06 setembro 2015

Postaliño da Figueira de la Foz

"Carro... digo, coche estacionado à porta do mercado da Figueira da Foz, num destes dias de Verão.
Paulo M.




Tradições

Isto de acordar do coma passados dez anos complica-me as sensações e só pode ter sido a curiosidade que me moveu a aceitar ir a casa dele depois de me mostrar que lia os jornais numa lousa electrónica a dar toquezinhos com a ponta dos dedos e me dizer que bebia café em cápsulas quando afinal as metia numa maquineta com um design a imitar os anos 50 e risonho me lançava o indecifrável só tenho medo que me caia um piano em cima. 

Já no envolvimento de música de filmes holiodescos ainda me mostrou que acedia a uma coisa chamada face-qualquer-coisa pela televisão mas era óbvia a urgência dele em me ver despida de roupas e muito por força do iminente risco de riso que os boxers com ursinhos dele me provocavam rapidamente afoguei a cara no púbis dele e com afã dediquei-me a incitar os bravos a mover o pináculo de catedral que me faria florete de espadachim em posição canina e de frango assado. 

Lá me voltou a falhar a compreensão quando ele acabou de resfolegar e conseguiu articular a necessidade de multibanco móveis mas quando vi as notas à beira do sofá percebi que afinal há tradições que ainda são o que eram.

Sem mãos!...


Estou a treinar o meu Pacheco para desapertar soutiens. Isto promete.

Patife
@FF_Patife no Twitter

05 setembro 2015

«Magma» - Boris Charmatz

«pensamentos catatónicos (322)» - bagaço amarelo

A sós

O problema dos homens sós não é apenas a solidão. É o Amor estar em todo o lado menos neles. Os homens sós estão para o Amor assim como um ateu está para Deus. Sabem que ele existe mas não lhe conseguem tocar. Assim como os ateus dizem "Meu Deus!" sem acreditarem que podem chegar a Deus, os homens sós dizem "foda-se" sem acreditarem que podem chegar ao Amor. Vai dar ao mesmo. É um desabafo.
O problema das mulheres sós não é apenas a solidão. É o Amor não estar em lado nenhum a não ser nelas. As mulheres sós estão para o Amor assim como Deus está para os ateus. Sabe que eles existem mas não obtém nada deles. Assim como Deus não lhes diz nada, as mulheres sós também nada dizem. Vai dar ao mesmo. É o silêncio.
E eu, que ateu me confesso, homem só me sinto.


bagaço amarelo
Blog «Não compreendo as mulheres»

«Na paragem do autocarro» - por Rui Felício

«Plaisir des Dieux» - canções malandras francesas
Disco em vinil da colecção «Prazer dos Deuses» - "tonus" (volume 15)
da colecção de arte erótica «a funda São» *
Que mulher!
Um corpo escultural, o nariz perfeito bem desenhado equilibrava o rosto oval, de pele sedosa, onde sobressaiam uns olhos negros, profundos como um lago onde apetecia mergulhar, emoldurado por belas madeixas de cabelos negros.
Da sua boca de lábios carnudos, apetitosos, escapava-se de vez um quando um suspiro de impaciência a que se seguia um ligeiro virar da cabeça para me lançar um lânguido olhar e um sorriso que deixava ver duas fiadas de dentes imaculadamente brancos.
As pernas altas, torneadas, em cima de uns sapatos brilhantes de saltos finos, de agulha, davam-lhe a elegância de uma deusa. Por vezes, batia repetidamente com o tacão dos pontiagudos saltos dos sapatos, em sinal de ansiedade e expectativa, pela demora do autocarro.
Atrás dela, estático, tenso, na fila da paragem do autocarro, mirava-lhe as generosas curvas do corpo envolto por um vestido leve de seda que quase me deixava ver aquilo que imaginava. Sentia o seu cheiro perfumado, a proximidade e o calor do seu corpo. Retesava-me, contraído e, em vez de um sorriso, devolvia-lhe o olhar com um esgar revelador da ansiedade que também sentia, já indisfarçável.
As palavras que ia alinhavando na minha cabeça para lhe dizer, ficavam bloqueadas, presas na garganta.
Por fim, enchi-me de coragem, venci a minha timidez e disse-lhe:
- Desculpe minha Senhora, o salto do seu sapato em cima do meu pé, está a provocar-me uma dor horrível!

Rui Felício
Blog Encontro de Gerações
Blog Escrito e Lido

* Em França há uma tradição muito curiosa: as «chansons paillardes» (canções tradicionais libertinas, cantadas em privado, entre amigos), também conhecidas como «chansons de salles de garde». A página chansons-paillardes.net recolhe músicas, letras, publicações sobre o tema. No livro «Anthologie des chansons paillardes», Pierre Enckell, explica: "Georges Brassens, Serge Gainsbourg,... muitos artistas marcaram a música popular e cantaram alegremente o erotismo e a sensualidade. Muitas vezes foram chamadas de «músicas de quartos de custódia», em referência aos internos dos hospitais, que supostamente as deveriam saber todas de cor, ou mesmo «canções de alunos», como se tivessem tido origem exclusivamente nas tradições perpetuadas em universidades e escolas. No entanto, as canções obscenas experimentaram uma distribuição extremamente ampla. Em todos os níveis da sociedade e em todas as ocasiões, os seus versos foram cantados ou gritados, desde há mais de um século, na cidade e no campo, nos quartéis e na vida civil, durante jantares de casamento ou viagens de autocarro. Estas «gaulesices» em verso formam, assim, um fundo cultural amplamente compartilhado, condenado a viver para sempre na memória colectiva de França. Transmitida de boca em boca, com o passar das gerações e transformações culturais, as canções deformam-se, perdem elementos ou caem gradualmente no esquecimento." As colectâneas, estudos e gravações ajudam a preservar esta tradição.

Um sábado qualquer... - «You know nothing Jesus Snow 2»



Um sábado qualquer...

04 setembro 2015

Folsom Street

"A kink and fetish fueled dance explosion in celebration of the 2015 Folsom Street Fair.
Folsom Street Fair 2015 is Sunday, September 27, 11am – 6pm on Folsom Street between 8th and 13th streets in San Francisco, CA."


FOLSOM STREET from Folsom Street Events on Vimeo.

Eva portuguesa - «Traz-me»

Traz-me os teus sonhos que eu ajudo a torná-los reais. Traz-me os teus desejos que eu sacio-os. Traz-me a tua fome e eu torno-me o teu alimento. Traz-me os teus medos que eu acabo com eles. Traz-me a tua dor que eu fico com ela. Traz o teu fogo e consome-me nele... Vens?

Eva
blog Eva portuguesa - porque o prazer não é pecado

«Dedo no cu» - Ruim

Invariavelmente todos já passámos por duas situações nesta vida: já pensámos como seria comer a nossa irmã ou alguma gaja nos tentou pôr um dedo no cu. Ora, eu não tenho irmãs mas já pensei comer as dos outros portanto vou falar do outro assunto antes que me meta em problemas. Este assunto do dedo no cu, ou “dedinho no cu” para as pessoas mais coloridas, sempre me pareceu algo tabooesco para ser falado em público. Homens fogem dele e o assunto surge em conversas de café esporadicamente como amianto nas escolas e a postura é sempre esta: “Foda-se. Um dedo no cu? Mas eu sou paneleiro ou quê? Levou logo uma patada nos dentes”. E algo assim ou variantes disto. Num grupo semelhante de mulheres a conversa é o inverso, pois nada alegra mais a uma gaja partilhar com o seu clã de bruxas que anda a pôr a dedunga em peida masculina. “Migas, digam-me… vocês costumam pôr o dedo no cu do vosso gajo? Opa, o Tiago adora”. O Tiago, e como se diz na gíria, acabou de se foder. Porque a vaca da namorada em vez de manter a boca fechada sobre onde enfia os dedos, acabou de arranjar maneira da Susana (que é a namorada do Bruno) ir contar isto ao namorado dela. E agora cada vez que o Tiago e o Bruno estiverem os dois a jogar FIFA e o merdas do Tiago marcar aqueles golos enchouriçados e se levantar e fizer uma pequena dança tribal em frente ao Bruno o seguinte vai acontecer: “foda-se Tiago, tu gostas que te metam dedos no cu” e fica um ambiente tipo merda porque não há gajo que se sinta à vontade em admitir esse facto e nem se vai discutir esse assunto porque continua a ser taboo. E o curioso é que não há gajo que não resista de vez em quando em brincar às sondas com a namorada o que me deixa perplexo do egoísmo masculino neste campo. Estamos em 2014 praticamente a enfiar o dedo no cu em 2015 e ainda temos receio do que possam pensar de nós quando abordamos certos assuntos que apesar de nos darem gosto e prazer, sentimos que podemos ser alvo de crítica ou gozo por parte de terceiros. E isso é triste. E agora tá tudo a pensar que eu gosto que me ponham o dedo no cu e aposto que só acabaram de ler o texto para ver se eu falava nisso. Foda-se! Mas vocês julgam que eu sou paneleiro ou quê? Levava logo uma patada na boca!

Ruim
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«Antes quebrar que torcer» - Shut up, Cláudia!




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03 setembro 2015

«Canis futuens» - Camilo Jose Cela

(do livro «Saracoteios, Tateios e outros Meneios»)

Exemplar da colecção de arte
erótica «a funda São»
Poeta vorazmente sodomita, Catulo chamava de canis futuens tanto o canzarrão quanto o cãozinho de salão habituados às relações sexuais com humanos, tão comuns na Roma dos césares e, de modo geral, nas culturas mediterrânicas e latinas. Há mais ou menos quinze anos, o alcalde e chefe local de Zarzalejo de la Cuesta, no bispado de Burgo de Osma, assomou ao balcão das Casas Consistoriais e, enquanto palpava as próprias partes — e que partes, Maria Auxiliadora, que partes! — com a mão mergulhada no bolso da calça, assim dirigiu-se à multidão desordenada:
— Cidadãos! Por culpa de Pepa do Periquito ficamos todos sem a nossa sopa de alho. Nada mais tenho a acrescentar. Arriba España!
Engatada com Sultão, um grande mastim lobeiro de cinco anos de idade, Pepa do Periquito fora parar em uma sala de cirurgia, na expectativa de que mediante uma operação as partes da mulher e do cão fossem separadas, e de que assim a população voltasse a dispor da sua sopa de alho. Pequenas causas, grandes efeitos.
E agora, meus amantíssimos catecúmenos, dizei-me:
O que leva alguém a foder com cachorros quando há tantos cristãos à disposição, ou, no pior dos casos, levas de turistas e de forasteiros? Ah, juventude, juventude, estouvada juventude, que quer aplacar a volúpia com aquilo que lhe cai diante dos olhos, sem levar nada mais em consideração. Depois, quando certas coisas acontecem... Jovens de ardoroso pau, deveis tomar como exemplo e advertência esse caso da Pepa, a pobre Pepa, que começou no gozo e terminou na atribulação, com as carnes ligadas às de um cachorro, que de modo idêntico começou no gozo e acabou no tormento.
Como em tudo mais, a explicação para o episódio em causa não chega a ser impossível.
Aconteceu que em certo momento Pepa do Periquito começou a sentir uma vaga e deleitosa cócega nas partes pudendas, logo abaixo do tufo de pêlos do chamado monte de Vénus. Deu um toque delicado no local a fim de saber a quantas a coisa andava, e a conclusão a que chegou foi indiscutível: a coisa estava na esfera do sexto mandamento, era galopante e irreversível.
— Por onde andam os moços deste lugar — cantarolou Pepa do Periquito —, que não querem atender ao meu chamar? Pois se não chegarem a tempo, com qualquer um hei-de trepar. Mas atenção — Pepa do Periquito continuou, agora já em prosa —, fiquem de olho para ver se aparece no pedaço algum cadelo com o trabuco em ponto de ser armado! Na falta do pão, come-se brioche...
Pepa do Periquito atraiu o cão com um assobio, acariciou-lhe a nuca, deu-lhe umas leves sacudidelas no pinto e observou — como a carne é fraca! — que o cão respondia aos seus estímulos pondo à mostra um trado robusto, vermelho e fascinante. Por que continuar procurando — Pepa do Periquito disse para seus botões —, se essa verruma é ainda melhor do que a do meu Leôncio? Vem aqui, cachorrinho, e logo saberás que coisinhas gostosas vamos fazer juntos.
A jovem arregaçou a saia (não teve de tirar as calcinhas, pois já andava prazerosamente de bunda descoberta), estirou-se e deixou que o cão a montasse, respirando forte e gemendo ai ai ai ao chegar o gozo, que lhe chegou três ou quatro vezes consecutivas, contra uma do cachorro, que não conseguia dar o fora.
— Vida da minha vida, que grande prazer me dás, hoje me fizeste mais feliz do que qualquer outra! — Pepa do Periquito exclamava, seguindo um antigo costume.
Ruim foi o que veio em seguida, quando Pepa do Periquito começou a sentir o desconforto da posição, e quis relaxar sem aquele amante que agora parecia um apêndice dela mesma.
— Mas o que foi que de facto aconteceu?
— Ora, dom Camilo! As trancas do cachorro estavam demorando muito a desinchar e a Pepa já não conseguia aguentar aquilo. Tentou remexer a bunda, numa tentativa de recuperar a autonomia, mas nada pôde fazer, porque uma tremenda de uma dor lhe arranhava as entranhas, as partes mais profundas da cona, aquelas que estão mais perto do chouriço digestivo.
Que horror! Que situação mais enlouquecedora!
— Sem dúvida. Sem dúvida nenhuma.
— Nesse entretanto a Pepa se pós a gritar por socorro, e quem primeiro apareceu foi seu próprio pai, o Periquito, um cavalheiro honesto e rústico, que não estava a fim de vícios nem de modernismos.
— Ao rei se dá a fazenda e a vida, mas a honra é património da alma, e a alma pertence unicamente a Deus!
Homens honrados, me ajudem!
Empunhando uma faca de sapateiro, dom Periquito correu a fim de vingar a honra perdida de sua filha, e estava a ponto de cortar o caralho do cão estuprador, quando, para felicidade geral, foi agarrado pela Guarda Civil.
— Envolvam os dois em uma coberta e levem-nos para o médico! — rugiu um vizinho com dotes de organizador.
— Não seria melhor o veterinário? — sugeriu um tímido, que imaginava ser bem dotado de senso comum.
Levem-nos para onde quer que seja, contanto que o lugar seja adequado e tenha boa reputação!
— Está certo, vamos embora!
Para resumir a história, Pepa do Periquito e Sultão, unidos por tão indissolúvel laço (e ainda há quem venha gabar o do matrimónio), terminaram no ambulatório da Previdência Social.
Pepa do Periquito, que fazia sopa de alho melhor do que qualquer outra no lugarejo, foi recolhida a um convento de rígida clausura, com a obrigação de fazer sopas de alho para a comunidade; quanto a Sultão, o canis futuens de Catulo — sumo vate dos putos —, em sua versão contemporânea, teve de exilar-se do povoado, perseguido pela inveja e a maledicência.
— Percebeis, minhas jovens leitoras, os extremos a que a luxúria pode levar, quando a ela não se aplica o oportuno e santificado remédio? Dizei para si mesmas, sim, eu percebo, sim, eu percebo, sim, eu percebo, ora bolas! E passai a agir em consequência. Guardai vossos encantos para vosso futuro marido e agradecei à Providência a circunstância de que a caceta humana não tenha aquelas travas que incham, como a do cachorro. Já ouvistes falar da pomba lisa? Já? Pois é isso o que de todo coração eu vos desejo.
No Parnaso, Catulo tange sua lira, enquanto neste mundo inferior as mulheres, incapazes de tirar proveito da lição, se viram com os cães e com tudo mais que lhes caia na rede. Então acontece aquilo que já sabemos, e a notícia pode até chegar às páginas dos jornais, para maior vergonha das duas espécies: a humana e a canina.
O homo sapiens e o canis canis são espécies diferentes e não suscetíveis de conjunção. Às vezes tentam e, em consequência, um povoado inteiro fica sem sua sopa de alho.
Tinha razão o alcalde e chefe local de Zarzalejo de la Cuesta, na diocese de Burgo de Osma, ao dizer aquilo que dizia.

Camilo Jose Cela

Postalinho da adega

"Numa adega...
Não sei a utilidade... mas achei fálico..."
Pedro M. C. V.