22 setembro 2018

«há um poema por escrever onde a vida alucina e uiva» - Susana Duarte

há um poema por escrever
onde a vida alucina e uiva,

onde as ondas são marés
ruivas de desalento, e o poema

decadente
se inscreve nas veias
azuis de todos os dias.

onde mora o poema,
demoram-se as aves

apátridas
e os sonhos dúbios
das mulheres. são sempre dúbios,
os sonhos das mulheres.
são azuis e são negros
e são brancos
e vermelhos,

os sonhos das mulheres.
como os poemas por escrever,
as mulheres demoram-se
nos beirais dos dias. esperam

pelas aves, pelas palavras,
pelos filhos, e por serem apenas

isso: mulheres, poemas por escrever,
apátridas como as noites
onde gatos ciciam diálogos

incompreensíveis, e caminham
sós pelas ruas de antes.

Susana Duarte
Blog Terra de Encanto
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«My Love» - Mário Lima



"Para saber que se ama, basta a ternura de um olhar"

Mário Lima

A contorcionista

Baralho de 68 cartas e regras para jogar.
A juntar-se a muitos outros jogos da minha colecção.




A colecção de arte erótica «a funda São» tem:
> 2.000 livros das temáticas do erotismo e da sexualidade, desde o ano de 1664 até aos nossos dias;
> 4.000 objectos diversos (quadros a óleo e acrílico, desenhos originais, gravuras, jogos, mecanismos e segredos, brinquedos, publicidade, artesanato, peças de design, selos, moedas, postais, calendários, antiguidades, estatuetas em diversos materiais e de diversas proveniências, etc.);
> muitas ideias para actividades complementares, loja e merchandising...

... procura parceiro [M/F]

Quem quiser investir neste projecto, pode contactar-me.

Visita a página da colecção no Facebook (e, já agora, também a minha página pessoal)

21 setembro 2018

Postalinho de Praga - 7

"Sex Machines Museum (museu das máquinas do sexo), em Praga.
Como acontece com outros museus do erotismo, tem muitas peças que eu gostaria de ter... mas a colecção de arte erótica «a funda São» também tem muitas peças que este museu não tem.
Roda sado-masoquista, bonecas sexuais e máquinas..."
São Rosas








DiciOrdinário - ainda podes ter desconto!

A promoção para comemorar os 5.000 seguidores atingidos na minha página no Facebook acabou, mas vou continuar a fazer um desconto para quem mostrar que está com a tensão (sim, sim, atenção): as encomendas que me forem feitas, em que mencionem nas observações do formulário o código de promoção que esteve em vigor até 15/9, manterão um preço especial de € 12 (com portes de envio grátis em correio normal) ou € 15,85 (se preferires o envio por correio registado).
Basta ires reler as publicações dessa altura no blog, em que indico qual é esse código promocional (que o Facebook detesta).
E, se quiseres, posso enviar-te o DiciOrdinário com uma dedicatória.


#suicidismo - Ruim





- Tens alguma camisola para eu vestir, amor?
- Tenho aqui uma que era da minha ex. Acho que te serve. Pode estar um pouco apertada. *sniff* Ainda tem o cheiro dela. Engraçado...

E depois fujam para um país sem acordo de extradição.

Ruim
no facebook

20 setembro 2018

Postalinho do Instagram

"Pêssego do Instagram de um amigo...
Beijo."
Daisy Moreirinhas


«Anemia» - Adão Iturrusgarai


A natureza sabe fazê-las

Cristais de malaquite de formato fálico, provenientes do Katanga, na República Democrática do Congo.
Para a sexão do que não é suposto ser erótico, da minha colecção.




A colecção de arte erótica «a funda São» tem:
> 2.000 livros das temáticas do erotismo e da sexualidade, desde o ano de 1664 até aos nossos dias;
> 4.000 objectos diversos (quadros a óleo e acrílico, desenhos originais, gravuras, jogos, mecanismos e segredos, brinquedos, publicidade, artesanato, peças de design, selos, moedas, postais, calendários, antiguidades, estatuetas em diversos materiais e de diversas proveniências, etc.);
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19 setembro 2018

Filhos de branco 5 - «Tiros na noite» - Mário Lima

Introito

Antes de começar só queria esclarecer uma coisa. O povo Cabinda, Ibinda ou Fiote (hoje considerado depreciativo) é um povo orgulhoso. As mulheres que eram nossas lavadeiras, não eram obrigadas por nós tropa, a serem nossa companheira de esteira. Eram porque o queriam ser. Ao contrário do que muito se vê hoje, onde se troca de um companheir@ para outr@ como quem troca de camisa, as lavadeiras eram fiéis aos seus companheiros, até que estes se iam embora.

Depois arranjavam outro. As razões já as apontei num dos temas. Como é óbvio, elas não lavavam a roupa só de um tropa, mal delas, mas sim de vários, mas só com aquele que elas achavam que seria um bom companheiro, é que tinham relações.

O mal era quando engravidavam. O tropa não assumia a paternidade, pois não era para isso que tinham sexo na esteira, e daí haver em muitas aldeias africanas (e nas cidades) muitos filhos de branco que não sabem quem é o pai. Mas isso até nos tempos atuais existe.

«Deus criou o Homem e o Português criou o Mulato»

Feito o introito, vamos ao que interessa.

Sábado na aldeia era quase sempre dia de farra. Nas tabancas, na rua, num local onde se pudesse dançar, ali estava o povo. Era maravilhoso ver os corpos dançando ao som de ritmos de Cabinda que tendo influência congolesa, nada tinha a ver com a música do resto de Angola. Ao som de Franco, artista congolês muito em voga, a terra transformava-se em pó, sobre os pés dos dançarinos

Muitos tropas iam até à aldeia aproveitando para um passo de dança e... de maka (conflito, discórdia).

A bebida escorregava pelas gargantas, quase sempre a cerveja congolesa "Primus" (bastante suave e adocicada, mas que tem que ser bebida bem gelada, escrevi eu numa carta na época).

Depois de bem bebidos, começava a confusão. Tudo por causa das mulheres, ou porque não quis dançar com eles e foi dançar com outro, ou porque se fez um convite para uma viagem até à esteira e lhe foi negado, certo é que passado um tempo, aquilo era uma confusão, com tareia de todo o tamanho.

Ouviram-se tiros na noite. Alguns aldeões vieram ter connosco ao quartel, porque havia um tropa que andava lá aos tiros.

Formou-se um grupo e fomos até à aldeia. Desse tropa nem rasto.

Como já referi, a partir de certa hora o gerador era desligado. Escuro como breu, fizemos revista às imediações e em algumas casas onde pudesse estar escondido. Dele nem vivalma.

Passamos a fazer a procura dentro do quartel. Não esquecendo que estava armado e bêbedo, todo o cuidado era pouco. Ao fim de umas horas alguém se lembrou de irmos até ao poço que ficava quase no limite do quartel e ali estava ele. Tremia que nem varas verdes. Foi algemado ao pau da bandeira e ali ficou até ao amanhecer por castigo. Depois de uns dias na prisão, retomou o seu dia a dia na Companhia.

Nunca mais tivemos problemas, com bebedeiras, com os aldeões. Foi remédio santo.

Mário Lima
Blog «A tua vontade é a tua vitória»

A aldeia de Tchinguinguili (Tando Zinze)
Foto de Filipe Quintas - Inícios de 1975


Um sábado qualquer... - «Teste 3.453»



Um sábado qualquer...

Postalinho do Norte

"Admirar o Douro"
Fernando Oliveira



18 setembro 2018

«afluentes da noite» - Susana Duarte

os afluentes da noite são ecos
soltos sobre mim. de ti, nada mais resta,
senão a imagem que guardei no corpo.
os rios que me navegavam eram, apenas,
ecos das águas, e o meu corpo
guardou-te, para te perder depois.

sobram ecos esquálidos das vozes
com que me preenchias. não ficaste e,
todavia, esperei por ti. lívida, cadáver vivo
que se desfaz em cada uma das tuas palavras,
eco adiado dos meus anseios. os afluentes
da noite são rios sem voz. perdeste os meus gritos. perdeste a foz.

nada te resta, senão olhar-me de longe.
sabes que habito outro plano, o do dia
e da luz com que prossigo, todavia,
sobre as flores submarinas. nada te resta, senão as lágrimas e o arrependimento. talvez possas ressurgir, noutras vestes,
noutros seixos. mas serás sempre a sombra,
a vida incompleta que se declina
nos lugares que já não procuro.

Susana Duarte
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