31 maio 2013

«O Canhão» - por Quito Pereira


Antes que o preclaro António Dias, venha para aqui dizer que já pôs um penedo de Monsanto em cima da guerra, eu começo por avisar que este canhão não é um canhão. Era um homem, que tinha uma alcunha bélica – Canhão. Um militar africano, de etnia fula. Lembro-me dele, como se estivesse aqui à minha frente. Alto, quase dois metros de estatura, olhos grandes e inquietos, uma barba branca e rala e uns pés onde moravam umas botas número 48. Usava calções de Janeiro a Dezembro e nunca o vi que não fosse a rir. Um riso largo, que lhe ocupava a cara toda e uma forma muito peculiar de ver a vida. Tratava-a com desdém e dizia que era na morte que começava tudo. Talvez uma crença religiosa, que o levava a afirmar que nunca virava o peito às balas. Se lhe acertassem, era o Destino.

Como todos os homens, o Canhão tinha qualidades e defeitos. Gostava de gastronomia, por exemplo. Uma qualidade. Mas era louco por carne de macaco. Um defeito. Um clamoroso defeito. Defeito, porque não se coibia de, nas colunas militares, atirar rajadas de metralhadora para as árvores, na expectativa de ver derramados pelo chão, meia dúzia de infelizes. Era como andar a varejar azeitona num chão de oliveiras, no Alentejo. Um dia, subi ao rodado de um camião, para ficar de olhos nos olhos com ele e gritei-lhe furioso: “… ó Canhão, queres matar-nos a todos?!… Não vês que estás a denunciar a nossa posição ao inimigo…?!”. O Canhão descansou então os braços sobre o cano da arma, compôs o boné militar, deu um suspiro fundo e disse-me com os olhos no horizonte: “… mas ó furriel, aquele macaco era tão tenrinho…”. Nada a fazer…

Uma noite, ligámos a máquina do Melgueira e projetámos um filme contra a parede branca da caserna. O filme era o delírio para quem já andava meio louco. O documentário, já um tanto queimado e deteriorado de tantas vezes ser visto, mais não era que uma loira escultural, como Nosso Senhor a pôs no Mundo, a lavar um carro com uma mangueira. Lavava bem, admito. E estávamos nós a ver a esguichadela de mangueira pela centésima vez, quando entrou no abrigo o Canhão. Ao ver a preciosidade, que o mesmo é dizer, a bela “ragazza”, encostou-se a uma parede assombrado, de olhos arregalados e respiração ofegante. E riu. Riu muito e bateu palmas. A plateia acompanhava-o, metendo os dedos na boca e soltando assobios estridentes. E quando o filme acabou, depois de repetido mais dez vezes, a pedido do culto Conclave, o Canhão partiu, entusiasmado.

No dia seguinte, ao passar por ele na parada, perguntei-lhe quais tinham sido as suas impressões, sobre aquela fantástica noite de «cinema». Então, olhou para mim, voltou a rir até se engasgar e disse-me em apoteose: “ó furriel, estive toda a noite sem dormir, com a cabeça cheia de pensamentos abandalhados”. Uma qualidade…

Quito Pereira
Blog Encontro de Gerações

Prostituição - a minha história (XV)

Outono de 1999... (...) Se eu estivesse louca, pensava, ela havia de me dizer. No dia seguinte, entre chamadas, fui-lhe relatando a minha experiência e os meus pensamentos. As primeiras frases que lhe disse pareciam pesar chumbo e saírem arrastadas da minha garganta. Não conseguia interpretar bem o olhar dela mas conseguia perceber a curiosidade a crescer-lhe. Fui descontraindo no avançar da conversa e ela foi oscilando entre a estupefacção completa e a curiosidade enorme. A única prostituição de que ela tinha conhecimento era a de rua portanto imaginava que eu lhe ía relatar algo degradante, humilhante e em que as mulheres estavam completamente mal tratadas pelos proxenetas e expostas a quem quisesse ver. Colocou-me várias perguntas e fez várias exclamações revoltadas quando imaginava algo como estarmos expostas a todas as doenças, eu explicava-lhe que era com protecção, que ninguém me tinha tratado mal, que estávamos protegidas pela casa, que espreitávamos os homens antes da apresentação para vermos se não era ninguém conhecido. Depois começou a colocar-me questões práticas, quanto se ganhava, em que horário, onde... E eu percebi, percebi que ela estava a tentar convencer-se a... Percebi que não me ía dizer que eu estava louca. Percebi que é um risco contar estas coisas a uma pessoa com uma vida ainda mais complicada que a nossa, percebi que, se eu tinha do que me queixar, ela, com filhos, ainda mais teria, percebi que, maior que o risco do julgamento ou de me chamar louca, era este risco imprevisto: o de convencer alguém a alinhar na minha loucura. Mas já estava feito e ela fazia planos, já lhe tinha aberto a porta e não sabia como e se haveria de a fechar: se nós entrássemos podíamos melhorar muito a nossa vida, ela poderia dar imensas coisas aos filhos, já se considerava uma pessoa com uma liberdade sexual grande, embora não tanta, mas era apenas juntar a liberdade sexual à vida financeira, imaginava que também podíamos aprender como se faz e, depois, quando tivéssemos dinheiro suficiente, poderíamos também abrir uma casa daquelas e ganhar uma fortuna. E imaginou, imaginou, imaginou... No fim de toda a imaginação, só nos sobrou uma questão: onde? (Continua)

Creme de la creme

Quando era adolescente apaixonava-me por todas as miúdas que me pediam para lhes aplicar o bronzeador.

Ninfomaníaca



Testosterona

30 maio 2013

«Ceci n'est pas mon corps» (isto não é o meu corpo) - Dries Verhoeven

"O corpo humano começa a mostrar sinais de envelhecimento após os 20 anos de idade. A degeneração ocorre como resultado de radicais livres que atacam o corpo, os quais danificam a estrutura de ADN. As rugas são causadas por movimentos repetitivos da pele, como o acto de sorrir. O nível reduzido de elastina provoca uma maior superfície da pele (por exemplo, sob o queixo).
Os holandeses têm em média 39 anos e esta idade está a aumentar. Os modelos fotográficos profissionais mantêm-se cada vez mais jovens. Idealmente, começam as suas carreiras quando estão entre os 14 e os 19 anos de idade."


Ceci n'est pas mon corps | Dries Verhoeven from THR Visuals on Vimeo.

5ª lição

A quinta lição não é a última. Apenas se refere a uma prática, entre muitas outras, que exige treino constante e conhecimento completo dos corpos.
A vagina está predisposta a acolher qualquer pénis e desenhada de forma a proporcionar as mais perversas, deleitosas e magníficas experiências de que há memória e receber idênticos prazeres. A descida e a subida húmida e suculenta da vagina sobre o pénis é agora compassada, acelerando o ritmo de entrada e saída do pénis de acordo com o egoísmo e a urgência dos envolvidos. No entanto, a mulher não deve deixar de sentir os batimentos do órgão que tem encravado no sexo. Tem de usufruir do fogo da glande e da rigidez do corpo que a invade.
A inclinação sobre o peito masculino favorece o encontro do clítoris com os pelos púbicos do homem a que é permitido jogar com o anûs da fêmea que o cavalga. O pénis pode ser retirado, ensopado, e friccionado contra o anûs de modo a lubrificar o local interdito até ao momento.
O descontrolo masculino tem de ser previsto. Afagar, friccionar, roçar e massajar o anûs com a rigidez desesperada do pénis, não implica forçar uma entrada intempestiva (trataremos deste caso numa lição posterior). A expressão verbal do sentido (não esqueçamos que o sexo não é apenas a verbalização de onomatopeias, urros, guinchos, gemidos ou vagidos) é afrodisíaca e, ao contrário de algumas mulheres, sou de opinião que deve ser quase narrado, descrito e enunciado, toda a movimentação que se opera. - Sinto-te a latejar e a escaldar-me o corpo todo e sei que te aperto e estrangulo a vida. – Para além de vagamente poético, contrabalança a verborreia que nestes momentos somos capazes de desatar a rugir.
O sexo não tem de ser uma colecção de calões ou de pregões vociferados. O platô, quando se manifesta, é perfeitamente reconhecido.
Entranhemos o pénis, fundo, na vagina e cerremos os músculos em redor da base. Os jactos de esperma terão de rebentar o anel que aperta e o prazer é redobrado sendo redobrada a força com que são projectados na vagina. Em alternativa, mais contida, a mulher pode desembainhar o pénis e abrindo o sexo com os dedos da mão liberta, deixar que a lava embata no clítoris, friccionando o cone vulcânico de encontro ao expectante e ávido pequeno colosso. A lição está completa.
O que se vai seguir não pertence ao sumário desta aula. É bom deixar agora o improviso tomar conta do suor e do cansaço.
Camille

«Bate-papo: O Retorno» - Patife

Eu tentei. Não podem dizer que não tentei. Mas as palavras fazem-me formigueiro nos dedos e nas margens ordinárias do cérebro. O tempo, esse, é «um crime premeditado». Por isso será apenas de quando em vez e sem a fantástica interacção masturbatória que decorria nos comentários. O tempo queima tudo em nossa volta. Mas não se iludam. As palavras continuam gastas. Completamente gastas. Mais não digo, pois vocês sabem bem o que a casa gasta. Tal como eu sei o que a chacha gasta: o meu pincel. Sem mais demoras, e antes que fique com um esquentamento na gaita de tanto esfregar o besugo em vez de vos escrever porcalhices, cá vai disto, a anunciar o retorno:

Bate-papo

Isto é capaz de vos chocar, mas vou dizê-lo na mesma: aprecio mulheres tagarelas. A sério que sim. Relaxam-me. Gosto muito de as ver conversar. Umas com as outras, entenda-se. Isto a propósito de duas gajas bi-curiosas que engatei ontem à noite. Não sei se alguma vez vos disse que danço como o Fred Astaire, coisa que aparentemente deixa as mulheres à beira de um ataque de líbido. Engatei duas simultaneamente com os meus passos de dança, mas antes de sairmos do clube nocturno desataram as duas à conversa. Eu deixei-as falar, até porque assim conversam uma com a outra e sossegam-me os cornos. Fazem os preliminares da palratória e quando acharem que já chega de conversa vêm comigo para casa. E, acreditem, muito tagarelaram aquelas duas. Mas depois de as ter levado para casa e de as despir é que começaram no verdadeiro bate-papo.


Patife
Blog «fode, fode, patife»

Há emoções e... emoções

Crica para veres toda a história
A haste dramática


1 página

29 maio 2013

A Primeira Afunda São de Sempre... (versão oficial)

interpretação livre do Livro de Gênesis e em oposição
à versão da teoria evolucionista (apresentada anteriormente)
Raim on Facebook

«A arte da foda» - João

"As mulheres sabem sempre. Foder é uma arte e as mulheres sabem sempre quem está a entrar nelas. Sabem sempre se estão a fazer amor com elas, ou se as estão a foder, mesmo quando estão a foder fazendo amor. A arte da foda não é para quem quer, é para quem pode, quem consegue, quem sente. A arte da foda não é para os grandes pénis, para os musculados, para os elegantes. A arte da foda não é para o macho comum, vulgar de Lineu. Para o bárbaro, a herança do macho que perseguia bisontes. A arte da foda é para o macho que se distancia dos raciocínios da matilha, que corre e concorre para esvaziar os tomates e a seguir partir para outra. A arte da foda é para o macho que se funde nas fêmeas, que as ama nos seus detalhes, nos pequenos odores, nos pequenos toques, nas palavras cuidadas que passam dos lábios às orelhas como brisas quentes que confortam em dias frios.

A arte da foda não é foder e partir. É amar e ficar, tapar, aconchegar. É cuidar. A arte da foda é fazer vir, com mãos quentes, com corpo quente, com olhar penetrante que fala melhor e mais fundo do que o mais prolixo dos escritores. A arte da foda é soltar os corpos sem lugares comuns nem receios, ir ao encontro do que se gosta e quer, despir a máscara com que se sai da cama de manhã assim que se acorda. A arte da foda é ignorar tudo e ceder ao prazer em qualquer lugar, passe gente ou não, haja cama, mesa ou chão. Correr riscos, ficar-se ofegante, dizer-se que não se tem juízo nenhum, que se é louco, que nunca se sentiu nada assim. A arte da foda é explodir, ficar-se mais molhado do que num dia de chuva. A arte da foda é não temer o cansaço que vem depois, é antecipá-lo e sorrir, com vontade de repetir. A arte da foda é amar. Amar foder e ser fodido amando."

João
Geografia das Curvas

«conversa 1980» - bagaço amarelo

Ela - Não te sei explicar muito bem o que sinto. Estou mesmo cansada de viver com o meu marido e já não o posso ver, mas ao mesmo tempo tenho um carinho muito especial por ele e não ganho coragem para o deixar...
Eu - E umas férias sozinha, já pensaste nisso?
Ela - Já pensei... mas não sei se ele vai gostar da ideia...
Eu - Tu é que sabes. Eu acho que é sempre bom falar nessas coisas. Pôr tudo em cima da mesa, amigavelmente, e discutir. Já falaste com ele sobre isso?
Ela - Não consigo falar com ele sobre isso.
Eu - Tens que ganhar coragem...
Ela - Não é bem uma questão de coragem, é mais uma questão de oportunidade.
Eu - De oportunidade?! Vocês vivem juntos...
Ela - Vivemos... mas ele está sempre a jogar Playstation 3 na sala e eu a ver televisão no quarto...


bagaço amarelo
Blog «Não compreendo as mulheres»

Palavras para quê?

Olho nos olhos das palavras, atrevido. E elas punem-me pelo arrojo, conscientes do quanto não possuo aquilo, seja o que for, que me conceda o direito de olhá-las assim. Sorriem com desdém, fazem troça do meu atrevimento e ignoram em absoluto a minha veleidade de escriba amador e amante inferior das suas tentações demoníacas, das ilusões que estendem como um falso tapete vermelho neste branco imenso que desafia os atrevidos como eu.
Olho-as com respeito e tento usá-las a preceito mas as palavras jamais se deixam usar, rebeldes por natureza, independentes da vontade de quem se arvora capaz de as manobrar a seu bel-prazer, superiores a todas as vaidades humanas.
E a minha, ridícula aos seus olhos de fêmeas bem rodadas, de palavras muito usadas, experientes, apenas belisca ao de leve a fina cútis que as protege dos arremedos de insignificantes prosadores, elas que já serviram para descrever intensos amores ou prodígios da inteligência.

Olho nos olhos as palavras e esboço um sorriso patético, ciente da sua incomensurável superioridade que me esmaga mas não me impede de as confrontar. Absurdo, entrego-me às palavras e ofereço-lhes a rendição.

A Primeira Afunda São de Sempre...

Não foi apenas a feitura do fogo que foi descoberta por acidente..