Não sabia o que o impelia todas as noites para aquele lugar. Sabia, é que não podia deixar de lá ir. Lá ao fundo, as luzes da Marginal alumiavam a baía onde os reflexos eram sulcos deixados naquele mar de Luanda.
Deslocava-se a pé, como sempre o fazia. O silêncio ali era de oiro, não fosse espantar quem lá estava.
Ao lado, o cinema Miramar transbordava de gente, assistindo a mais uma sessão, num dos mais lindos cinemas ao ar livre da cidade.
Mas ali, no jardim onde ele estava, tudo era escuro. Devagar, aproximou-se do local onde ouvia uns gemidos lânguidos de rapariga. Atrás de uma moita, viu o casal. Não notaram a sua presença, fruto de muitos anos de experiência em observar os casais que ali se deslocavam pela calada da noite.
Ela, de saia subida, era impelida contra o chão pelos movimentos pélvicos dele. Os seios erectos eram mordidos com impaciência, pois quanto mais era a sensação de serem descobertos mais a adrenalina se fazia sentir. Estavam a ser observados e não o sabiam.
Ele observava aquela fúria sexual e sentia-se feliz. Desapertou a braguilha e deu-se a manipular o seu sexo, sentindo o prazer da carne que via como sendo seu.
Aos gritinhos abafados deles, juntava os seus, até que, por fim, um jorro de sémen foi depositado na terra daquele jardim.
Aguardou um pouco que o corpo voltasse ao normal. Devagar, foi recuando até se ver fora do local. Como um passeante vulgar, dirigiu-se para casa. Depois de despido, abriu a roupa da cama devagar para não acordar a mulher que a seu lado dormia. Ela, sentiu-o deitar-se, como todos as noites o sentia. Não se mexeu, a sua carne pedia também prazer mas sabia que dele já nada podia esperar. E, com o corpo tremente, adormecia como há tantos anos o fazia.
… No jardim do Miramar, as formigas levavam aquele sémen tanto delas conhecido.
Mário Lima
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O sonhador