31 dezembro 2017

Cozinha de autor







A abrir o cardápio uma esmagada dos ovos estrelados e de melancia com suaves notas de saliva a brotarem dos lábios que conferem satisfação plena. Espevitou-me o paladar e avancei pelos ovos mexidos misturados com boa farinheira. Os ovos de compleição muito aceitável resistiam aos meus debicos mas a farinheira deixava-se deglutir completamente numa camilha translúcida tornando o prato original e viciante. O presunto de grande qualidade apoiava a degustação com presença.


Já nos pratos o linguado apresentava-se fresco e grande como convém e a carne era convincente sem lascar ao primeiro embate. O rolo atado tinha a consistência necessária para imprimir o ritmo de uma refeição luxuosa. O duo de tubérculos quase à borda do prato também ajudava à decoração do prato garantindo salivação permanente.


Recomendo a gastronomia deste chef que já repeti bastas vezes pela segurança que dá de requinte e satisfação do palato mais exigente. A carta de vinhos resume-se a um branco e um translúcido inicial mas no conjunto é uma solução perfeitamente equilibrada.

Momentos raríssimos


Consigo ter momentos de elevada genialidade. Desde que não tenha um par de mamas à frente a distrair-me.

Patife
@FF_Patife no Twitter

30 dezembro 2017

«Noite» - Susana Duarte

Noite
(ouvindo Jacqueline du Pré interpretando Offenbach)

(eu, e tu, somos a noite das intempéries
e dos druidas, construções
de um acaso tecido
pelas constelações dos dedos, e pelas impressões digitais
nas veredas do que somos).

a noite sublinha as dissonâncias
dos corpos, e as ausências dos olhares e
das mãos.

Susana Duarte
Blog Terra de Encanto
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Excerto de "Noite", do livro Pangeia, de Susana Duarte
Supostamente a lançar brevemente pela Alphabetum Editora
Foto pessoal, tirada no Museu Nacional de Machado de Castro

Por favor atende-me!


«Pombo correio» - por Rui Felício

«A menina do chapéuzinho vermelho e
o lobo relativamente mau»
Livro de José Vilhena, 1975
Colecção de arte erótica «a funda São»
O Murta até nem era frequentador habitual do Café do Silva, mas ultimamente não falhava um dia.
Andava loucamente apaixonado e, naquele tempo, excepção feita aos bailes de garagem dos fins de semana a que ele e a linda rapariga acorriam pressurosos, os contactos nos restantes dias eram extremamente dificeis.
As raparigas eram mantidas numa férrea redoma.
Mesmo quando, excepcionalmente, tinham permissão para irem aos tais bailes, era habitual serem acompanhadas pelas mães que fiscalizavam o seu comportamento com olhos de lince.
Raras eram as familias que tinham telefone em casa e, mesmo naquelas onde o havia, seria impensável um telefonema de namorados se, como era o caso, o namoro formal ainda nem sequer tivesse sido autorizado pelos pais da moça.

Mas a necessidade aguça o engenho...

O pai da moça, cujo nome aqui omito por respeito à sua memória, usava chapéu como a maioria dos homens de então, e fazia parte das suas rotinas diárias, pendurá-lo num cabide atrás da porta da sua casa.
Colocava-o na cabeça sempre que saía de casa e voltava a pendurá-lo no cabide que existia no Café do Silva logo que ali chegava para tomar uma bica e jogar às damas.
Alisava o cabelo empastado de brilhantina com as palmas das mãos, secava-as às calças e sentava-se a uma mesa , convidando algum dos presentes para uma partida de damas, ou encetando alguma conversa acalorada sobre os últimos jogos de futebol do União ou da Académica.
O Murta aproveitava então a sua distracção e subrepticiamente retirava do forro do chapéu pendurado no cabide, um bilhetinho dobrado da sua amada.
Depois de o ler, escrevinhava nas costas do mesmo bilhete, uma dúzia de palavras carregadas de amor, voltava a dobrá-lo e recolocava-o no forro do chapéu.

Rui Felício
Blog Encontro de Gerações
Blog Escrito e Lido

Maurício Falleiros


29 dezembro 2017

Luís Gaspar lê «Outra» de António Botto

Se fosses luz serias a mais bela
De quantas há no mundo: – a luz do dia!
– Bendito seja o teu sorriso
Que desata a inspiração
Da minha fantasia!
Se fosses flor serias o perfume
Concentrado e divino que perturba
O sentir de quem nasce para amar!
– Se desejo o teu corpo é porque tenho
Dentro de mim
A sede e a vibração de te beijar!
Se fosses água – música da terra,
Serias água pura e sempre calma!
– Mas de tudo que possas ser na vida,
Só quero, meu amor, que sejas alma!

António Botto
António Tomás Botto (Concavada, Abrantes, 17 de Agosto de 1897 — Rio de Janeiro, 16 de Março de 1959) foi um poeta português. A sua obra mais conhecida, e também a mais polémica, é o livro de poesia "Canções" que, pelo seu carácter abertamente homossexual, causou grande agitação nos meios religiosamente conservadores da época.
Ouçam este texto na voz d'ouro de Luís Gaspar, no Estúdio Raposa

«Prazer oculto» - Mário Lima


Não sabia o que o impelia todas as noites para aquele lugar. Sabia, é que não podia deixar de lá ir. Lá ao fundo, as luzes da Marginal alumiavam a baía onde os reflexos eram sulcos deixados naquele mar de Luanda.

Deslocava-se a pé, como sempre o fazia. O silêncio ali era de oiro, não fosse espantar quem lá estava.

Ao lado, o cinema Miramar transbordava de gente, assistindo a mais uma sessão, num dos mais lindos cinemas ao ar livre da cidade.

Mas ali, no jardim onde ele estava, tudo era escuro. Devagar, aproximou-se do local onde ouvia uns gemidos lânguidos de rapariga. Atrás de uma moita, viu o casal. Não notaram a sua presença, fruto de muitos anos de experiência em observar os casais que ali se deslocavam pela calada da noite.

Ela, de saia subida, era impelida contra o chão pelos movimentos pélvicos dele. Os seios erectos eram mordidos com impaciência, pois quanto mais era a sensação de serem descobertos mais a adrenalina se fazia sentir. Estavam a ser observados e não o sabiam.

Ele observava aquela fúria sexual e sentia-se feliz. Desapertou a braguilha e deu-se a manipular o seu sexo, sentindo o prazer da carne que via como sendo seu.

Aos gritinhos abafados deles, juntava os seus, até que, por fim, um jorro de sémen foi depositado na terra daquele jardim.

Aguardou um pouco que o corpo voltasse ao normal. Devagar, foi recuando até se ver fora do local. Como um passeante vulgar, dirigiu-se para casa. Depois de despido, abriu a roupa da cama devagar para não acordar a mulher que a seu lado dormia. Ela, sentiu-o deitar-se, como todos as noites o sentia. Não se mexeu, a sua carne pedia também prazer mas sabia que dele já nada podia esperar. E, com o corpo tremente, adormecia como há tantos anos o fazia.

… No jardim do Miramar, as formigas levavam aquele sémen tanto delas conhecido.

Mário Lima
Blog O sonhador

#consultóriosentimental - Ruim







Se o melhor que tiverem para oferecer a alguém for um decote ou um saldo de conta, então pensem que há sempre alguém com melhor decote ou com um saldo de conta maior.

Ruim
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28 dezembro 2017

«Rola» - Porta dos Fundos

Antologia da poesia erótica brasileira

Colectânea organizada por Eliane Robert Moraes.
Edição da Tinta da China para Portugal.
Junta-se à edição original do Brasil, na minha colecção.


A colecção de arte erótica «a funda São» tem:
> 1.900 livros das temáticas do erotismo e da sexualidade, desde o ano de 1664 até aos nossos dias;
> 4.000 objectos diversos (quadros a óleo e acrílico, desenhos originais, gravuras, jogos, mecanismos e segredos, brinquedos, publicidade, artesanato, peças de design, selos, moedas, postais, calendários, antiguidades, estatuetas em diversos materiais e de diversas proveniências, etc.);
> muitas ideias para actividades complementares, loja e merchandising...

... procura parceiro [M/F]

Quem quiser investir neste projecto, pode contactar-me.

Visita a página da colecção no Facebook (e, já agora, também a minha página pessoal)

«Keith Pop – Impotência» - Adão Iturrusgarai