Olhei junto a ela para a vastidão da distância que cabia toda num olhar.
As almas unidas num só gozo nesse maravilhoso poema de sermos as asas que por cima de nós criavam as pontes abertas para o infinito.
Até onde a vista alcançava, fundindo-se no horizonte que abria a porta do mais além, inventávamos o Mundo. Com as cores dos nossos sorrisos, iluminado com o brilho que o sol tomava emprestado aos olhos, os teus e os meus, e com os sons das ondas que estalavam nos picos das cristas em línguas e lábios.
- Sabes que gosto cada dia mais de ti, meu amor? – Riu-se e encostou o corpo mais a mim, os cabelos negros junto à minha face que eu afagava em beijos suaves. Senti-lhe o sexo, desejoso e macio, e as formas e aromas do seu corpo de mulher a inebriar-me os sentidos. Meu Deus como eu a amo! Saibam que nunca amei um ser humano com a intensidade e querer com que me entrego a ela, com a vontade infinita de possui-la uma e outra vez, sem cansaço, sem espera. Com uma dedicação completa e desejo de mais e mais amor que me surpreenderiam não fora a sensação única de ter descoberto naquela mulher a minha predestinação como homem. Enquanto nos encostávamos bem um ao outro num mesmo abraço firme perdidos na enorme imensidão do amor, num só desejo de nunca mais sermos encontrados, deixava o espírito voar pela paisagem infinita que do cimo da falésia conquistava todo o universo.
Tenho uma relação com o mar que me vem nos genes. Nasci junto ao mar, e foi o mar o meu primeiro contacto com o infinito e com o sonho.
Lembro-me da primeira impressão que estreou o álbum interior das minhas lembranças duradouras. Há factores que nos ficam na memória com uma força tremenda. Foi o que decorreu dum acontecimento numa manhã, era eu então ainda criança de meses.
Pus-me de pé pela primeira vez na cama e pela janela aberta, descobri a imensidão do mar. Estive, sei lá quanto tempo, fitando o azul-turquesa transparente desses mares quentes do sul que se diluíam na distância em tons progressivamente mais carregados e que recortavam depois, numa linha fina, a clareza novamente azul em luz do céu.
Não guardo memórias de sons, de rostos, de cheiros ou gostos dessa idade. Nem me lembro, dessa altura da vida, sequer muito nitidamente do rosto da minha mãe, nem de coisas que aconteceram antes ou depois. Só me lembro desse mar imenso que trago na minha alma desde então e que fez de mim um solitário a navegar na vida procurando a outra alma que estivesse navegando sob a profundeza do mesmo olhar...
Olhei para ela e disse-lhe isso mesmo. Os nossos olhares gémeos, a emoção do infinito sonho lavado em espuma e azul. Beijámo-nos ternamente no alto da falésia, num pico do Mundo. Depois peguei-a ao colo e ela pôs-me os braços à volta do pescoço.
- O meu pai era marinheiro…- Segredou-me ao ouvido enquanto os sons da sua voz se misturavam com o vento de sabor a sal na sinfonia das cordas e velâmes que os fios dos seus cabelos infinitavam.
Encostámo-nos bem um ao outro, num abraço sem fim, de olhos fechados e abertos para o interior, para a mesma alma, para o mesmo desejo.
Mergulhámos no mar alto e amámo-nos toda a tarde, uma e outra vez na viagem deste veleiro sem fim rumo à Eternidade. Com a força com que o mar se entrega em orgasmos infindos contra as rochedos, onda após onda, maré após maré, num naufrágio contínuo, num eterno renascer…
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