As capas esvoaçando, calcorreávamos a Avenida da Liberdade, o Rossio, a Praça da Figueira, a Rua Augusta e o Terreiro do Paço. Bebíamos uma "imperial" no Café Martinho. Criticávamos a falta de qualidade da cerveja comparando-a com a Topázio de Coimbra, que era de longe a melhor de todas...
Petiscávamos no Comibebe, sorvíamos um "eduardinho" na Rua do Coliseu, uma "ginjinha com elas" no Largo de S. Domingos e um "pirata" nos Restauradores. A explosiva mistura não tardava a produzir os seus efeitos.
A grande apoteose estava porém reservada para o Ritz Club, perto do elevador da Glória. Ali encontraríamos as mais belas mulheres, algumas de cerrado sotaque espanholado, que nos davam a sensação de com elas dançarmos lascivamente na cosmopolita Madrid.
«Coelho punk e sapo aflito» Estatueta em resina que esteve exposta no primeiro Salão Erótico de Lisboa, em 2005 Colecção de arte erótica «a funda São» |
Estava já na sua curva artística descendente, depois de anos e anos em que chegou a atingir o apogeu com espectáculos em Paris, Madrid, Coliseu de Lisboa...
Vestia-se com capa de cetim negro, chapéu alto, papillon, a indispensável varinha mágica e um lenço branco desdobrado, na mão que a segurava. Fazia os truques mais comuns, com cartas, flores, lenços, bolas, pombos....
Todos culminavam com a frase que era a sua preferida:
- Isto é extraóooordinário - martelando as sílabas e acentuando prolongadamente o “óooo”... - Isto não é magia, meus Senhores, isto é ilusionismo. Em tudo há um truque, uma ilusão...
Deixava para o fim aquele que ele considerava o mais espectacular: fazer sair um coelho da sua cartola que previamente mostrava completamente vazia, elucidando: - Esta cartola é como um ventre materno. Das suas entranhas vai sair a vida que a varinha vai gerar!
Mas uma noite houve em que o Conde de Aguilar não conseguia fazer o coelho aparecer. Ele bem enfiava a varinha na cartola, tentando reproduzir o mistério da criação, mas nada!...
Alguém da assistência coimbrã, vendo a dificuldade do Conde de Aguilar, “ajudou-o”:
- Oh Conde, você já meteu a sua vara na cartola várias vezes... Agora tem de esperar uns nove meses, não sabia disso?
Rui Felício
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