06 fevereiro 2018

«Por todas as madrugadas» - Susana Duarte

retive, entre os dedos, as conchas devassadas
pela natureza impetuosa da língua, e as flores,
e os grãos de areia laminados pelas tuas mãos.

guardei tudo onde a água não me alcança,
e os abraços ficam por dar. é nesse lugar triste,
de faltas e de dores, que guardei as conchas,


e as flores, e os grãos de areia, e as tuas,
e as minhas mãos. as que perdeste, no lugar
misterioso onde caem os abraços e se perdem

beijos. as circunstâncias dos beijos, são as mesmas
das abelhas: correriam livres onde as flores
não polinizadas esperassem por novas auroras.

nessas auroras, faltam, todavia, as palavras.
habituar-me-ei a todas as ausências, mas nunca
às ausências das palavras, as que se desgastam

sob os dedos marinheiros que escondes na areia.
se souberes onde as perdeste, ou onde o medo
perdura por entre as conchas fundas do ser, diz

o meu nome, e abraça-o, e traz a mim a língua,
a que devora os grãos de areia que sou, e as mãos
entrelaçadas, devassadas também elas pela urgência

do abraço. nesse momento, deixa que a língua
me trespasse, e faça renascer sob o corpo-mar
das arribas. diz o meu nome. e tira-me de onde

as palavras insistem em não ser ditas, e o amor,
esse vagabundo, teima em perder os dedos estranhos
das navegações dos olhos. e fica. ousa as palavras.

ousa as palavras. e deixa que as vertentes solares
trespassem as noites todas, e incendeiem as litanias
das ondas, e tudo mude de lugar: eu, tu, e as conchas,

e os grãos de areia, e as flores polinizadas, e os mares,
e os abraços teimosamente navegados pelas ausências
das palavras que insisto em te pedir, ou em roubar

às mãos que escondes na areia, e me deste por um breve,
redondo, insistente e profundo momento de esquecimento:
todo o esquecimento é feito de palavras, tal como aquelas

que te peço, ainda, tresmalhadas das ondas, e das nuvens,
e dos solares dias anteriores ao mosto, onde és tudo
o que quero reter nos olhos, e nos recantos onde as mãos,

esquecidas de todas as convenções, e de todas as expiações,
pousaram resolutas, anímicas, totémicas, talvez nuas
de tudo o que dissemos antes e, por isso, vivas.

Susana Duarte
Blog Terra de Encanto
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Postal de Liège - Quem não gosta de uma boa sandes?

Quando desembarquei na Bélgica, já sabia que a população indígena tinha hábitos alimentares peculiares mas estava convencido que se resumiam a refeições constituídas por batata frita, mexilhão e cerveja variada. Foi por isso com uma certa incredulidade que me deparei com esta aparente invulgaridade na oferta de sandes e que, pelos vistos, é bastante concorrida durante o dia.


E acabaria como no filme?


Apesar do forte apelo da sociedade civil, só assumirei a liderança quando o povo exigir a criação de um império dos sentidos.

Sharkinho
@sharkinho no Twitter

«Alice in wonderland» - portefólio de Frank Brunner

Conjunto de 6 gravuras editado pela Golden Graphics em 1977, nº 150 de uma edição limitada de 1000, assinadas pelo autor, com a sua interpretação erótica de cenas do livro «Alice no país das maravilhas»
Quarenta anos após terem sido feitas, vêem enriquecer a minha colecção.











A colecção de arte erótica «a funda São» tem:
> 1.900 livros das temáticas do erotismo e da sexualidade, desde o ano de 1664 até aos nossos dias;
> 4.000 objectos diversos (quadros a óleo e acrílico, desenhos originais, gravuras, jogos, mecanismos e segredos, brinquedos, publicidade, artesanato, peças de design, selos, moedas, postais, calendários, antiguidades, estatuetas em diversos materiais e de diversas proveniências, etc.);
> muitas ideias para actividades complementares, loja e merchandising...

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Quem quiser investir neste projecto, pode contactar-me.

Visita a página da colecção no Facebook (e, já agora, também a minha página pessoal)

05 fevereiro 2018

The Falmer Clothing Company - «Sexta-feira à noite»

Friday Night (1991, UK)

Postalinho de 69

"Tarde cultural em 1969.
Crise académica ao rubro.
Na foto, Sardo (dos estudantes mais eruditos) lê poesia, ao longe reconhecem-se o Roupiço, o João Vilar, o Amílcar... e outros... meninos e meninas de 69...
Mas... que diabo, mesmo em luta, os estudantes diversificavam os seus pontos de vista...
Eram outros tempos...
A «revolução» estudantil era muito estimulante...
Andávamos todos com muita «vontade de libertação».
(Obrigado pela foto, José Barata)"
Rui M. Pato



«"Como é o seu atendimento?" e outras perguntas sem graça (2)» - Cláudia de Marchi

(...) Algo extremamente desagradável, também é a confusão que muitos moços afoitos fazem entre acompanhante e plantonista hospitalar. A gente não vive só pelo sexo! Temos família, compromissos, lazer, leituras e, inclusive, aquela coisa famosa que, em mim, só é menos “assídua” que a fome... Ah, lembrei, o sono! Ou seja, nós dormimos e não temos obrigação alguma de atender telefonema de madrugada ou antes das 06 da matina. Não temos tal obrigação e nem devemos ou precisamos nos obrigar a “funcionarmos” 24 horas por dia.
O que fazemos é um trabalho, é um oficio. Pode não estar legalmente regulamentado, mas se nós mesmas não passarmos a impor o respeito que nossa classe merece, isso ficará cada vez mais distante, afinal, a sociedade machista e hipócrita prefere fazer conosco o que domésticas preguiçosas fazem com a poeira: empurram para debaixo do tapete. O que não a torna inexistente!
Aliás, homens cavalheiros, normalmente, ligam para marcar com antecedência, inclusive quando pretendem nos encontrar após um compromisso que venha a terminar tarde da noite, por exemplo. Eu, pessoalmente, após 22h30min não atendo o celular. Antes de sexo ser divertido, antes de gozar ser melhor do que comer e dormir, ser acompanhante é uma profissão que vai muito além de deitar numa cama, chupar um pau meio sem vontade e fingir orgasmo, porque está cansada.
Ou seja, é uma profissão e requer da acompanhante o bom e velho profissionalismo e, este inclui a imposição de respeito e até o perfeccionismo, filho mais velho da boa e velha responsabilidade: se você quer clientes de qualidade, se imponha perante eles e demonstre seu profissionalismo estabelecendo seus limites de horários. Resguarde-se!
Para encerrar, outra coisa que me irrita nos contatos, o tal do “oi, meu amor”: Gente, pra que isso? Eu não gosto de ser chamada de “amor”, de “amorzinho”, de “paixão”. Que mania infame de banalizar palavras que remetem a sentimentos tão profundos! Amor eu tenho pelos meus pais e pelo meu time. (Aliás, amor eterno é só o de mãe e o de time). Ou você já viu alguém mudar de “time”? O meu Grêmio vem me causando algumas vergonhas há anos, mas não virei a casaca e ainda não preparei nenhum ataque “terrorista” às dependências do clube.
Chame sua esposa de “amor” ou até a sua “amante” (assim não confunde o nome de ambas), agora eu não sou amante de ninguém não, baby! Posso ter clientes fiéis, posso adorar a companhia de alguns deles, mas se eles tiverem por mim, o mínimo de respeito, saberão que o que faço é uma profissão e que se ficarem uma hora pagarão uma hora, se ficarem uma hora e meia pagarão o equivalente há tal tempo e se passarem a noite comigo a mesma coisa.
Por quê? Primeiro, porque pra se fidelizar comigo o cidadão haverá de ser educado, gentil e respeitoso. E segundo que, se não for assim, não funciona comigo. Eu dispenso! Se eu quisesse fazer sexo de graça e procurar um “grande amor” ou um “marido provedor” eu continuava advogando e dando aula em universidades, vivenciando paixões que, em breve, cairiam na rotina acomodada que tanto asco me causava!
Profissionalismo queridas! A gente deve ter e, se não tivermos que aprendamos a ter: “pra ontem”, minhas caras, “pra ontem”!

Simone Steffani - acompanhante de alto luxo!

«O fim da inocência» - Jana Schirmer


04 fevereiro 2018

«coisas que fascinam (208)» - bagaço amarelo

Do que me lembro quando me lembro de ti.

De um dedo cortado numa lata de atum que ias juntar a uma outra de feijão frade, mais dois ovos cozidos e alguma cebola cortada bem fininha. De me pedires um penso rápido e eu enrolar-to no indicador da mão direita que depois beijei e, por fim, de pousares a tua cabeça no meu peito e abraçares-me.
De um livro cansado na mesa de cabeceira e de um televisor neurótico na cómoda do quarto. De te pedir para baixares o som e tu me mandares calar e ler e depois, arrependida, de pousares a tua cabeça no meu peito e abraçares-me.
De um copo de vinho numa esplanada de praia e do vento que o tombou e partiu. Duma nódoa na tua saia branca e de me dizeres que ia ser difícil de a tirar, mais uma discussão com um empregado que queria que pagasses o estrago. De ti nervosa e eu a dizer para irmos embora e, por fim, de pousares a tua cabeça no meu peito e abraçares-me.
Sei que a nossa história foi curta e simples porque todos os caminhos vão dar à tua cabeça no meu peito e os teus braços à minha volta, e então tenho a certeza que foste boa. É do que me lembro quando me lembro de ti.


bagaço amarelo
Blog «Não compreendo as mulheres»

«Especial Paris & Amsterdão» - Puro Êxtase

Quando será que os meus amigos brasileiros da «Puro Êxtase» poderão fazer um «especial A funda São»?...