22 fevereiro 2016

Luís Gaspar lê «Corpo Moreno» de Francisco José Tenreiro

Se eu dissesse que o teu corpo moreno
tem o ritmo da cobra preta deslizando
mentia.
Mentia se comparasse o teu rosto fruto
ao das estátuas adormecidas das velhas civilizações de África
de olhos rasgados em sonhos de luar
e boca em segredos de amor.

Como a minha Ilha é o teu corpo mulato
tronco forte que dá
amorosamente ramos, folhas, flores e frutos e há frutos
na geografia de teu corpo.

Teu rosto de fruto
olhos oblíquos de safú
boca fresca de framboesa silvestre
és tu.

És tu minha Ilha e minha Africa
forte e desdenhosa dos que te falam à volta.

Francisco José Tenreiro
Francisco José Tenreiro foi um geógrafo e poeta são-tomense. Foi docente no Instituto de Ciências Sociais e Política Ultramarina, atual Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas da Universidade de Lisboa. (Wikipédia).

Ouçam este texto na voz d'ouro de Luís Gaspar, no Estúdio Raposa

«Frustrado» - Rubros Versos


Tiago Silva

21 fevereiro 2016

As mulheres latinas sabem convencer os homens

«coisas que fascinam (183)» - bagaço amarelo

estado satélite a rondar a vida

Não sei quantas vezes, num café ou noutro sítio qualquer, me apetece meter conversa com uma mulher. Não estou a falar de engate, estou mesmo a falar sobre conversar. É que há mulheres que têm qualquer coisa que me dá vontade de as conhecer. Há quem lhe chame uma questão de pele, mas eu não. Não tem a ver com a pele, tem a ver com o que nos falta naquele momento. É isso, é uma questão de falta.
Claro que eu nunca meto conversa com ninguém ou, pelo menos, é mesmo muito raro. Sou tímido que chegue e, por isso, costumo ficar na expectativa que venham falar comigo. O que, convenhamos, também quase nunca acontece.
Aconteceu-me agora mesmo.
Tudo porque entrei numa pastelaria às oito da manhã e recusaram-se delicadamente a servir-me uma cerveja. Explicaram-me que só servem bebidas alcoólicas depois das onze, o que eu compreendi. Ainda assim, expliquei que no meu caso não eram oito da manhã. Vinha do trabalho e, antes de ir para casa dormir, apetecia-me beber um copo.
A senhora acabou por me deixar beber duas cervejas Sagres e comer uma empalhada. A mim e a uma mulher que também estava na minha situação e aproveitou a coisa para, também ela, beber um copo. Sentou-se na minha mesa e disse que precisava de falar com alguém que, como ela, ande ao contrário no mundo.
Naquele momento foi isso que nos uniu, o ritmo da vida. Todos os que entravam naquele espaço queriam ler o jornal durante um galão e uma torrada ou um café e uma nata. Só nós é que queríamos espairecer duma jornada de trabalho.
Gostei da expressão "ao contrário do mundo", porque é exactamente assim que me sinto. Não é que me sinta mal. É mais sentir-me numa órbita qualquer do que devia ser a vida, como um satélite que ronda um planeta mas nunca lhe toca. Quando é assim, se dois satélites se cruzam no espaço, porque não beberem uma cerveja juntos?
Despedimo-nos depois de trocarmos números de telefone, para um dia destes repetirmos uma cerveja matinal (o que provavelmente nunca vai acontecer). Ela foi-se embora e eu vim para casa. Acho que foi sempre assim que me apaixonei... no estado satélite a rondar a vida. Apenas hoje não aconteceu.


bagaço amarelo
Blog «Não compreendo as mulheres»

PI dos amigos para sempre

Maitena - Condição feminina 15




20 fevereiro 2016

«Comendo a carioquinha safada na sacada do hotel»

"conto erótico em áudio dramatizado"

Varinha mágica...

A de ontem à noite achava-se uma fada, mas a pinar não fazia magia alguma. Só por causa das coisas dei-lhe uma fodinha de condão.

Patife
@FF_Patife no Twitter

«Até à eternidade» - por Rui Felício

Moravam na Estrada da Beira junto ao Café Vitrice.
O Sr. Olímpio trabalhava perto, a cinquenta metros, no escritório da Escola de Condução do Zé Pais.
A mulher, a D. Virgínia, era doméstica.
Deviam andar na casa dos cinquenta anos de idade e eram casados há uns trinta.
Ela passava o tempo na lide da casa, passajava as meias do marido, costurava, cozinhava.
Às vezes conversava com a sua única amiga, a D. Leopoldina que morava do outro lado da rua e que, quando calhava, lhe batia à porta.
O Sr. Olímpio, de ar circunspecto e desconfiado, almoçava sempre em casa e depois regressava ao escritório. Pelo caminho, curto, palitava os dentes e escarrava uma vez ou duas para o meio da estrada.
«Mulher e a Morte»
Estatueta em resina
Colecção de arte erótica «a funda São»
Ciumento em último grau, há muito que proibira terminantemente a sua mulher de sair de casa sem ser acompanhada por ele. Nem para ir ao café, mesmo ao lado, ou sequer para atravessar a rua para estar à conversa com a D. Leopoldina.
Não tinham filhos.
Da única vez que ela engravidou, o Sr. Olímpio tinha-a obrigado a fazer um aborto porque se lhe encasquetou na cabeça dura que o filho não seria dele. Acusou-a sem fundamento de ter ido ao Café Vitrice sem consentimento dele e que o dono certamente se tinha enrolado com ela.
Com o aproximar do Verão, quando os dias começavam a ficar maiores, depois de sair do escritório, levava-a a passear na baixa, resmungando quando lhe parecia que ela olhava descaradamente para algum homem com quem se cruzassem.
Durante a viagem, no trolley, a D. Virgínia sentava-se sempre junto à janela, ia observando as árvores e as casas, sob o olhar de esguelha, fiscalizador e intimidatório do marido sentado estrategicamente ao seu lado.
Certo dia a D. Virgínia adoeceu gravemente. Era visitada diariamente por uma médica que a dada altura confidenciou ao marido que ela não iria durar muito.
Pouco mais de um mês depois morreu, placidamente e silenciosa, como sempre vivera.
No dia do funeral, o Sr. Olímpio chorava copiosamente, pesaroso, inconsolável, porque na verdade ele amava-a.
Quando levaram o caixão para a carreta, o marido ficou de rastos. De tal forma que um amigo o veio consolar aconselhando-lhe calma. E, naquele estado, o amigo perguntou-lhe se ele se sentia em condições para acompanhar o féretro até ao cemitério da Conchada.
O Sr. Olímpio empertigou-se, fez das tripas coração e respondeu-lhe.
- Claro! Nunca saiu sem mim. Não seria agora que o faria pela primeira vez!

Rui Felício
Blog Encontro de Gerações
Blog Escrito e Lido

Um sábado qualquer... - «Leite dos peitos 4»



Um sábado qualquer...

19 fevereiro 2016

A Verdade vem-se sempre ao de cima!

Crica para veres toda a história
Perjúrio quente


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Maltinha, temos nova (e excelente) companhia!

A partir da próxima semana, passamos a contar com Veneno Cor de Rosa na equipa da fundiSão: Pink Poison.

São Rosas - Já tenho o pito todo molhadinho.
Pink Poison - Acalma lá o pito...
São Rosas - Pito e repito.

«conversa 2150» - bagaço amarelo

(no supermercado)

Ela - Então, estás bem?
Eu - Sim, vou andando. Às compras, não é?
Ela - No último jantar lá em casa, acho que o vinho tinha qualquer coisa...
Eu - Então?
Ela - Fiquei sem copos... vim comprar novos.
Eu - Sabes que agora há uns copos que parecem de vidro mas não se partem...
Ela - Credo! Não quero isso.
Eu - Porquê?
Ela - Então e como é eu faço quando o meu marido me chateia?


bagaço amarelo
Blog «Não compreendo as mulheres»