20 dezembro 2016

«Projeto Mulheres» - Carol Rossetti - 69

O livro «Mulheres - retratos de respeito, amor-próprio, direitos e dignidade», de Carol Rossetti, está em venda em Portugal, editado pela Saída de Emergência.







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Marion, mais uma das mulheres de Milo Manara

Estatueta com personagem de Milo Manara, dentro do seu blister original.
Milo Manara tinha necessariamente que fazer parte da minha colecção. E faz, com vários livros e outros objectos.








A colecção de arte erótica «a funda São» tem:
> 1.900 livros das temáticas do erotismo e da sexualidade, desde o ano de 1664 até aos nossos dias;
> 4.000 objectos diversos (quadros a óleo e acrílico, desenhos originais, gravuras, jogos, mecanismos e segredos, brinquedos, publicidade, artesanato, peças de design, selos, moedas, postais, calendários, antiguidades, estatuetas em diversos materiais e de diversas proveniências, etc.);
> muitas ideias para actividades complementares, loja e merchandising...

... procura parceiro [M/F]

Quem quiser investir neste projecto, pode contactar-me.

Visita a página da colecção no Facebook (e, já agora, também a minha página pessoal)

19 dezembro 2016

«Condom famous» (célebre por um preservativo)

Concurso de design para criar o preservativo oficial de Toronto (Canadá).
O que pode acontecer a quem ganhar este concurso, promovido pela Toronto Public Health?

Os classificados dos jornais como fonte de inspiração

Que os anúncios dos classificados dos jornais, especificamente os da secção de "Convívio", constituem um manancial de adjectivos e uma larga enumeração de capacidades e descrições morfológicas sobretudo femininas, já sabíamos. 

Quem diria no entanto que esses rectângulos criadores de fantasias libidinosas poderiam também ser fonte de inspiração artística? Pois, foi precisamente isso que aconteceu quando Rosário Pinheiro, uma jovem designer e ilustradora de Viseu, resolveu explorar as páginas de comércio de carinho do «Diário de Viseu» para aí se inspirar e, em seguida, produzir várias ilustrações que depois foram o mote para uma exposição. 

Nessas ilustrações, imaginou a autora ou o autor dos diferentes anúncios com base na descrição de cada anúncio. O resultado pode ser visto aqui, no álbum deste projecto intitulado "Merry Whores".



Boas festinhas...


Edição revista... e aumentada...

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18 dezembro 2016

«The Rise and Fall of Angry Aids» (ascensão e queda da SIDA zangada)

«um gato numa varanda» - bagaço amarelo

De vez em quando morríamos de Amor. Principalmente aos Domingos depois do almoço, que era a altura em que descobríamos que não tínhamos coragem para dizer um ao outro que precisávamos de estar sozinhos. Na verdade, era também nesses momentos que tínhamos tempo para estar os dois juntos sem as preocupações inerentes à vida mesquinha que levávamos. Por isso nem sequer a nós próprios tínhamos coragem de o dizer.
Ela tinha um gato que eu nunca vi. Sempre que a visitava perguntava-lhe por ele, mas ela dizia que em Lisboa é normal os gatos frequentarem os telhados dos edifícios dos bairros antigos. Cheguei à conclusão que ele só entrava em casa para comer e saía logo outra vez. De facto, na cozinha havia sempre uma taça com comida e outra com água.

- Como é que podes ter a certeza que é o teu gato, e não outro, que vem cá comer?
- E se for outro, isso incomoda-te?

Era Domingo e eu tinha chegado apenas no dia anterior. Como é que numa relação onde só nos víamos ao fim de semana já se notava um desgaste tão grande? Pensei na pergunta, mas engoli-a imediatamente, para não provocar uma discussão.

- Se queres ter sexo antes de ires embora tem que ser agora. A seguir tenho que estudar...
- Esta semana estava a pensar ir só amanhã...
- Então deixa estar. Temos logo à noite.

Se ela ia estudar, eu tinha a porta aberta para me perder em Lisboa. Dei-lhe um beijo seco nos lábios e saí. É, sem dúvida, uma das cidades que eu gosto de visitar e revisitar, Lisboa. Nunca me canso de tentar perceber o labirinto de ter muitas cidades pequenas numa cidade grande. Talvez Lisboa seja um bocadinho como a minha vida, uma cidade onde me posso perder, mas onde também me posso aconchegar num pequeno bairro qualquer.
De qualquer forma, aquela tarde foi diferente. Passei-a a olhar para os telhados a ver se descobria algum gato. Vi vários e cheguei à conclusão que ela podia ter razão. Fiquei cinco minutos a olhar para um que, empoleirado no ferro enferrujado duma varanda, me fitava também. Era cinzento com riscas mais escuras. Enfim, um gato normalíssimo que só me despertou a atenção por estar a olhar para mim. Tinha uma coleira vermelha.
Nesse fim de tarde decidi que não fazia sentido voltar a Lisboa tão cedo para a visitar e acabei por apanhar um comboio para Aveiro. Estava farto de morrer de Amor ao Domingo. Não lho disse logo. Planeei telefonar-lhe na quarta-feira para a informar da decisão, o que acabei por não fazer. Por isso mesmo, a última conversa que tivemos foi sobre o gato dela.

- Conheci o teu gato. Estava na varanda dum prédio ao cimo da rua...
- Como é que sabes que era ele?
- Incomoda-te se for outro?

E saí. Ela também nunca mais me telefonou.


bagaço amarelo
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Maitena - Condição feminina 58




17 dezembro 2016

«Love folds» (dobras de amor) - Sergey Rogov


Luís Gaspar lê «Quero-te» de Ricardo Vercesi

Quero-te.
A cada dia,
A cada segundo.
Só para mim.
Quero ouvir
Cada palavra tua,
Cada sussuro.
E por fim,
Quero cada gesto,
Cada sorriso,
Cada lamento,
Cada “amo-te”,
Cada lágrima.
Quero-te a cada momento.
Cada gemido.
Quero o teu peito,
Batendo forte
No meu.
Em síncope,
E eu,
Depois de tanto te querer,
Nada mais serei que não teu.

Ricardo Vercesi
Com um percurso ligado às artes, vias tortuosas levaram-no às tecnologias de informação. Escrevendo por teimosia, Ricardo Vercesi Picoto considera-se um amador, desde que amador seja "aquele que ama", diz. Deixa a qualificação dos seus textos para quem os lê. Talvez, um dia, surja o livro onde reuna aquilo a que chama de verborreia aparentemente poética.
Ouçam este texto na voz d'ouro de Luís Gaspar, no Estúdio Raposa

«O Conde de Aguilar» - por Rui Felício

Era certo e sabido. Cada vez que vínhamos a Lisboa à boleia para no dia seguinte à tarde assistirmos a um encontro de futebol entre um dos grandes e a Académica, percorríamos a via sacra que nos habituáramos a conceber, na nossa não assumida ignorância e provincianismo, perdidos na grande e feérica cidade capital.
As capas esvoaçando, calcorreávamos a Avenida da Liberdade, o Rossio, a Praça da Figueira, a Rua Augusta e o Terreiro do Paço. Bebíamos uma "imperial" no Café Martinho. Criticávamos a falta de qualidade da cerveja comparando-a com a Topázio de Coimbra, que era de longe a melhor de todas...
Petiscávamos no Comibebe, sorvíamos um "eduardinho" na Rua do Coliseu, uma "ginjinha com elas" no Largo de S. Domingos e um "pirata" nos Restauradores. A explosiva mistura não tardava a produzir os seus efeitos.
A grande apoteose estava porém reservada para o Ritz Club, perto do elevador da Glória. Ali encontraríamos as mais belas mulheres, algumas de cerrado sotaque espanholado, que nos davam a sensação de com elas dançarmos lascivamente na cosmopolita Madrid.
«Coelho punk e sapo aflito»
Estatueta em resina que esteve
exposta no primeiro Salão
Erótico de Lisboa, em 2005
Colecção de arte erótica
«a funda São»
Naquele antro de perdição, por mais do que uma vez vi actuar altas horas da madrugada, o ilusionista Conde de Aguilar.
Estava já na sua curva artística descendente, depois de anos e anos em que chegou a atingir o apogeu com espectáculos em Paris, Madrid, Coliseu de Lisboa...
Vestia-se com capa de cetim negro, chapéu alto, papillon, a indispensável varinha mágica e um lenço branco desdobrado, na mão que a segurava. Fazia os truques mais comuns, com cartas, flores, lenços, bolas, pombos....
Todos culminavam com a frase que era a sua preferida:
- Isto é extraóooordinário -  martelando as sílabas e acentuando prolongadamente o “óooo”... - Isto não é magia, meus Senhores, isto é ilusionismo. Em tudo há um truque, uma ilusão...
Deixava para o fim aquele que ele considerava o mais espectacular: fazer sair um coelho da sua cartola que previamente mostrava completamente vazia, elucidando: - Esta cartola é como um ventre materno. Das suas entranhas vai sair a vida que a varinha vai gerar!
Mas uma noite houve em que o Conde de Aguilar não conseguia fazer o coelho aparecer. Ele bem enfiava a varinha na cartola, tentando reproduzir o mistério da criação, mas nada!...
Alguém da assistência coimbrã, vendo a dificuldade do Conde de Aguilar, “ajudou-o”:
- Oh Conde, você já meteu a sua vara na cartola várias vezes... Agora tem de esperar uns nove meses, não sabia disso?

Rui Felício
Blog Encontro de Gerações
Blog Escrito e Lido