25 março 2018

«respostas a perguntas inexistentes (370)» - bagaço amarelo

fixe

É madrugada de um dia qualquer. Pela primeira vez em muitos dias tive uma noite de sono como as pessoas normais, aquelas que se deitam à noite e levantam de manhã para ir trabalhar, que se apaixonaram várias vezes quando tinham vinte anos, apenas uma quando tinham trinta e nenhuma depois disso ou, se o fizeram, foi num segredo tão grande que nem elas perceberam.
O Sol de Inverno percebe-me, no entanto. Talvez por isso me tenha vindo cumprimentar enquanto bebia o café da manhã na janela da cozinha. Tenho quase quarenta e cinco anos e a minha vida tropeçou enquanto subia a montanha, seja lá isso o que for. Andei aos trambolhões até parar junto a uma queda de vários metros. Foi-se o emprego, foi-se a conta bancária, foi-se o Amor também. Veio uma mão levantar-me e aqui estou eu, a tomar café na janela da cozinha.
Lá fora, numa rua pouco movimentada, um puto joga sozinho à bola chutando-a repetidamente contra a parede de um prédio. Tem piada, é mais ou menos o que eu tenho feito nos últimos anos da minha vida. Se ele olhasse agora para cima, acho que lhe fazia um sinal qualquer com a mão. Fechava-a e esticava apenas o polegar, por exemplo. Fixe.
Pondo a mão no vidro, sinto algum calor da nossa estrela. Sei que o seu tamanho é trezentas e trinta e três mil vezes o da Terra. Ainda assim, tão delicado que me vem aqui aquecer sem me incendiar ou queimar. Toca-me como se fosse um imenso monstro bom. É como o Amor. Quando acontece, claro.
É também como o sorriso da mulher que me disse precisamente isto e por quem me apaixonei durante uns minutos. Cruzámo-nos no café e ela reconheceu-me de um tempo distante. Bebemos uma cerveja e conversámos sobre as nossas montanhas e as nossas quedas. Uns minutos, talvez vinte. Uma eternidade para quem se sentia estéril até então.
Vem aí uma vida inteira, diferente do que foi até aqui. Um resto de café já secou no fundo da chávena que tenho na mão esquerda e, com a direita, faço o sinal de fixe ao miúdo que está na rua. Ele responde. Algumas pessoas normais caminham sob o mesmo Sol que eu. O que nos distingue talvez seja apenas isso: ainda me apaixono por aí. Fixe.


bagaço amarelo
Blog «Não compreendo as mulheres»

A corda

Insuflável



Os ditos eram mais que muitos e trocavam-se nos corredores durante os intervalos ou nas mesas do bar. Então já experimentaste o colchão?... E o melhor é que é insuflável, a frase que provocava a cúmplice gargalhada geral.
Mantendo a tradição ancestral de Letras as mulheres gracejavam a propósito do individuo que a troco de umas anotações das aulas, de um sorriso ou de um simples bora lá, dava o corpo ao manifesto para estudos mais aprofundados de anatomia, investigações detalhadas sobre as erupções vulcânicas masculinas ou aplicação prática do prazer orgásmico como potenciador do desenvolvimento das capacidades cognitivas.
Tinha a enorme vantagem de não ser território virgem e ninguém ir lá ao engano já que qualquer colega podia fornecer antecipadamente todos os pormenores para banir qualquer espécie de insegurança, incluindo um mapa das distâncias do pescoço ao umbigo e deste ao insuflável, a descrição da respectiva curva de nível, o gráfico de frequências e até um glossário para interpretar o significado dos sons guturais que ele emitia durante a actuação.
Já a minha avozinha dizia que quem boa cama faz, nela se deitará e cada vez me convenço mais que era um dito acertado que o homem hoje é membro da direcção de uma empresa pública.

«Estendal» - Mrzyk & Moriceau


24 março 2018

«por todas as madrugadas» - Susana Duarte

por todas as madrugadas
de gritos suspensos,
por todas as folhas pecioladas
e de raízes ocultas,

deixo a palavra

e grito.

Susana Duarte
Blog Terra de Encanto
Facebook

O canalizador, o entregador de pizzas e o professor

Um estranho no espelho

Romance erótico de Sidney Sheldon.
Mais um dos muitos livros da minha colecção.



A colecção de arte erótica «a funda São» tem:
> 1.900 livros das temáticas do erotismo e da sexualidade, desde o ano de 1664 até aos nossos dias;
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> muitas ideias para actividades complementares, loja e merchandising...

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23 março 2018

Sudan, o último macho

mais um a caminho da extinção...
Raim on Facebook

Luís Gaspar lê «Isto é amor» de Nuno Júdice

Em quem pensar, agora, senão em ti? Tu, que
me esvaziaste de coisas incertas, e trouxeste a
manhã da minha noite. É verdade que te podia
dizer: «Como é mais fácil deixar que as coisas
não mudem, sermos o que sempre fomos, mudarmos
apenas dentro de nós próprios?» Mas ensinaste-me
a sermos dois; e a ser contigo aquilo que sou,
até sermos um apenas no amor que nos une,
contra a solidão que nos divide. Mas é isto o amor:
ver-te mesmo quando te não vejo, ouvir a tua
voz que abre as fontes de todos os rios, mesmo
esse que mal corria quando por ele passámos,
subindo a margem em que descobri o sentido
de irmos contra o tempo, para ganhar o tempo
que o tempo nos rouba. Como gosto, meu amor,
de chegar antes de ti para te ver chegar: com
a surpresa dos teus cabelos, e o teu rosto de água
fresca que eu bebo, com esta sede que não passa. Tu:
a primavera luminosa da minha expectativa,
a mais certa certeza de que gosto de ti, como
gostas de mim, até ao fim do mundo que me deste.

Nuno Júdice, in ‘Pedro, Lembrando Inês’
Nuno Júdice (Mexilhoeira Grande, 29 de Abril de 1949) é um ensaísta, poeta, ficcionista e professor universitário português.
Ouçam este texto na voz d'ouro de Luís Gaspar, no Estúdio Raposa

Notas algo de novo?


«Un Homme et Une Femme» - Mário Lima




"... E Deus criou a Mulher da costela do Homem"

Mário Lima

#sandrismo - Ruim

Quando recebes mensagens género "o meu namorado está contigo?" da parceira de um grande amigo...

"Quem és? Não tenho este número"
"É a Sandra."
"Qual Sandra?"
"Rui, não tenho paciência para brincadeiras."
"Conheço umas três. Duas delas eu não posso ver à frente."
"Sandra do Tiago."
"Ah, a que eu gosto. Está tudo bem?"
"O Tiago?"
"É um gajo fixe. Cinco estrelas."
"Onde é que ele anda?"
"O Tiago não anda. Ele voa. Porque é fantástico."
"A sério, não estou com paciência. Está contigo ou não?"
"Sandra, de certa forma, não estará o Tiago sempre entre nós?"
"Estou sem paciência para as vossas merdas. O TIAGO?"
*chamada para o Tiago*
- Olha lá, seu filho da p#ta: porque é que eu tenho a Inquisição Espanhola em cima de mim? Onde é que tu estás? O que é que eu digo? ESTÁS A FAZER MERDA? SÓ PODES. CLARO QUE ESTÁS.
- Se eu te dissesse que levei nos cornos de um grupo de miúdos de treze anos, acreditas?
- Tu és ridículo. Eu trato disto com ela.

"Sandra, o Tiago está a levar no cu."
"Pronto, já vi que está contigo. Ele que me ligue quando puder."

Ruim
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