedido aos juízes para ser enforcada em vez da sua filha:
"Querida Sholeh,
Recebi hoje a informação de que chegou a minha vez de enfrentar a qisas [a lei de retribuição do sistema legal iraniano]. Estou magoada por não me teres deixado saber através de ti que cheguei à última página do livro da minha vida. Não achas que tenho o direito a saber? Sabes o quanto me envergonha saber que estás triste. Porque não me deixaste beijar a tua mão e a do pai?
O mundo permitiu-me viver durante 19 anos. Aquela noite assustadora foi a noite em que eu deveria ter sido morta. O meu corpo seria atirado para um qualquer canto da cidade, e dias depois, a polícia chamar-te-ia ao departamento de medicina legal para me identificar e também saberias que fui violada. O assassino nunca seria encontrado pois nós não temos a riqueza e o poder deles. Tu irias continuar a tua vida em sofrimento e envergonhada, e poucos anos depois morrerias desse sofrimento e nada mais haveria a dizer.
No entanto, esse golpe amaldiçoado alterou o rumo da história. O meu corpo não foi atirado para um lado qualquer, mas sim para a sepultura que é a Evin Prison e as suas alas solitárias, e agora para a prisão-sepultura de Shahr-e Ray. Mas entrega-te ao destino e não te queixes. Sabes melhor do que ninguém que a morte não é o fim da vida.
Ensinaste-me que cada um de nós vem a este mundo para ganhar experiência e aprender uma lição e que cada pessoa que nasce tem uma responsabilidade depositada nos seus ombros. Aprendi que, por vezes, temos de lutar.
Lembro-me muito bem quando me disseste que o homem da carruagem protestou contra o homem que me estava a chicotear mas este acertou-lhe com o chicote no rosto e ele morreu. Disseste-me que, de modo a criar valores, temos de perseverar, mesmo que isso signifique morrer.
Ensinaste-nos que, na escola, devemos enfrentar as quezílias e os confrontos como senhoras. Recordas-te da insistência dos teus reparos sobre o nosso comportamento? A tua experiência estava incorrecta. Quando este acidente ocorreu, os teus ensinamentos não me ajudaram. Quando me apresentei em tribunal aparentei ser uma assassina a sangue-frio e uma criminosa implacável. Não verti lágrimas. Não implorei. Não me desmanchei a chorar pois confiava na lei.
No entanto, fui acusada de indiferença perante um crime. Eu nem mosquitos matei e as baratas que tirei do caminho, levei-as pelas suas antenas. E agora tornei-me em alguém que assassina premeditadamente. O modo como trato os animais foi interpretado como sendo masculino e o juiz nem se deu ao trabalho de ver que, na altura do acidente, as minhas unhas eram grandes e estavam pintadas.
Quão optimista é o que espera justiça dos juízes! Ele nunca questionou o facto de as minhas mãos não serem grossas como as de uma desportista, em particular de uma boxeur.
E este país, pelo qual cultivaste um amor em mim, nunca me quis e ninguém me apoiou quando, perante as investidas do interrogador, eu gritava e ouvia as palavras mais obscenos. Quando o meu último indício de beleza desapareceu, ao cortar o meu cabelo, fui recompensada: 11 dias na solitária.
Querida Sholeh, não chores pelo que estás a ouvir. No primeiro dia na esquadra, um agente velho e não casado, magoou-me por causa das minhas unhas e eu percebi que a beleza não é desejável nesta era. A beleza das aparências, dos pensamentos e dos desejos, uma caligrafia bela, a beleza do olhar e da visão e até a beleza de uma voz agradável.
Minha querida mãe, a minha ideologia mudou e tu não és responsável por isso. As minhas palavras não têm fim e dei tudo a alguém para que, quando for executada sem a tua presença e conhecimento, te seja dado a ti. Deixo-te muito material manuscrito como herança.
No entanto, antes da minha morte quero algo de ti, algo que tens de me dar com todo o teu poder, custe o que custar. Na verdade, isto é a única coisa que eu quero deste mundo, deste país e de ti. Sei que precisas de tempo para isto.
Posto isto, vou-te revelar parte do meu testamento mais cedo. Por favor, não chores e presta atenção. Quero que vás ao tribunal e lhes faças o meu pedido. Não posso escrever tal carta, a partir da prisão, que fosse aprovada pelo diretor; mais uma vez terás de sofrer por mim. É a única coisa que, se chegares a implorar por ela, eu não ficarei chateada, embora te tenha dito várias vezes para não implorares por nada, exceto para me salvares de ser executada.
Minha mãe bondosa, querida Sholeh, mais querida para mim que a minha própria vida, eu não quero apodrecer debaixo do solo. Não quero que os meus olhos ou o meu jovem coração se transformem em pó. Implora para que, assim que eu seja enforcada, o meu coração, rins, olhos, ossos e tudo o que possa ser transplantado, possa ser retirado do meu corpo e dado a alguém em necessidade, como uma doação.
Não quero que o destinatário saiba quem sou, que me envie um ramo de flores ou até que reze por mim.
Do fundo do meu coração te digo que não desejo ter uma sepultura onde tu venhas chorar e sofrer. Não quero que vistas roupas pretas por mim. Faz o teu melhor para esquecer os meus dias difíceis. Entrega-me ao vento para me levar.
O mundo não nos amou. Não quis o meu destino. E agora entrego-me a ele e abraço a morte pois no tribunal de Deus eu vou acusar os inspectores, vou acusar o inspector Shamlou, vou acusar o juiz e os juízes do Supremo Tribunal que me espancaram quando eu estava acordada e que não se abstiveram de me intimidar.
No tribunal do criador eu vou acusar o Dr. Favandi, vou acusar Qassem Shabani e todos aqueles que, por ignorância ou pelas suas mentiras, fizeram-me mal, passaram por cima dos meus direitos e que não tiveram em conta o facto de que, por vezes, o que aparenta ser realidade não é.
Querida Sholeh de coração mole, no outro mundo tu e eu seremos quem acusa e os outros, os acusados. Veremos qual é a vontade de Deus. Quero abraçar-te até que a morte chegue. Amo-te."
Reyhaneh Jabbari
29 outubro 2014
Uma vida profissional sexualmente activa
Depois de ter sido dispensado do meu último trabalho, por ter apalpado os belos marmelos de uma colega da Contabilidade na Festa de Natal da empresa, quando fui à entrevista de emprego numa outra companhia do ramo, respondi no questionário que - caso conseguisse a vaga - o que mais desejava era poder ajudar a sucursal e a empresa-mãe a alcançar os seus objectivos mas, na verdade, o que mais queria era encontrar rapidamente uma gaja que me fodesse todos os dias, em vários locais do edifício (na sala de reuniões, na sala da fotocopiadora, na minha secretária a altas horas da noite quando já não estivesse mais ninguém no escritório, ... até na sala do chefe). Consegui a vaga. De lá até hoje, não aconteceu nada do que escrevi no questionário mas aconteceu tudo o que secretamente mais desejei. No dia em que entrei ao serviço percebi que o meu chefe era uma gaja, que me tem fodido todos os dias em todo o lado (já aconteceu na sala de reuniões, na sala da fotocopiadora, na minha secretária em noites que fiz horas-extra sozinho e até no gabinete dela). Todos os dias a gaja arranja um motivo para me lixar os cornos. Mói-me a paciência, discute, grita, humilha-me, torra-me o juízo. Ando, de facto, fodido há meses. Tenho a certeza de que não me aguento na empresa até à Festa de Natal. E é pena. Porque a gaja tem uns belos marmelos.
«pensamentos catatónicos (312)» - bagaço amarelo
A única certeza que eu tenho é a da tristeza profunda. Sei que um abraço a sério nunca será um murro. Quando o é, então parte de alguém que nunca conheceu o gosto genuíno de um abraço. De alguém profundamente triste, portanto.
É que eu, que nem no arrependimento da violência acredito, ponho-me a pensar como será acordar um dia e descobrir que nunca se soube Amar.
bagaço amarelo
Blog «Não compreendo as mulheres»
28 outubro 2014
«A Dona Balbina e seu marido, assistente de direito administrativo» - João Barreto
A propósito do «acórdão do sexo aos 50 anos», o João Barreto publicou aqui este comentário:
Nos corredores das faculdades de direito, contava-se há alguns anos uma anedota que visava um certo assistente de direito administrativo. Este doutor, pessoa de rígidos princípios morais e religiosos, era casado com Dona Balbina, mulher capitosa e de muitos apetites, os quais haviam refinado com o passar dos anos, não obstante o doutor nunca ultrapassar a recatada queca semanal, com a qual dava por cumprido o chamado débito conjugal (expressão que só poderia ter sido inventada por juristas).
Certo serão, quando o doutor, com o rigor costumeiro, revia as suas notas para a aula do dia seguinte que iria versar sobre a suspensão do acto administrativo, a Dona Balbina aproximou-se e, a pretexto de lhe relaxar a tensão dos ombros e pescoço, torturados por longas horas de nariz enfiado nas sebentas e códigos, começou a fazer-lhe uma massagem. Despertos os apetites sensuais, logo passou Dona Balbina a insinuar-se por zonas mais interessantes do tronco do marido, a beliscar-lhe os lóbulos das orelhas, tudo enquanto emitia audíveis suspiros dignos da mais refinada odalisca.
Definitivamente distraído dos seus deveres de mestre, o doutor, encarando a Dona Balbina e agarrando-lhe as mãos atrevidas, disse-lhe, em tom definitivo:
- Dona Balbina, eu monto-a, não para satisfazer os vis prazeres da concupiscência carnal, mas antes para cumprir o nobre acto de reprodução da espécie. Porém, se persiste nesses trejeitos mundanos, desmonto-a e suspendo, com efeitos imediatos, o acto!
Nota: sou jurista por vocação e formação; no entanto, não posso deixar de afirmar que a sentença do Supremo Tribunal Administrativo revela um completo alheamento da realidade social. E como maior de 50 anos que também sou, protesto contra a tentativa de desvalorização da melhor coisa que há na vida: o sexo. Só me resta aconselhar os senhores conselheiros do STA a trocarem os catrapácios de direito por alguns manuais de sexo e boa literatura erótica, a ver se ainda vão a tempo de fazerem alguma coisa de jeito nesta vida.
Nos corredores das faculdades de direito, contava-se há alguns anos uma anedota que visava um certo assistente de direito administrativo. Este doutor, pessoa de rígidos princípios morais e religiosos, era casado com Dona Balbina, mulher capitosa e de muitos apetites, os quais haviam refinado com o passar dos anos, não obstante o doutor nunca ultrapassar a recatada queca semanal, com a qual dava por cumprido o chamado débito conjugal (expressão que só poderia ter sido inventada por juristas).
Certo serão, quando o doutor, com o rigor costumeiro, revia as suas notas para a aula do dia seguinte que iria versar sobre a suspensão do acto administrativo, a Dona Balbina aproximou-se e, a pretexto de lhe relaxar a tensão dos ombros e pescoço, torturados por longas horas de nariz enfiado nas sebentas e códigos, começou a fazer-lhe uma massagem. Despertos os apetites sensuais, logo passou Dona Balbina a insinuar-se por zonas mais interessantes do tronco do marido, a beliscar-lhe os lóbulos das orelhas, tudo enquanto emitia audíveis suspiros dignos da mais refinada odalisca.
Definitivamente distraído dos seus deveres de mestre, o doutor, encarando a Dona Balbina e agarrando-lhe as mãos atrevidas, disse-lhe, em tom definitivo:
- Dona Balbina, eu monto-a, não para satisfazer os vis prazeres da concupiscência carnal, mas antes para cumprir o nobre acto de reprodução da espécie. Porém, se persiste nesses trejeitos mundanos, desmonto-a e suspendo, com efeitos imediatos, o acto!
Cartoon completo do Raim aqui |
Nota: sou jurista por vocação e formação; no entanto, não posso deixar de afirmar que a sentença do Supremo Tribunal Administrativo revela um completo alheamento da realidade social. E como maior de 50 anos que também sou, protesto contra a tentativa de desvalorização da melhor coisa que há na vida: o sexo. Só me resta aconselhar os senhores conselheiros do STA a trocarem os catrapácios de direito por alguns manuais de sexo e boa literatura erótica, a ver se ainda vão a tempo de fazerem alguma coisa de jeito nesta vida.
«nesse dia, não mais sobrevoarás as palavras» - Susana Duarte
sobrevoas as noites, onde as flores são os ângulos escondidos das veias.
apareces, como um fantasma. povoas sonhos e roubas segredos.
sobrevoas os dedos, onde as noites são raras. partes, todas as noites,
mas pairas sempre sobre os passos através dos quais perscruto os caminhos
da vida. caminhas sobre os meus passos e, todavia, não estás. matas-me
e, todavia, regressas, como um espectro que desalinha as flores
e insemina de ausência os dias. perdido, tu próprio, nas linhas oblíquas
da chuva, congeminas olhares onde os teus olhos já não estão.
desaparecerás, um dia, dos caminhos dos sonhos e dos beijos por dar.
nesse dia, a luz-outra será o véu através do qual deixarei de te ver,
qual névoa de setembro, qual gota de chuva caída dos beirais de uma casa,
eclodindo na calçada para, depois- e para sempre- se ocultar das pedras.
desapareces já, noite após noite, onde os sonhos não te nomeiam
e os dedos não te procuram. talvez sejas já, apenas, a sombra dos dias
de ontem. o teu nome não me cerca. os teus olhos desaparecem
com as chuvas. a vida, um dia, recomeçará, fantasma, presença, ausência
de todas as ausências dos meus braços.
nesse dia, não mais sobrevoarás as palavras.
Susana Duarte
Blog Terra de Encanto
apareces, como um fantasma. povoas sonhos e roubas segredos.
sobrevoas os dedos, onde as noites são raras. partes, todas as noites,
mas pairas sempre sobre os passos através dos quais perscruto os caminhos
da vida. caminhas sobre os meus passos e, todavia, não estás. matas-me
e, todavia, regressas, como um espectro que desalinha as flores
e insemina de ausência os dias. perdido, tu próprio, nas linhas oblíquas
da chuva, congeminas olhares onde os teus olhos já não estão.
desaparecerás, um dia, dos caminhos dos sonhos e dos beijos por dar.
nesse dia, a luz-outra será o véu através do qual deixarei de te ver,
qual névoa de setembro, qual gota de chuva caída dos beirais de uma casa,
eclodindo na calçada para, depois- e para sempre- se ocultar das pedras.
desapareces já, noite após noite, onde os sonhos não te nomeiam
e os dedos não te procuram. talvez sejas já, apenas, a sombra dos dias
de ontem. o teu nome não me cerca. os teus olhos desaparecem
com as chuvas. a vida, um dia, recomeçará, fantasma, presença, ausência
de todas as ausências dos meus braços.
nesse dia, não mais sobrevoarás as palavras.
Susana Duarte
Blog Terra de Encanto
Xadrez Kama-Sutra
Conjunto de 32 peças de xadrez (sem tabuleiro) em resina com figuras do Kama-Sutra.
Gostei tanto que comprei 3 conjuntos para a minha colecção.
Visita a página da colecção no Facebook (e, já agora, também a minha página pessoal)
Gostei tanto que comprei 3 conjuntos para a minha colecção.
Visita a página da colecção no Facebook (e, já agora, também a minha página pessoal)
27 outubro 2014
«pensamentos catatónicos (315)» - bagaço amarelo
Os amigos são aqueles que estão regularmente connosco e que, por isso, guardam o nosso desabafo para sempre. Se eu disser a um amigo que a minha vida está uma merda, não há forma de voltar atrás. Sempre que ele estiver comigo vai ter essa informação em conta, mesmo que a mim não me apeteça que tenha.
Pelo contrário, se eu o disser a um desconhecido qualquer, nunca mais vou ter que enfrentar alguém que sabe que a minha vida estava uma merda num determinado momento. Desabafar com um desconhecido é como vomitar para um saco e lançá-lo para dentro de um comboio em andamento. Os desconhecidos são, assim, para as ocasiões.
Estava a pensar nisto quando me apercebi que alguns dos meus melhores amigos eram desconhecidos quando tive um qualquer desabafo com eles. O comboio afastou-se, mas depois voltou. A amizade entre duas pessoas tem que ser capaz de levar com alguns sacos de vómito. Na verdade, o Amor também.
bagaço amarelo
Blog «Não compreendo as mulheres»
26 outubro 2014
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