Exemplar da colecção de arte erótica «a funda São» |
— Cidadãos! Por culpa de Pepa do Periquito ficamos todos sem a nossa sopa de alho. Nada mais tenho a acrescentar. Arriba España!
Engatada com Sultão, um grande mastim lobeiro de cinco anos de idade, Pepa do Periquito fora parar em uma sala de cirurgia, na expectativa de que mediante uma operação as partes da mulher e do cão fossem separadas, e de que assim a população voltasse a dispor da sua sopa de alho. Pequenas causas, grandes efeitos.
E agora, meus amantíssimos catecúmenos, dizei-me:
O que leva alguém a foder com cachorros quando há tantos cristãos à disposição, ou, no pior dos casos, levas de turistas e de forasteiros? Ah, juventude, juventude, estouvada juventude, que quer aplacar a volúpia com aquilo que lhe cai diante dos olhos, sem levar nada mais em consideração. Depois, quando certas coisas acontecem... Jovens de ardoroso pau, deveis tomar como exemplo e advertência esse caso da Pepa, a pobre Pepa, que começou no gozo e terminou na atribulação, com as carnes ligadas às de um cachorro, que de modo idêntico começou no gozo e acabou no tormento.
Como em tudo mais, a explicação para o episódio em causa não chega a ser impossível.
Aconteceu que em certo momento Pepa do Periquito começou a sentir uma vaga e deleitosa cócega nas partes pudendas, logo abaixo do tufo de pêlos do chamado monte de Vénus. Deu um toque delicado no local a fim de saber a quantas a coisa andava, e a conclusão a que chegou foi indiscutível: a coisa estava na esfera do sexto mandamento, era galopante e irreversível.
— Por onde andam os moços deste lugar — cantarolou Pepa do Periquito —, que não querem atender ao meu chamar? Pois se não chegarem a tempo, com qualquer um hei-de trepar. Mas atenção — Pepa do Periquito continuou, agora já em prosa —, fiquem de olho para ver se aparece no pedaço algum cadelo com o trabuco em ponto de ser armado! Na falta do pão, come-se brioche...
Pepa do Periquito atraiu o cão com um assobio, acariciou-lhe a nuca, deu-lhe umas leves sacudidelas no pinto e observou — como a carne é fraca! — que o cão respondia aos seus estímulos pondo à mostra um trado robusto, vermelho e fascinante. Por que continuar procurando — Pepa do Periquito disse para seus botões —, se essa verruma é ainda melhor do que a do meu Leôncio? Vem aqui, cachorrinho, e logo saberás que coisinhas gostosas vamos fazer juntos.
A jovem arregaçou a saia (não teve de tirar as calcinhas, pois já andava prazerosamente de bunda descoberta), estirou-se e deixou que o cão a montasse, respirando forte e gemendo ai ai ai ao chegar o gozo, que lhe chegou três ou quatro vezes consecutivas, contra uma do cachorro, que não conseguia dar o fora.
— Vida da minha vida, que grande prazer me dás, hoje me fizeste mais feliz do que qualquer outra! — Pepa do Periquito exclamava, seguindo um antigo costume.
Ruim foi o que veio em seguida, quando Pepa do Periquito começou a sentir o desconforto da posição, e quis relaxar sem aquele amante que agora parecia um apêndice dela mesma.
— Mas o que foi que de facto aconteceu?
— Ora, dom Camilo! As trancas do cachorro estavam demorando muito a desinchar e a Pepa já não conseguia aguentar aquilo. Tentou remexer a bunda, numa tentativa de recuperar a autonomia, mas nada pôde fazer, porque uma tremenda de uma dor lhe arranhava as entranhas, as partes mais profundas da cona, aquelas que estão mais perto do chouriço digestivo.
Que horror! Que situação mais enlouquecedora!
— Sem dúvida. Sem dúvida nenhuma.
— Nesse entretanto a Pepa se pós a gritar por socorro, e quem primeiro apareceu foi seu próprio pai, o Periquito, um cavalheiro honesto e rústico, que não estava a fim de vícios nem de modernismos.
— Ao rei se dá a fazenda e a vida, mas a honra é património da alma, e a alma pertence unicamente a Deus!
Homens honrados, me ajudem!
Empunhando uma faca de sapateiro, dom Periquito correu a fim de vingar a honra perdida de sua filha, e estava a ponto de cortar o caralho do cão estuprador, quando, para felicidade geral, foi agarrado pela Guarda Civil.
— Envolvam os dois em uma coberta e levem-nos para o médico! — rugiu um vizinho com dotes de organizador.
— Não seria melhor o veterinário? — sugeriu um tímido, que imaginava ser bem dotado de senso comum.
Levem-nos para onde quer que seja, contanto que o lugar seja adequado e tenha boa reputação!
— Está certo, vamos embora!
Para resumir a história, Pepa do Periquito e Sultão, unidos por tão indissolúvel laço (e ainda há quem venha gabar o do matrimónio), terminaram no ambulatório da Previdência Social.
Pepa do Periquito, que fazia sopa de alho melhor do que qualquer outra no lugarejo, foi recolhida a um convento de rígida clausura, com a obrigação de fazer sopas de alho para a comunidade; quanto a Sultão, o canis futuens de Catulo — sumo vate dos putos —, em sua versão contemporânea, teve de exilar-se do povoado, perseguido pela inveja e a maledicência.
— Percebeis, minhas jovens leitoras, os extremos a que a luxúria pode levar, quando a ela não se aplica o oportuno e santificado remédio? Dizei para si mesmas, sim, eu percebo, sim, eu percebo, sim, eu percebo, ora bolas! E passai a agir em consequência. Guardai vossos encantos para vosso futuro marido e agradecei à Providência a circunstância de que a caceta humana não tenha aquelas travas que incham, como a do cachorro. Já ouvistes falar da pomba lisa? Já? Pois é isso o que de todo coração eu vos desejo.
No Parnaso, Catulo tange sua lira, enquanto neste mundo inferior as mulheres, incapazes de tirar proveito da lição, se viram com os cães e com tudo mais que lhes caia na rede. Então acontece aquilo que já sabemos, e a notícia pode até chegar às páginas dos jornais, para maior vergonha das duas espécies: a humana e a canina.
O homo sapiens e o canis canis são espécies diferentes e não suscetíveis de conjunção. Às vezes tentam e, em consequência, um povoado inteiro fica sem sua sopa de alho.
Tinha razão o alcalde e chefe local de Zarzalejo de la Cuesta, na diocese de Burgo de Osma, ao dizer aquilo que dizia.
Camilo Jose Cela